No
dia 23 de junho de 1972,
nascia em Septème-les-Vallons
o filho de Smaïl e Malika
Zidane, imigrantes vindos da
Argélia. O menino recebeu o
nome de Zinédine Yazid Zidane, e
se tornaria em 30 anos um dos
maiores jogadores da história
do futebol mundial.
O
garoto Zinédine cresceu em
Marseille, no bairro da
Castellane, e logo em 1982
assinou contrato amador com o
US Saint-Henri, um time de um
bairro próximo ao seu,
e depois jogou ainda no SO
Septème-les-Vallons, o time
da cidade. Após participar de
um campeonato nacional de
futebol amador, Zidane
despertou o interesse da AS
Cannes, que o contratou mesmo
tendo apenas 15 anos. Sua
estréia no plantel principal
do time foi em 20 de maio de
89, aos 17 anos, contra o FC
Nantes, que foi o mesmo time
contra que Zizou marcou seu
primeiro gol na Ligue-1,
primeira divisão do futebol
francês, em 8 de fevereiro de
91. Com o rebaixamento do
Cannes em 92, Zidane despertou o
interesse do Bordeaux, que
acabou fechando sua
contratação para a temporada
92-93.
Em
seu novo clube, Zidane chegou
muito bem, marcando 10 gols em
sua primeira temporada. Ao
lado de Lizarazu e Dugarry,
Zinédine conseguiu levar os
Girondins a grandes feitos. O
'triangle bordelais', como
eram chamados os três
jogadores, devido ao
entrosamento, levou o Bordeaux
à final da Copa da UEFA em 96,
jogo este perdido para o
Bayern de Munique. Nesta
campanha, o Bordeaux eliminou
times como Milan e Bétis, e
foi a
"zebra" do certame.
Com esta excepcional campanha,
Zizou começou a atrair o
interesse dos grandes clubes
europeus, que haviam ficado
impressionados com a qualidade
do craque francês. O sortudo
que conseguiu levar o meia
francês foi a Juventus de
Turim, pagando a bagatela de
35 milhões de francos (cerca
de 5,5 milhões de euros, na
moeda atual), logo após a
derrota dos Girondins na final
da Copa da UEFA.
Sua
estréia na seleção francesa
ocorreu em 17 de agosto de 94,
contra a República Tcheca, em
Bordeaux. O meia entrou aos 18
minutos do segundo tempo,
quando a França perdia por
2x0, e marcou os dois gols que
empataram a partida, sendo o
primeiro dos dois um
verdadeiro golaço. Com
exibições sólidas e de
altíssimo nível,
o então treinador da
seleção, Aimé Jacquet,
achou em Zizou seu camisa 10
para as eliminatórias da
Euro-96 e para a Copa do Mundo
de 98, que aconteceria na
França. O uniforme n° 10
permaneceu sendo vestido por
Zinédine durante quase dez
anos, até a final da Copa do
Mundo de 2006.
Na
Juventus, Zizou
chegou depois de vários
problemas: primeiro, uma Euro
decepcionante, em que ele
jogou bem abaixo de suas
capacidades. Depois disso,
ainda sofreu um acidente de
carro, o que complicou seus três
primeiros meses de sua
primeira temporada na Juve.
Mas depois de vencer todos
esses obstáculos, o então
camisa 21 voltou a mostrar seu
futebol no mais alto nível. E
foi em sua primeira temporada
na Itália que ele ganhou seus
primeiros títulos na
carreira. Foram quatro só na
temporada 96/97: o 'scudetto',
a Copa da Itália, a Supercopa
da Europa e o Mundial de
Clubes de 96, contra o River
Plate. Em sua época de
'bianconero', ele ainda
faturou o bi-campeonato
italiano, em 98. Além de
todas essas conquistas, ele
ainda foi parte de dois
vice-campeonatos da Liga dos
Campeões, nas temporadas
96/97 e 97/98. Ao mesmo tempo
em que se firmava cada vez
mais no futebol
italiano, Zizou também
foi se colocando como
principal nome da seleção
francesa, e chegou à Copa com
status de terceiro melhor
jogador do mundo, segundo o prêmio
anual da FIFA.
A
Copa de 98
foi, certamente, o maior
marco da carreira de Zinédine
Zidane. Depois de uma
primeira fase relativamente
apagada, ele começou a
aparecer mais nas fases
decisivas - virtude maior do
verdadeiro craque. Seu
crescimento culminou com a
grande exibição na final da
Copa; uma vitória por 3x0 em
cima da seleção brasileira,
em que ele marcou dois gols e
teve participação enorme até
o final da partida. Neste ano,
Zizou foi escolhido o
melhor jogador do ano
pelas duas maiores premiações
do futebol: a Bola de Ouro,
concedida pela revista
francesa France Football, e o
título de melhor jogador do
ano da FIFA, prêmio que ele
havia chegado muito perto de
ganhar no ano anterior. Além
do título inédito
conquistado com a seleção
francesa, Zidane ainda levou o
time à conquista da Euro
2000, realizada nos Países
Baixos. A França, comandada
pelo então meia da Juventus,
foi a única seleção a
conseguir ganhar uma Copa do
Mundo e uma Euro seguidas.
Após
todo esse sucesso, Zizou
se tornou um dos primeiros galácticos
do Real Madrid. O
novo camisa 5 da equipe
merengue chegou como o
jogador mais caro do mundo (marca
que persiste até hoje):
77 milhões de euros,
e justificou cada centavo
desse preço. Com seu novo
craque - claro, ao lado de
Figo, Makélélé, Roberto
Carlos, Hierro, Casillas, Raúl
e vários outros craques -, o
Real Madrid conquistou a Liga
espanhola em 02/03 e a Liga
dos Campeões em 01/02, com um
gol simplesmente espetacular
do gênio francês, e só esse
gol deve ter valido uma boa
parte do dinheiro pago: um
cruzamento de Roberto Carlos
vindo da esquerda, que Zizou
pegou de primeira, de perna
esquerda, um golaço em plena
final. No ano seguinte, com a
chegada de Ronaldo, o time do
Real Madrid conquistou 'La
Liga' na temporada seguinte, título
que ficou marcado por ser o último
da era dos 'galácticos'. Com
as chegadas de David Beckham,
Michael Owen, e outras
estrelas, o time se tornou uma
seleção internacional, só
que ao invés de focar em mais
conquistas, parecia se
concentrar muito mais em
contratos publicitários. Com
isso, o time ficou 4 anos sem
títulos.
Esse
período foi o
"declínio" de Zinédine
Zidane. Por mais que
seu futebol continuasse fantástico,
ele começou a cair
fisicamente. Então,
consciente do fim próximo de
sua carreira, resolveu sair
por cima. E, aos 34 anos,
anunciou que a Copa do
Mundo de 2006 seria sua última
atividade como jogador
profissional, e ele não
decepcionou. Fez uma preparação
toda especial para a Copa, e
mostrou no maior torneio do
mundo porque é considerado um
dos maiores jogadores da história:
era ele quem desequilibrava no
time da França, o único
jogador que realmente pensava
no time, que lançava para os
dois pontas, Ribéry e
Malouda. A exibição de Zizou
contra o Brasil foi uma das
mais magistrais já
registradas na história do
futebol, em que ele parecia
estar flutuando em campo,
acima dos outros jogadores. Na
final, por incrível
que pareça, Zidane
perdeu a cabeça com o
zagueiro italiano Marco
Materazzi, que, supõe-se,
xingou a mãe do francês. Com
uma fúria nunca antes vista,
o gênio francês acertou uma
cabeçada no peito do
italiano, e foi expulso
sumariamente, acabando com as
chances de título francesas.
Por
mais estúpido que possa
parecer o último lance da sua
carreira, ele não
apaga em nada a sua trajetória
genial. O ex-meia do
Real Madrid está, com toda
certeza, entre os maiores da
história do esporte bretão.
É raro ver um jogador com sua
inteligência, com sua visão
de jogo e, principalmente, com
sua classe. A famosa roulette
(sua girada em cima da bola)
nunca foi praticada com tanta
perfeição por nenhum outro
jogador, e é difícil achar
um jogador com tantos lances
antológicos na carreira.
Infelizmente, não será mais
possível ver essas jogadas
geniais do monstro francês ao
vivo, o que nos resta é matar
as saudades vendo vídeos. E não
esqueçam, contem a
seus filhos e netos: "não,
eu nunca vi Pelé jogar, mas
vi Zinédine Zidane".