Há algum
tempo
venho
pensando em parar de jogar
bola, mas o que será de mim
quando pendurar as
chuteiras?
Sou um
peladeiro convícto, jogava
bola quase todo dia desde
garoto; era só chamar que
estava lá, eu e a maioria
dos meus amigos peladeiros;
não tinha tempo ruim.
Certamente a
despedida de um peladeiro
não tem a mesma comoção que
a de um jogador
profissional; o peladeiro
não ganha crônicas ou textos
em homenagem; a única
homenagem que recebe é quase
que diária: "essa é por
minha conta", diz um
companheiro do time do
boteco depois de um jogo.
Baita homenagem!!! Digna e
sincera. Muito melhor que
uma placa de agradecimento,
convenhamos.
Dizia
Falcão: "o jogador de
futebol é o único ser que
morre duas vezes: a primeira
quando para de jogar e a
segunda quando morre mesmo".
Mas o
peladeiro, na verdade, não
se despede, não morre nunca.
A idade vai chegando, o
tempo vai passando, a perna
já não responde e o que a
gente pensa, se o físico
está mal, não existe mais
espaço para o peladeiro no
futebol. Mentira.
A várzea é um
símbolo de democracia e
inclusão social. O gordo, o
magro, o velho, o novo, o
bonito, o feio, o negro, o
amarelo, o rico, o pobre
todo mundo joga, e o
peladeiro vai ganhando
sobrevida.
Se o atacante
não tem mais velocidade de
outrora, que jogue na meia,
e por aí vai: o meia vira
volante, o volante vai para
a zaga e o zagueirão vira
goleiro, e todo mundo joga,
sempre.
Os únicos
peladeiros que já vi
abandonarem a carreira
precocemente são alguns
casados que a mulher
encrenca kkkkkkk.... ou
aqueles que trabalham
demais; mas esses se
despediram de suas próprias
vidas, porque a pelada está
no sangue e a rodada de
cerveja está na alma.
A felicidade
completa do homen se
encontra no futebol, com os
amigos naquele campinho de
pelada. Se um jogador
profissional morre quando se
despede dos gramados, o
peladeiro se suicida. De
qualquer forma, um dia temos
que tomar essa decisão,
infelizmente, por não termos
mais as mínimas condições
físicas.
A cada final
de pelada, é um sacrifício
enorme para se recuperar das
dores no corpo, não consegue
nem ficar sentado sem sentir
dores e é também muito
chato vc querer fazer uma
jogada e não conseguir; o
corpo não obedece às ordens
do cérebro e vc fica com
raiva e deixa seus
companheiros de time com
raiva também.
É quando
agradecemos aos colegas por
aturarem essa fase final
nas peladas, pedir desculpas
pelos erros, os passes
errados e os gols perdidos.
Para um
boleiro de final de semana
se despedir do futebol é
cortar os própios pulsos. E
não existe homenagem para
isso.