Riviera
é um exemplo da importância
social dos clubes de Futebol
Amador no Alto Vera Cruz
Um
campo pequeno mas que já teve
a sua imensidão. A história
ro Riviera Atlético Clube
sempre esteve ligado ao lado
social, apesar de suas
dificuldades. Fundado em 1969,
o clube de futebol amador também
está ligado às lutas sociais
na tentativa de manter uma
comunidade carente longe da
violência e das drogas. O
campo perdeu espaço, mas para
a construção de uma escola e
uma avenida, beneficiando os
moradores, o que enche de
orgulho o clube do Alto Vera
Cruz, que tem como lema o amor
ao futebol e ao social.
O
atual presidente do Riviera,
Geraldo Magela, tem apenas uma
preocupação: manter seu time
com poucos recursos. Mas ele
encontra um desafio pela
frente. Próximo a seu clube
existem outros com mais
recursos e conseguem
“roubar” seus jogadores,
oferecendo dinheiro. “A
nossa comunidade é carente, não
tem condições de ajudar. Mas
a gente tanta manter os nossos
jogadores pela paixão ao
clube, incentivando-os desde a
categoria júnior, onde eu
comecei. Agora eu jogo pela
categoria sênior, sem fins
lucrativos, apenas por amor ao
futebol”.
Geraldo
Magela está empolgado com sua
nova administração, de
apenas 10 meses. Ele destacou
que tem conseguido patrocínios,
o que poderá trazer melhores
resultados neste e no próximo
ano. “Estamos em condições
delutar pelo título do
SFAC. E, com isso, estamos nos
preparando para a Copa
ItatiaiaConsegui parcerias e
patrocínios no meu ramo, eu
sou empresário e vi que
somente assim a gente consegue
alguma coisa no futebol amador
atualmente, principalmente
para manter uma boa estruturae equipe, sem que os
jogadores vão embora para
clubes que ofereçam salários,
mesmo que isso descaracterize
o futebol amador”.
Outra
luta de Geraldo é envolver a
comunidade. O trabalho social
faz parte da história do
Riviera, que cedeu terreno do
campo para a construção de
uma escola e para a finalização
da Avenida dos Andradas. “A
gente perdeu espaço, não
somente físico mas também no
futebol. Mas estamos
reconstruindo o “Galo do
Morro” (apelido do clube),
relacionando o nosso futebol
ao trabalho social. O
treinador do juvenil, Rê,
aceitou sair de um clube mais
estruturado para o Riviera
porque conhece o nosso
trabalho com as crianças.
Neste semestre, os jogadores
mais carentes ganham cestas básicas
para levar para suas casas.
Isso os mantém longe das
drogas e violência aqui
existentes. No ano que vem meu
projeto é abranger este
programa de cestas básicas
para os jogadores da categoria
amador. Hoje distribuímos 10
cestas e a expectativa é
aumentar para 25 até o final
do ano”. O Riviera também
tem uma praça de esportes,
que cede para a Prefeitura
Municipal de Belo Horizonte,
participando do Programa Dente
de Leite.
Nome
homenageia o Atlético
A fundação do Riviera
tem várias curiosidades. O
nome, por exemplo, teve dois
momentos interessantes.
Segundo o fundador José
Pimenta Gomes de Oliveira, O
“Zezinho”, na primeira
reunião, o seu colega
Pedrinho colecionava revistas.
Os primeira nomes sugeridos
foram Divinal e Brasil, mas a
revista Riviera definiu como
seria o primeiro nome. Mas o
amor ao futebol e ao Clube Atlético
Mineiro completaram o nome.
Como a maioria dos fundadores
eram atleticanos, o nome ficou
sendo Riviera Atlético Clube.
Para completar a homenagem ao
clube do coração dos
fundadores, o símbolo do
Riviera viria a ser desenhado
pelo outro fundador, Raimundo
de Carvalho Neto, o "Mundo”.
Zezinho
se emociona ao relembrar os
momentos do primeiro jogo.
“A estréia foi contra uma
forte equipe, o Santos. Pela
nossa empolgação, abrimos o
placar aos 15 segundos de
jogo. Mas logo depois, o
Santos mostrou sua força e
finalizou a partida com uma
goleada de 6 a 1. Mas isso não
nos desanimou. Continuamos em
frente, mesmo continuando a
perder. E a torcida sempre
junta, unida, mesmo para nos
criticar. Saíamos cedo de
caminhão e alguns iam de
bicicleta. Recebíamos a
torcida todas as
quintas-feiras para ensinar
como ela deveria agir,
inclusive para xingar o adversário.
Era muito bom aquele tempo.”
Outros
momentos vieram à memória de
Zezinho, como as dificuldades
para fundar o time. Ele contou
que o Riviera não tinha campo
e, para comemorar seus cinco
anos de fundação foi uma
confusão. “A diretoria não
tinha condições de comprar
material para os jogadores,
que colaboravam com um
cruzeiro e cinqüenta
centavos. Daí pudemos comprar
chuteiras e o uniforme. Mas
ainda não tínhamos campo e
queríamos fazer um torneio
comemorando os nossos cinco
anos de existência. Um time
rival ofereceu seu campo, mas,
na última hora negou. Muito
decepcionado, procurei a
diretoria do Pompéia, que,
com muita irritação, nos
cedeu o campo. Vencemos todas
as partidas e fomos campeões,
o que nos deixou muito
felizes, apesar das
dificuldades”.
O
clube filiou-se ao DFAC em
1978 e o time recebeu o troféu
da disciplina por suas atuações
em campo.
Uma
história marcada pela luta
O
Riviera sempre esteve em
contato com as ações
sociais. Mas, por duas vezes,
o estímulo pelo esporte quase
teve o seu fim. O ex-jogador e
ex-presidente Moacir Alves dos
Santos, o "Moa",
contou as principais
dificuldades que o clube viveu
durante a sua gestão.
"Eu fui o primeiro
administrador que organizou
tudo. Assumi em 1993 e os
problemas foram aparecendo. Já
tínhamos vários, mas nada
como os que eu passei. Onde
fica o campo era um brejo. Nós
tivemos que aterrá-lo. Tem
locais dele em que usamos mais
de 12 metros de aterro para
dar conta do campo. Mas havia
também um espaço melhor, de
aterro de uns dois metros de
profundidade. Isso deu muito
trabalho para nós".
Mas
as dificuldades ainda estariam
por aparecer. A Prefeitura
informou à diretoria do clube
que iria construir uma escola
no terreno e eles, segundo o
dirigente, escolheram a melhor
parte do campo. "Foi uma
luta, porque o campo seria
prejudicado e já era da
população mais carente a única
área de lazer. E a gente
preferia incentivar o esporte.
Mas como as mães pediriam
muito, porque as crianças
teriam que usar a escola mais
longe, nós negociamos. Eles
se assustaram, porque acharam
que nós não tínhamos o
registro do terreno. E tudo
teve que ser acordado. Então
eles montaram o nosso vestiário
em troca".
Aliviados
com a solução do grupo
escolar, o Riviera teve que
novamente enfrentar a
Prefeitura. Surgiria, pelo
meio do campo, a finalização
da Avenida dos Andradas.
"Foi outra etapa de
negociação e, no final,
tivemos que virar o campo de
lado, perdendo estão o espaço
da torcida. O nosso campo era
enorme, bonito e hoje todos
reclamam de como ele é
pequeno. Mas ninguém se
lembra da ajuda que nós demos
para a população, cedendo
espaço para a escola e para a
avenida. E hoje agradecemos
pela oportunidade de termos
feito um grande bem à
comunidade".
Por
outro lado, para manter o
Riviera, a ajuda também vem
da comunidade. A irmã de
Moacir, Ruth Alves dos Santos,
é a diretora geral. Mas faz
de tudo para acompanhar o time
do seu coração. "Eu sou
cozinheira, lavadeira,
diretora de patrimônio, tudo
o que aparece eu resolvo. Mas
eu gosto mesmo é de estar em
campo torcendo. Todos na minha
casa e no bairro sabem: o
domingo é para o Riviera. E
nem adianta reclamar".
Time
Feminino sofre por falta de
recursos
Este
ano, o Riviera está tentando
se recuperar de uma má fase.
A tristeza está sendo
principalmente para a equipe
feminina, que não teve condições
de participar de campeonatos
por falta de recursos. A
zagueira do time, Ana Lúcia
da Silva, está trabalhando
como responsável pelo campo.
E lamenta: "Estou
sentindo muita falta de jogar.
Principalmente porque no ano
passado fomos vice-campeãs.
Eu adoro futebol e estou no
Riviera por coração. É
triste não poder estar em
campo e eu cheguei a engordar
neste ano que não treinei.
Mas não abandonei a equipe,
estou trabalhando na
administração do
campo".
Ana
Lúcia tem suas preferências.
Mesmo não sendo atleticana,
como a maioria do clube, está
sempre torcendo ao lado dos
companheiros. "Eu sou
cruzeirense, ma quando estou
em campo sou Riviera. No
amador, o meu time é este. E
eu não me incomodo pela
maioria ser atleticana. Essas
diferenças em campo não estão
valendo. Todos
somos Riviera".
Ana
Lúcia diz que não tem
apelido, mas admitiu que é
conhecida por Lúcia Lama.
"É que eu adoro jogar na
chuva", explica.
A
rivalidade com o Cruzeiro é tão
grande que uma proposta de união
com um outro time foi
rejeitada. Moacir explica que
deixar de ser o "Galo do
Morro" é impossível.
"Estávamos para juntar
com outra equipe aqui do
bairro, o Ás de Ouro. Mas
como a maioria da diretoria
deles era cruzeirense, oposto
do nosso time, eles queriam
tirar o galinho o nosso brasão.
Mas isso é impossível de
acontecer, e acabamos
desistindo da idéia".