Da
grama ao caos - Time
amador do Pompéia enfrenta
criseque ameaça
“manchar” sua história
Por:
Rafaela
Leal de Freitas-2º período/Jornalismo
/ PUC – Maio
de 2005
O
Pompéia Futebol Clube, time
Amador fundado há 84 anos
pelos moradores do bairro de
mesmo nome passa por
dificuldades financeiras.O
time principal está parado há
4 meses. Sem técnico e
jogadores escalados, as
atividades do time estarão
suspensas até uma posição
da Coordenação da Copa
Centenário. Caso nada se
resolva, as atividades ficarão
suspensas por tempo
indeterminado.
A
situação do Pompéia não é
um caso isolado. Segundo dados
da Federação Mineira de
Futebol, cerca de 80% dos
times amadores da região
metropolitana de Belo
Horizonte encontram-se em
dificuldade para manter suas
portas abertas.
Segundo
Silas Pereira Marinho,
vice-presidente do Pompéia
Futebol Clube, o futebol de várzea,
sobretudo o Pompéia não
recebe apóio do Governo
acerca das despesas básicas
como taxas de inscrição de
campeonatos, contas de luz, água
e telefone, uniforme e lanche
após os jogos.
“Não
adianta fazer grandes instalações
se não há recursos para
manutenção”, explica
Silas.
O
vice-presidente atribui essa
crise à falta de patrocínios
e a tímida participação da
Federação Mineira de Futebol
(FMF). Fernando
Diones,
funcionário do setor de
Futebol Amador da FMF
reconhece que os recursos
destinados aos times de várzea
são deficientes.
“O
dinheiro que a Secretaria de
Esportes destina ao futebol
amador não é suficiente para
sanar as necessidades dos
times”, explica Diones.
Quanto a questão de patrocínio,
Marco Antônio Caetano de
Andrade,
editor do unico site dedicado à divulgação
do Futebol Amador no estado (www.futebolamadordeminas.com),
partilha da opinião de Silas.
“Talvez apenas 10% dos times
de várzea tenham algum patrocínio.
A falta de divulgação por
parte da imprensa, o descaso
do poder público e a pouca ou
nenhuma possibilidade de
retorno do investimento faz
com as pessoas físicas e os
empresários não se aventurem
a investir no Futebol
Amador”
arrisca Marco Antônio.
Herodes
Pacheco, um dos dirigentes do
Pompéia, destaca também a
falta de interesse dos
jogadores quanto aos times de
várzea. Segundo ele, desde
que o futebol virou um comércio
milionário, as pessoas
preferem arriscar tudo em
times profissionais. Traçando
um paralelo entre os jogadores
amadores de ontem e hoje,
Marco
Antônio arrisca dizer
que o comprometimento dos
jogadores de antes era maior
do que nos dias atuais.
“A
maioria dos atletas jogava
praticamente a vida inteira no
mesmo clube.Hoje qualquer atleta de
porte médio faz um grande número
de exigências para jogar nos
clubes. Pedem chuteiras,
cerveja depois dos jogos e até
dinheiro para jogar”,
argumenta o criador do site.
Silas,
que jogou no time do Pompéia
até 1985, acredita numa
inversão no placar.
"O
Futebol de Várzea, se Deus
quiser, terá seu valor
reconhecido", disse. Já
Marco Antônio mostra-se um
tanto quanto pessimista.
Segundo ele, o Futebol Amador
não morrerá, mas daqui
alguns anos perderá seu caráter
de várzea e as partidas serão
disputadas em clubes
particulares e condomínios
fechados.
"Os clubes
montam times razoáveis e
lutam apenas para sobreviver,
sem o objetivo de conquistar títulos.
Somente com muito amor e com
muita paixão é possível
conviver com a dura realidade
do Futebol Amador",
finaliza.
Categorias
de base
Enquanto
o time principal está parado,
o clube aposta nos times de
base. A escolinha funciona
durante os dias de semana e
atende crianças e jovens de 8
a 20 anos de idade. Nos sábados,
os alunos recebem times
infantis e juniores para
amistosos.
“Damos privilegio
as crianças carentes da região.
Elas pagam uma mensalidade
simbólica que servirá para
manter a escolinha
funcionando”, explica
Eduardo
Tinoco, um dos
diretores.
O
time Junior também se prepara
para participar do Campeonato
Junior de Belo Horizonte.
“Os jogos iam começar
domingo, dia 5, mas devido a
problemas de calendário, a
rodada foi adiada para o dia
12”, informa o técnico
Ronaldo Ferreira.
Os times de
base são mantidos graças às
mensalidades pagas pelos sócios-
colaboradores do Pompéia
Futebol Clube.
Time
tem 84 anos de história
Fundado
em 25 de abril de 1921 por
membros da tradicional família
Dutra e demais moradores do
bairro Pompéia, na Região
Leste de Belo Horizonte, o
time fez história no certame
amador de Minas Gerais.
“O
Pompéia é o único time do
Brasil, contando com os
profissionais, que ganhou uma
mesma competição 13 vezes
consecutivas” disse
Silas-,
agora não mais como
vice-presidente e sim como
ex-jogador-, em referência ao
Campeonato Amador da 1ª Divisão,
conquistado,
ininterruptamente, de 1968 a
1980.
Segundo
Silas, o clube não apostava
unicamente no futebol; havia
outras modalidades tal como
atletismo e natação.Devido essa
diversidade, o Pompéia fora
convidado a participar do
Torneio do Povo, uma espécie
de Olimpíadas municipais.
“Ganhávamos em todas as
modalidades” disse
Silas.
“Lembro-me do senhor que
anunciava os vencedores disse
em uma das 5 edições das
quais saímos vitoriosos
‘Ah, não vamos falar mais
nada não, vamos entregar tudo
pro Pompéia’”, se diverte
o ex-jogador.
Silas
também foi técnico do time
feminino na década de 80 e
garante que o Pompéia F.C foi
o percussor dessa vertente no
Brasil.
“As meninas eram
imbatíveis” orgulha-se
Silas.
“Hoje elas estão no
(time amador) Tupinambás”
explicou.
O
engenheiro aposentado Osmar
Rodrigues revelou que não
perdia um jogo no Estádio
Doutor Maximiliano Fontoura
Dutra, campo e sede do Pompéia
FC.
“O Pompéia era meu
primeiro time, torcia mais pra
ele do que pro América”
enfatiza o aposentado.
O
estigma da violência sempre
marcou o cenário do futebol
amador. Silas Pereira
rememoraas vezes em que o time,
sob ameaças de mortee seqüestrosde cônjuges e filhos,
teve que amenizar o resultado
das goleadas ainda feitas no
primeiro tempo. Durante uma
edição da Copa Sênior,
rememora Silas, o Pompéia
voltaria para o segundo tempo
com uma diferença de 5 gols.
Os jogadores e diretoria do
time adversário, o Araribá,
da Pedreira Prado Lopes,
invadiram o vestiário do time
da região leste e fizeram as
ameaças. Sem outra opção,
os jogadores tiveram que
desperdiçar propositalmente várias
chances de gol e o goleiro
falhar em alguns lances. Ao
fim do torneio, o Araribá
consagrou-se campeão.
Marco
Antônio alerta que o futuro
do Futebol Amador fica
comprometido devido a tais
incidentes.
“Ninguém mais
terá coragem para sair de
casa para ir a um campo de Futebol
Amador, sem saber se
voltará para casa, devido a
violência. Daqui a pouco
tempo, não se encontrará árbitros
para trabalhar nas partidas de
várzea, devido as constantes
agressões por eles
sofridas”, antevê.
Contudo,
mediante essa trajetória
vitoriosa do Pompéia, o América
Futebol Clube propôs uma
parceria. O elenco do Pompéia
disputaria o Campeonato
Mineiro coma camisa do time do
Horto. Os jogadores não
aceitaram.
“Queríamos jogar
com nosso nome. Poderíamos
representar o América, mas
com a camisa do Pompéia”,
finalizou Silas..
Torcida
fiel no bairro Pompéia sente
saudades dos tempos áureos
Não
é difícil de encontrar evidências
da lealdade que os moradores
do Bairro Pompéia têm com o
time de mesmo nome. Sempre se
encontra alguém que já se
envolveu de alguma forma com o
Pompéia Futebol Clube.
Taças,
fotografias, pôsteres,
recortes de jornais e tudo que
diz respeito à história do
time de futebol enfeitam as
paredes e estantes de diversos
bares do bairro. Em uma rede
de supermercados, uma parede
é dedicada a um memorial
retratando as mais vitoriosas
fases do Pompéia F.C. O
engenheiro aposentado Osmar
Rodrigues é uma das pessoas
que observa atentamente as
fotografias expostas na loja.
“Eles (os jogadores
presentes numa foto datada de
1963) eram bons. Eu
não
perdia uma partida sequer.”
“Já
está na hora do time voltar a
fazer boas campanhas, agitar o
bairro como antigamente”,
completa José Ricardo
Linhares, gerente de vendas do
supermercado.Linhares conta que,
durante a sua infância,
acompanhava os jogos do Pompéia
com o pai, Quércio Linhares,
um “torcedor roxo”, como
definiu o filho.
Já
dona Marina Gustava
Vitoriano,
77 anos é irmã do falecido
ex-meio-campista do Pompéia,
Geraldo Vitoriano, o
Gevito.
Em seus tempos de várzea,
Gevito nunca chegou a entrar
em campo; foi reserva durante
os quase dois anos em que fez
parte do elenco principal do
time. Mesmo longe de ganhar
destaque Gevito era recebido
com festa por sua família a
cada vitória conquistada pelo
Pompéia. Dona Marina era
responsável pela bacalhoada
que era saboreada por todos os
seus vizinhos da rua Campinas.
“O bairro todo parava para
comemorar os bons resultados.
Eu fazia minha parte.
Cozinhava para a rua
inteira”, lembra dona
Marina.
“Torço para que o
Pompéia volte a ser aquele
time bonito das décadas de 60
e 70. Espero ainda ter a
oportunidade de preparar
panelas e mais panelas de
bacalhau”, diverte-se.
Pompéia
Futebol Clube - Principais títulos
Campeão
Juvenil da Cidade- 1948
Bi-campeão divisionário amador – 1951/52
Primeiro Campeão da Copa Itatiaia - 1961
Campeão
Juvenil da Cidade- 73/74/76
Campeão
amador da 1ª Divisão:
1968/69/70/71/72/73/74/75/76/77/78/79/80
Campeão
do Torneio Prefeito Maurício
Campos – 1980