Futebol
Amador sofre com excesso de taxas e pede renovação na FMF
Dividas, despesas, taxas, falta de
estrutura, abuso de autoridade, vitórias, derrotas. Essa é a
rotina dos clubes de futebol amador que, apesar da grande
importância social que desenvolve, principalmente nas
comunidades mais carentes, está ameaçado pela pressão
financeira a que são submetidos. Os clubes reclamam que são
obrigados a pagar tantas taxas que seus dirigentes nem
conseguem guardar as contas de cabeça. E é no enrola e
desenrola que os clubes continuam praticando o tradicional
futebol de várzea, na base do jeitinho brasileiro.
Considerado
um dos lazeres mais baratos, acessível aos mais carentes e
que ajuda a conter a marginalidade especialmente na periferia
da cidade, o que poucos sabem é que o futebol amador tem o
custo de esporte de elite. Mas, afinal, quanto vale uma
simples partida de futebol? Muito mais do que seus próprios
dirigentes possam imaginar, pois, na maioria das vezes, eles
acabam tirando de dentro de casa para oferecer ao clube do
coração o que não tem. Revoltados com o excesso de taxas
impostas pela Federação Mineira de Futebol - FMF -, que
transformou o Departamento de Futebol Amador da Capital - DFAC
- em Setor de Futebol Amador e unificou seu caixa, dirigentes
de clubes pedem socorro e temem pelo futuro próximo do
esporte. As despesas com o futebol amador são exorbitantes e
o retorno da FMF é mínimo. Alguns dirigentes questionam a
utilização do dinheiro das taxas cobradas, reclamando da
falta de prestação de contas.
O
presidente do Riviera, Geraldo Magela, lamenta a falta de
interesse da FMF na busca de patrocinadores para o futebol
amador. Para ele, com uma fonte de renda garantida pra custear
as principais despesas dos campeonatos, os clubes teriam mais
dinheiro para investir no esporte. "A Federação Mineira
de Futebol é a segunda maior do país, ficando atrás somente
da paulista. Eles teriam que usar a força política que têm
para conseguir patrocínios e verbas para o futebol. Eu não
sou contra os diretores da Federação, mas eles estão
parados no tempo há vários anos. E como dirigente de time
amador, eu sofro na pele as dificuldades financeiras que
temos".
Geraldo
Magela acredita na renovação da federação para melhorar o
esporte. Ele criticou o funcionamento do Setor de Futebol
Amador e a falta de retorno dos que investem pagando as taxas.
"Sabemos que a Federação não tem dinheiro. Mas ela tem
que funcionar como um sindicato, tem que lutar pelos seus
filiados. Mas o problema maior é que ela não consegue
recursos e a solução seria com parceiros. Mas precisaria
mudar muita gente lá para isso acontecer. A Federação tem
que ter gente renovada, com novas intenções e deixar de
ficar parada. Esta diretoria tem que abrir caminho para
novidades. Do jeito que está, ficou inviável o futebol
amador".
Para
o dirigente, a FMF somente está se isolando das outras
entidades, o que, na sua avaliação, prejudica o esporte.
Geraldo Magela acredita que lidar com o futebol mineiro sem a
ajuda dos governos contribuirá apenas para o seu fim.
"Eu sinto que a FMF se isolou até das secretarias de
esporte municipal e estadual. "Eles não tem uma ligação
forte. Tanto é que eles preferem fazer seus próprios
torneios, ao invés de repassar recursos para a Federação.
Eu acho isto muito ruim para o futebol amador".
Presidente
do Riviera cobra prestação de contas
Os gastos com o futebol amador são mais altos do que se podia
imaginar. Os clubes não tem fins lucrativos e os que tem
campos ainda tem o alívio de arrecadar com o aluguel para os
jogos de outros clubes. O Riviera tem o seu campo e Geraldo
Magela garante que cobra de aluguel somente o que gasta com
sua manutenção. "O futebol amador está difícil mesmo
tendo um campo. A situação também pode até piorar, porque
temos os gastos com manutenção. Eu acho que este recurso
tinha que vir da Prefeitura de Belo Horizonte ou da FMF, que
poderiam arcar com o patrimônio do Futebol Amador. Nós não
cobramos aluguel, somente contamos com a contribuição para
mantermos o campo".
Geraldo
conta que a falta de investimento da FMF pode ser prejudicial
também às comunidades auxiliadas pelos clubes amadores. Com
parcerias, Geraldo analisou que os recursos que não seriam
gastos com material, por exemplo, seriam usados contra a
criminalidade. "A Federação teria que dar um jeito de
conseguir recursos sem que tudo estourasse nas mãos dos
clubes, com acontece. Desta maneira, a gente não consegue
contribuir para a comunidade. O futebol amador existe em
bairros mais carentes, onde a violência é muito Forte. Com o
futebol amador, a gente está tirando os jovens das ruas, das
drogas, ajudando famílias com o esporte. Mas sem a ajuda da
Federação, este trabalho está começando a ficar inviável".
Para
o dirigente, a Federação poderia arcar com materiais
esportivos, a partir dos patrocinadores. Ele sugere que a
iniciativa privada pode ter interesse em mostrar seu produto
com o grande número de clubes de futebol amador. Ele reclamou
ainda que a FMF não presta contas do dinheiro que arrecada
com as taxas cobradas."A Federação teria que arcar com
chuteiras, meias, calção, camisa, bola e, principalmente com
a arbitragem. E o SFAC não tem que arcar com troféus, porque
ele conseguiu convênio. Então eu questiono esta arrecadação
feita nos clubes com a cobrança de taxas. E nós nunca
soubemos qual é este retorno, que não aparece. A FMF não
presta contas dessas cobranças para a gente".
Segundo
o presidente do Ajax, taxas cobradas deveriam custear a
arbitragem
A cobrança de taxas somente pelo Setor de Futebol Amador,
o SFAC, é motivo de infelicidade para o Ajax, clube fundado
em 1974 e situado no bairro Santa Efigênia. a cobrança que
mais prejudica o clube, segundo o presidente Gilberto Eustáquio
de Souza, é a de arbitragem, que tira mais de R$600,00 por mês
do seu bolso. E o pior é que os gastos ao Ajax são
exorbitantes, já que eles não tem campo e nenhuma renda. Uma
situação difícil, mas o clube vai sobrevivendo aos trancos
e barrancos.
"Se
a gente fizer as contas, ninguém hoje teria coragem de formar
um time de futebol amador. Dá muita dor de cabeça. Nós
dividimos as tarefas entre as pessoas do clube e também os
recursos. Mas as cobranças do SFAC são as maiores e muitas
vezes nós temos que nos virar para conseguir pagar.
Principalmente a cobrança da arbitragem. Acho muito injusta
pelo retorno que nós temos, que é quase nenhum",
reclama o presidente.
Gilberto
acha que a maior dificuldade é ter que arcar com o trio de
arbitragem, pelo custo que ele tem, além do transporte. Ele
acha que este gasto deveria ser da FMF, já que os clubes
pagam outras taxas com valores que cobririam este serviço.
"Nós não temos nenhum apoio da Federação neste
sentido. Acho que as taxas que tem que ser cobradas sim, mas
algumas podem ser isentadas, principalmente para clubes que
passam por dificuldades como o Ajax. O apoio que nós temos é
da própria comunidade que arca com o que pode".
Sem
a taxa de arbitragem, Gilberto teria outros planos para os
R$240,00 que gasta mensalmente com uma categoria participando
do Campeonato do SFAC. "Se eles isentassem essa taxa, teríamos
uma grande economia e retorno pra investir. Quando não
pagamos a taxa, não jogamos e ainda perdemos os pontos. É
preciso arrumar esse dinheiro a cada jogo. Os times com
maiores problemas não agüentam. Se eu tivesse este montante
todo mês, poderia estruturar a minha equipes, que sofre com a
falta de medicamentos, com a falta de lanche para os garotos
do infantil e juvenil e teria renovado meu uniforme".
Prestação
de Contas
Gilberto também discorda do
sistema de prestação de contas da FMF, que, para ele, nunca
existiu. "A gente não tem retorno algum do que pagamos.
Nunca vimos nada de volta, como um apoio, ajuda ou ao menos
mostrar com gastam nosso dinheiro. Por isso estamos batalhando
para arrumar dinheiro sozinhos recorrendo à nossa comunidade,
que também tem seus problemas. Não tem futebol amador que agüente
mais esta situação".
Diretor
do SFAC admite que o Campeonato é caro
Por outro lado, o diretor do SFAC, Marco Artur, não vê
excesso nas taxas cobradas. Mas admite que, para os clubes de
várzea, fica caro participar de um campeonato oficial.
Entretanto, ele argumenta que, no último ano, houve modificações
na estrutura da Federação Mineira de Futebol, na qual os
setores financeiros do amador e do profissional foram
unificados, "para facilitar os processos". ele
garante, porém, que o seu setor tem contribuído isentando vários
clubes de cobranças. "Realmente não é barato ter um
clube de futebol amador. Mas porque é difícil conseguir um
patrocinador. Muitos tiram dinheiro da própria família para
bancar suas equipes. Nós cobramos as taxas para cobrir as
despesas com campeonatos, que seriam os impressos e o
pagamento dos árbitros. O SFAC sempre forneceu o troféu e as
bolas, mas este ano fizemos um convênio com a Secretaria de
Estado de Esportes, que deu a premiação. Mas como sabemos de
todas as dificuldades, quando eles pedem, a gente tem dado
desconto em algumas taxas".
Despesas
comuns aos Clubes Amadores
Transporte
de Jogadores |
R$80
a R$120,00 (cada jogo) |
Arbitragem
Categoria Júnior |
R$100,00
(cada jogo) |
Arbitragem
Categoria Juvenil |
R$80,00
(cada jogo) |
Arbitragem
Categoria Infantil |
R$70,00
(cada jogo) |
Arbitragem
Adulto |
R$120,00
(cada jogo) |
Transferência
de Jogador da RMBH |
R$2,00 |
Transferência
de jogador de Liga para RMBH, de Liga para Liga
ou do interior para RMBH |
R$20,00 |
Marcação
de Campo |
R$20,00 |
Aluguel
de Campo |
R$40,00
(variável) |
Taxa
de Filiação (anual) |
R$50,00 |
Primeira
Filiação do Setor de Futebol Amador |
R$450,00 |
Uniforme
completo (Camisa, Meião e Calção) |
R$600,00 |
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