Fonte:
Jornal
Diário da Tarde - BH
- MG
- Terça-Feira - 03/10/2006
Sênior
do Grêmio Mineiro faz sucesso
na base da amizade
O
Grêmio Mineiro hoje é um dos
clubes mais tradicionais da
cidade. Apesar de todas as
dificuldades impostas ao
futebol amador, o clube segue
firme em sua importante função
social e fez sucesso na
categoria sênior. Este ano,
é um forte candidato ao
bicampeonato. O clube, perto
de completar 60 anos de fundação,
conta com esforços de vários
voluntários, onde se destacam
o diretor Claudimar Pereira
Santos e o técnico José
Fernandes, o Mata-vaca, como
é conhecido em sua
comunidade. Os dois ressaltam
a carência da várzea e a
falta de ética de alguns
clubes, que aumentam a
dificuldade à vida de todos.
"Falam que o futebol brasileiro
é uma fábrica de jogadores,
mas essa fábrica corre o
risco de fechar", alerta
Claudimar.
O diretor esclarece
seu pensamento, dizendo que a
várzea passa por processo de
profissionalização , que
inviabiliza a existência de
algumas equipes: "Nós queríamos
montar uma equipe na categoria
amador, mas os atletas querem
dinheiro, uma cervejinha, um
agrado. Assim não tem jeito,
muitas equipes não dão conta
de bancar", garante.
Por outro lado, a comissão técnica
do Grêmio conseguiu formar
uma forte equipe na categoria
sênior , que, segundo José
Fernandes, é composta por
amigos do bairro,
compromissados com o time, o
que vem dando resultado.
O time é o atual campeão da
cidade, e este ano conseguiu
se classificar para a fase
eliminatória e já venceu o
primeiro jogo. A partida foi
contra o Letícia, terminando
em 1 a 0.
"O sênior é do nível
da Copa Itatiaia, os jogadores
são bem experientes e tudo
fica muito disputado", afirma
José, usando os resultados
como afirmação da boa equipe
que tem.
A competência do técnico não
é de hoje. José conta que em
1978, foi convidado por ninguém
menos que Telê Santana para
trabalhar no Atlético: "Eu
trabalhava em uma casa de peças
e o Telê sempre ia lá" ,
lembra.
Dirigente
trabalha por amor, mas cobra
ajuda das autoridades
"Eu
estou no amador por causa do
Grêmio, pelo meu amor pelo Grêmio", afirma Claudimar. O diretor
conta que o time se sustenta
através do dinheiro arrecado
com o aluguel do campo e de um
bar, de propriedade do clube,
em sua praça de esportes. É
o time do meu coração,
trabalho porque gosto, não
por dinheiro , completa.
Na categoria júnior, o time
foi eliminado e a falta de
interesse dos atletas foi
fator culminante neste
processo, segundo o dirigente.
No ano passado, a praça de
esportes do Grêmio foi
arrombada e teve a fiação da
rede elétrica e objetos do
bar roubados. Mas com muita
dedicação os dirigentes
conseguiram se recuperar da
situação. Para José
Fernandes, as autoridades também
deveriam dar mais apoio aos
times da várzea, que precisam
de ajuda, principalmente em
situações como essas.
Segundo Claudimar, muitos
times de tradição estão
passando por situações difíceis.
¨Agrado¨
que desagrada aos clubes
amadores
A
reclamação dos dirigentes do
Grêmio Mineiro não é fato
isolado. A situação incômoda
faz tempo e compromete a atuação
de muitos clubes da várzea
mineira. A prática de pagar a
jogadores durante as competições
vem contaminando o futebol
amador, estabelecendo uma espécie
de profissionalismo marron .
Apesar de toda a polêmica, o
que fica claro, quando se
conversa com qualquer técnico
ou dirigente amador, é que
hoje em dia está cada vez
mais difícil manter uma boa
equipe sem dar algum tipo de
incentivo aos atletas.
Ninguém quer jogar sem ter
alguma ajuda , é o que afirma
o diretor de esporte e técnico
da equipe sênior do Olaria,
de Santa Luzia, Enivaldo Damião.
O técnico conta que essa
postura dos jogadores não é
nova, e que realmente fica
complicado não ajudar alguns
atletas que moram mais longe.
Eles pedem transporte,
material, às vezes algum tipo
de agrado depois do jogo ,
conta. Porém, Enivaldo deixa
claro que o time nunca pagou
os jogadores, e que não
considera essa uma prática
justa.
O experiente técnico Alfredo
Pereira, que há 65 anos atua
no amador, vê nesses salários
distribuídos aos atletas
amadores a principal diferença
do futebol do seu tempo para o
atual: Antigamente, o amador
era feito com amor e paixão
pelo esporte, hoje não é
assim , afirma. Alfredo diz
que é totalmente contrário
às equipes que pagam
jogadores, ressaltando que
isso cria uma divisão no
amador, que acaba dificultando
a estabilidade e a ascensão
de equipes que não têm
dinheiro.
De acordo com o artigo 280
do CBDF, efetuar pagamento
a atleta amador é proibido,
podendo levar o clube a pagar
multa de R$ 120 a R$ 600. O
jogador pode ser declarado
profissional e impedido de
atuar em competições pelo
prazo de seis meses.