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Cobrança de taxa de fiscalização dos campos de várzea provoca revolta dos dirigentes

Quem acompanha o futebol amador na capital conhece de perto as condições precárias dos campos. A falta de arrecadação é um problema comum à maioria, que subsiste graças ao esforço de alguns abnegados. Como se já não bastasse todo o sofrimento, além do abandono dos clubes e dos estádios, a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte está cobrando uma taxa batizada de Taxa de Fiscalização, Localização e Funcionamento , que está levando os clubes ao desespero.

Questionada sobre a legalidade da taxa, a assessoria da Prefeitura de Belo Horizonte não soube precisar em qual lei a cobrança estaria embasada. De forma confusa, somente soube informar que as associações não pagam sobre o evento, mas sobre o espaço utilizado por elas, além da fiscalização nos campos por parte da PBH.

A assessoria comparou a taxa como a de um alvará de funcionamento em um comércio, mesmo sendo os clubes de futebol amador entidades sem fins lucrativos, obrigadas a prestar serviços sociais. A assessoria ainda informou que os clubes, como associações ou movimentos sociais, podem ser isentos de impostos, mas não de taxas. Os valores da cobrança são baseados na Unidade Financeira UFPBH, adotada pela Prefeitura. Em espaços até 500m², são cobradas 20 UFPBH, cerca de R$ 600,00, além de uma Unidade a cada 100m excedentes. Cada Unidade equivale a R$ 30,00, e a cobrança é feita em até 8 parcelas fixas, sem correção ou juros. A assessoria entende que, se algum clube está devendo cerca de R$ 30 mil, como é o caso do Pompéia, o montante refere-se a cobranças anteriores não pagas, que levaram o clube para dívida ativa.

Tal possibilidade é contestada pelo vereador Wádson Lima: A taxa é cobrada quando um representante de algum clube vai à Prefeitura e solicita um alvará, ou outro documento. Neste momento, é constatado que o clube não possui alvará e o valor é cobrado de forma retroativa há cinco anos, o máximo permitido por lei , esclarece.

O vereador ainda considera a cobrança injusta, apesar de legal: Uma coisa é a legalidade que existe, outra é nós mostrarmos à PBH a importância dos clubes de futebol amador, além disso eles não têm como pagar, pois a prefeitura não permite a colocação de placas de publicidade e não são cobrados ingressos , disse.

Wádson ainda denuncia que a dívida do Santa Cruz, por exemplo, que chegou a R$ 49mil, estava sendo cobrada sobre uma área de 50mil m². Eles juntaram o campo do Santa Cruz, o campo do Cachoeirinha e um terreno ao lado, que já está sendo invadido por falta de fiscalização da própria Prefeitura. Mesmo depois da correção e da redução, o valor caiu para cerca de R$ 8 mil, muito alto para um clube amador pagar , protestou. Tanto não existe fiscalização, que o campo do Saudade, conforme foi denunciado pelo DIÁRIO DA TARDE, em 15 de setembro, está em condições precárias desde as chuvas de janeiro , exemplificou o vereador, que ameaça: Vamos tentar o término da cobrança de forma amistosa, com política. Se não obtivermos sucesso, tomaremos algumas medidas extremas, como ir para a porta da Prefeitura, além de acabar com projetos sociais implementados .

Pompéia

O também vereador e presidente do Pompéia, Léo Burguês, afirma que, apesar de a taxa existir há vários anos, nunca havia sido cobrada de seu clube. O Pompéia tem 90 anos, e só agora começaram a cobrar esta taxa? É totalmente injusto. Além disso, do montante da minha dívida (R$ 36mil), cerca de R$ 30 mil são retroativos há cinco anos , reclama.

Léo Burguês contesta a principal motivação da taxa a fiscalização nos campos -, não existir na prática. Eu estou em final de mandato, depois de três anos. Durante todo este período, nunca recebi ninguém da Prefeitura ou da Vigilância Sanitária no campo para fiscalizar. Além disso, temos vários projetos sociais no Pompéia e nunca recebemos um cadarço de ajuda da Prefeitura. Alguns campos estão em bom estado graças aos diretores, que colocam dinheiro do seu bolso .

O vereador revela que esta seria uma forma de a Prefeitura colocar em prática sua idéia dos conselhos gestores, na qual clubes de uma mesma região, que não possui estádio, mandarem seus jogos no mesmo campo. Os clubes podem até não acabar, mas passarão para a administração pública. A Prefeitura quebra alguns clubes e assume a administração. Não sou contra os conselhos gestores, mas devem ser feitos de forma justa, implantados nos campos de propriedade da Prefeitura, e não nos campos particulares .

O dirigente ainda acrescenta que entrou com um projeto de lei, em julho do ano passado, para tentar acabar com a cobrança. Ele está nos tramites finais, e deve ser aprovado na Câmara Municipal. Se for vetado pelo prefeito, tentaremos derrubar o veto, com muita conversa e negociação. O importante é frisar que, para os clubes, a taxa é um valor muito alto, mas para a Prefeitura não é nada .

O Setor de Futebol Amador da Capital (SFAC), da Federação Mineira de Futebol, informa que, em Belo Horizonte, existem 77 campos, sendo 63 alambrados e 14 abertos, e maioria de propriedade dos clubes.

 

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