Descaso
do Poder Público transforma campos de Várzea em armadilhas
para usuários
Jogar futebol nos campos de Várzea
de Belo Horizonte está cada vez mais difícil. Vestiários
sem teto, alambrados quebrados e gols sem traves. Esta é a
atual situação de vários campos da capital mineira,
esquecidos pelo poder público. Sem recursos para uma manutenção
mínima, os clubes tem se virado como podem. Mas, como as
dificuldades financeiras do futebol amador são grandes, a
manutenção dos campos acabam ficando para trás nas
prioridades. Outro problema, além da manutenção, é achar
um responsável pelo patrimônio público. Os clubes lutam
pelo espaço público, que não é deles, mas a
responsabilidade e
o gasto com as reformas ficam em suas mãos.
O
campo do Alvorada é um exemplo entre vários outros
abandonados. Local, inclusive, de uso de drogas, segundo
acusam os dirigentes do clube, o vestiário está sem água e
iluminação. Mas a principal preocupação do diretor de
esportes do clube, Wellerson Fabiano Januário, o “Beiça”,
é o risco de o vestiário despencar em cima de alguém. “O
local está para desabar e pode machucar algumas de nossas
crianças, que jogam nas categorias de base. O problema lá é
grave, estamos sem um teto decente. Então, quando chove fica
tudo molhado, os uniformes, os troféus, os equipamentos. Está
impossível trabalhar no campo”, reclama.
Wellerson
disse que está ciente das mudanças administrativas da
Prefeitura e que já recorreu a todos que pode. Ele explica
que pelo menos há quinze anos, o campo, construído em 1986,
não passa por uma reforma. “Eu sei que a Secretaria de
Esportes não tem mais a responsabilidade de fazer este tipo
de obras. Fui informado por um documento que recebi do próprio
secretário. Procurei a regional responsável, eles estiveram
aqui e fizeram uma vistoria. O resultado é que a situação
é mesmo grave, mas ainda não tive retorno deles. Quando eu
procuro, eles alegam que estão aguardando a liberação do
dinheiro”.
O
diretor disse que está desesperado, pois o clube vive
dificuldades financeiras, além de um crise administrativa.
Ele teme que o campo seja “barrado” nos próximos
campeonatos. “Este
é o único lazer que a nossa comunidade tem. Acho um absurdo
este descaso da Prefeitura. Se eles querem fazer competições,
eles tem que dar um jeito de arrumar os campos. O nosso
trabalho aqui é sério, estamos trabalhando contra a violência
e as drogas, com as nossas crianças praticando esporte. O que
eu posso fazer, eu faço. O campo e o vestiário estão
jogados às traças, mas são limpos e todos da comunidade
usam este espaço. Mas se houver alguma vítima lá, será um
caso lamentável para o esporte de Belo Horizonte”.
Secretário
Enilson Heiderick diz que manutenção dos campos é com as
regionais e com os clubes
O secretário municipal de
Esportes, Enilson Heiderick, lamenta não ter mais o poder de
realizar obras de reformas nos campos amadores, com era feito
antes da Reforma Administrativa da Prefeitura de Belo
Horizonte. Ele explica que, com a descentralização, as
Regionais ficaram responsabilizadas pelos campos e obras públicas
nos bairros. “Eu não tenho mais como arcar com as manutenções
dos campos. A Secretaria Municipal de Esportes tem a
responsabilidade da política do esporte, oferecendo eventos e
fazendo a sua administração. Quando eu tenho essas demandas
aqui, tenho que repassá-las à regional responsável”.
Heiderick
conta ainda que, antes da reforma, a Secretaria tinha um tipo
de fundo, O SOS Futebol Amador, especialmente preparado para
estes problemas de manutenção. Ele explicou que era com
estes recursos que as manutenções eram realizadas, o que
facilitava o processo. “A gente tinha essa “rubrica”, orçada
pela Prefeitura, para fazer a manutenção e os pequenos
reparos. Os dirigentes chegavam aqui e mostravam o que
precisavam. Eu consultava a rubrica, e se tivesse recurso,
fazia a obra. Mas com a descentralização e com o decreto
10710, fiquei impossibilitado de dar continiuidade a este
programa”.
Por
outro lado, o secretário acredita que não é somente a PBH
que tem que arcar com os gastos. Ele justifica a falta de
manutenção de vários campos, alegando que esta
responsabilidade seria dos clubes e da comunidade. “A
Prefeitura entrega tudo bem feito, o campo completo. E fica
acertado que o gerenciamento é da comunidade e dos clubes. Não
vai adiantar nada se a gente faz a reforma e poucos dias
depois eles mesmo destroem por falta de cuidados. Nós temos vários
exemplos de clubes que tratam muito bem os seus campos, com a
ajuda da comunidade. Mas é preciso a conscientização deles.
Outro problema que eu enfrento são os dirigentes. Eles acham
que o campo é deles e não é. O terreno é da Prefeitura e a
comunidade pode usar quando quiser, assim como a
Secretaria”.
Dificuldades
Heiderick acrescentou que tem
tido problemas para implantar o Conselho Permanente do Usuário,
o CPU, nos campos mais antigos. De acordo com o secretário,
este programa alerta sobre as responsabilidades da comunidade
quanto à área de lazer e sobre o seu uso e administração.
Ele adiantou que, onde o Conselho está implantado, os campos
estão em boas condições. “O Conselho é uma forma de
democratizar este espaço, mas sem se esquecer do time que
batalhou por ele. Com o programa, ficam estabelecidos horários
de uso dos clubes e da comunidade, já que havia o problema de
uso dos campos. Alguns clubes não deixam as pessoas usar os
campos, que são espaços públicos. E com a administração
da comunidade, os campos são mais bem tratados. Mas esses
Conselhos estão somente nos campos mais novos, onde foi feito
este acordo para a sua construção. Mas a dificuldade em
fazer isso com os clubes tradicionais, mais antigos, é
grande. Eles não aceitam”.
Dirigente
do Riviera avisa que a comunidade se lembrará dos problemas
nas eleições municipais
Mesmo com recurso de patrocinador
e do próprio bolso, Geraldo Magela tem encontrado
dificuldades para fazer a manutenção do campo do Riviera.
Ele está indignado com a situação em que o futebol amador
se encontra e avisa que a sua comunidade se lembrará disso
nas próximas eleições municipais. “O meu campo estava
interditado para campeonatos no ano passado. O alambrado
estava quebrado, a quadra esburacada e sem traves, o vestiário
arrebentado. Não tinha um cano para passagem de água e luz.
Então, eu mesmo gastei R$ 2.500,00 em uma minireforma para
conseguir enquadrá-lo em campeonatos. Nos vamos nos lembrar
dessas condições quando chegarem as eleições”, avisa.
Outra
crítica de Geraldo Magela é quanto às prioridades de
reformas em seu bairro, o Alto Vera Cruz. Ele conta que foi o
primeiro a fazer o pedido de manutenção na Regional Leste,
por ser o único clube que cede espaços para os programas da
Prefeitura, mas outros dois campos foram atendidos na frente.
“Eles me prometeram que a minha reforma seria prioritária,
devido aos Programas Dente de Leite e outros da comunidade que
são feitos aqui no Riviera. Mas eles se esqueceram disso e
reformaram o campo do Mineirinho e um outro também próximo
na minha frente e alegaram que estão sem recursos. Acho isso
muito injusto. O Futebol Amador está abandonado pelo governo
municipal”.
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