Frustração e medo
atingem o Campeonato Amador de
Uberlândia
Após episódio de
violência em jogo no último domingo,
a tradicional competição
uberlandense perdeu parte do brilho
A expectativa para a
manhã deste domingo era de um
estádio Airton Borges lotado para a
primeira final da Divisão Especial
do Campeonato Amador, porém, para a
tristeza dos torcedores e amantes da
competição, a expectativa se
transformou em frustração e medo.
A reportagem do
Diário do Comércio tentou contato
com vários torcedores e dirigentes
de equipes, mas em raros casos
aconteceram manifestações sobre os
acontecimentos do último domingo
(19/11),
quando torcedores do Luizote
invadiram o campo de jogo para
agredir ao árbitro da partida, João
de Souza Filho.
Nos bastidores, em
conversas com pessoas ligadas ao
futebol amador, que não quiseram se
identificar, correm informações e
relatos de que alguns torcedores do
Luizote estariam ameaçando o árbitro
João de Souza.
A nossa reportagem
entrou em contato com juiz de
futebol. João de Souza pediu para
não dar entrevista neste momento,
mas disse que, em breve, irá se
pronunciar em forma de nota sobre o
ocorrido.
CASO
No último domingo
(19/11),
na segunda partida da rodada dupla
das semifinais, no Estádio Airton
Borges, Tabajara e Luizote faziam um
jogo equilibrado que caminhava para
um empate sem gols, o que daria a
classificação ao Luizote para final,
diante do Tocantins, que na primeira
partida venceu o voluntários por
2 a 1.
Depois de agregar
cinco minutos além do tempo
regulamentar, João de Souza ainda
acresceu mais um minuto devido às
outras paralizações no jogo.
Justamente neste acréscimo saiu o
gol da vitória do Tabajara
(1 a 0).
O resultado levaria a decisão da
vaga para as penalidades máximas,
motivo da revolta dos torcedores do
Luizote, que invadiram o gramado do
Airton Borges para agredir o juiz da
partida, jogadores e até dirigentes
da
Liga
Uberlandense de Futebol
(LUF).
O caos só não foi maior devido à
rápida ação da Polícia Militar.
LUF e TJD
No final da tarde da
última quarta-feira
(22/11),
a LUF publicou nota oficial em seu
site, na qual passou a
responsabilidade de decisão do caso
para o Tribunal de Justiça
Desportiva (TJD) da entidade, que
está analisando a sumula da partida
e toda os fatos ocorridos, para
dessa forma tomar uma decisão de
como será conhecido o adversário do
Tocantins na final da competição. A
primeira partida deverá acontecer no
dia 3 de dezembro.
“Quanto à decisão
sobre o resultado da partida ora
suspensa, a LUF, amparada pelo
Regulamento da Competição em seu
artigo 22, aguardará o julgamento do
processo correspondente pelo
Tribunal de Justiça Desportiva de
Uberlândia (TJDU) para que possa
adotar as medidas cabíveis. Por fim,
independente do teor da decisão a
ser proferida pelo TJDU, a LUF
antecipa que respeitará e acatará
integralmente o pronunciamento feito
pelo Tribunal, por confiar na lisura
e imparcialidade deste órgão
julgador e espera que fatos desta
natureza jamais possam ganhar
destaque naquele que é considerado o
melhor campeonato de futebol amador
do país”, informa a nota.
Por parte da LUF, até
a finalização desta edição, o único
a se manifestar sobre o ocorrido foi
o vice-presidente da entidade,
Ricardo Graciano. Bastante sucinto
em suas palavras, na edição do
Diário do Comércio da última
quarta-feira (22) ele já antecipava
que a responsabilidade da decisão
estaria nas mãos do TJD. “Essa
decisão certamente demandará certo
tempo. Jogo no domingo (26), pode
esquecer".
O QUE PODE ACONTECER
O artigo 205,
parágrafo primeiro do Código
Brasileiro de Justiça Desportiva
(CBJD) define que a entidade que
impedir o prosseguimento de uma
partida (caso do Luizote), seja por
causa da torcida, evitando a
cobrança da penalidade prevista no
regulamento, é declarada perdedora.
Já o artigo 22 do
regulamento da Divisão Especial do
Campeonato Amador também diz que a
equipe causadora da confusão deverá
ser punida com a perda da partida.
Sendo assim, como o Luizote venceu o
primeiro jogo, em teoria, haverá a
necessidade de cobrança das
penalidades.
OPINIÕES
Profissionais e
torcedores dividem decepção
O treinador do
Tabajara, Celivaldo Silva, o Pezão,
afirmou que, em 30 anos envolvido
com o Futebol Amador, o jogo de
domingo passado foi o fato mais
assustador presenciado por ele.
“Independentemente da decisão que
sairá, estou pensando seriamente em
abandonar o amador. Tive que sair em
um carro de um amigo, porque pessoas
estavam vigiando o meu carro para
que eu não saísse. O Tabajara não
tem culpa de nada e não merecíamos
passar pelo o que passamos”,
disse.
Já o técnico do
Luizote, Wisner Dantas,
também lamentou o fato e disse ter
sido pego de surpresa. Ele ainda
defende que os pênaltis sejam
batidos para haver um vencedor
dentro de campo.
“Ainda estamos tentando entender o
que ocorreu. Não conseguimos
controlar o ímpeto do ser humano,
principalmente na multidão. O jogo
ocorreu dentro da normalidade até
que tudo perdeu o controle. As
agremiações não têm culpa e o
campeonato não pode ser manchado por
isso. Por esse motivo, defendo que
os pênaltis sejam batidos”,
ressaltou Dantas.
No outro lado da
decisão, apenas aguardando o
desenrolar da situação, o
treinador do Tocantins, Guilherme
Ferreira,
espera que o fato sirva de lição
para que nunca mais volte a se
repetir no Futebol Amador.
“A gente que respira o Futebol
Amador sempre quer o melhor,
principalmente pelo impacto social.
Estamos felizes por estar na final,
mas muito tristes pelo episódio
lamentável, como estaria
independentemente de quem fossem as
equipes envolvidas”,
disse Ferreira, que falou ainda
sobre o que pensa do sentido real do
amador uberlandense.
“O legal do amador é sair para se
divertir, levar a família, e não
para ficar com medo e se machucar. É
muito triste tudo o que aconteceu.
Espero que sirva de lição e que os
órgãos competentes possam punir os
envolvidos e culpados. Os jogos
precisam acontecer ali naquela
estrutura maravilhosa, e não pode
deixar com que vândalos tomem conta
do espetáculo”,
afirmou Ferreira.
O
narrador Donizete Moreira,
da
Rádio América AM,
que há dez anos cobre o esporte na
cidade, entende que é preciso
investir mais na estrutura da
competição.
“Na minha opinião, o
nosso Futebol Amador paga o preço,
hoje, de ser um dos melhores do
Brasil. Existe um investimento em
boa parte das equipes, digamos de
sete a oito equipes que têm
estrutura de times profissionais. A
rivalidade cresceu entre essas
equipes de tal modo que se tornou um
caminho sem volta. Todo ano temos
grandes jogos nas semifinais e final
da competição. Muito se investe em
atletas, que são buscados em outras
praças, mas esquecem de que um
trabalho de conscientização em
conjunto".
TORCEDOR
O
músico Rogério Fagundes
é daqueles que fazem questão de
acordar todas as manhãs de domingo
para ir até algum dos poliesportivos
da cidade. Para ele, a Divisão
Especial deste ano ficou manchada e
já perdeu o seu brilho.
“Eu estava comentando um dia antes
das semifinais que o Amador deste
ano estava sendo o melhor que já
acompanhei em mais de 20 anos, isso
pelos jogadores e grandes jogos que
eu vi. Mas este ato impensado de
alguns torcedores manchou uma
competição que estava maravilhosa. É
uma pena, pois para muitos iguais a
mim, a competição acabou".