Se
hoje as cifras que cercam o futebol profissional giram na casa dos
milhões, não de reais, mas de dólares, o velho e tradicional
futebol de várzea sobrevive praticamente sem nenhum dinheiro ou
apoio. São times antigos, alguns com mais de cinco décadas de
existência, que persistem única e exclusivamente devido à luta
e dedicação de seus dirigentes, jogadores e torcedores. É o
caso do Ouro Preto, que chega pela primeira vez à final do Módulo
B da Copa Centenário.
Fundado em 1980 devido à paixão de um grupo de amigos pelo
futebol, o time do bairro de mesmo nome ainda não possui sequer
um local para treinar e mandar seus jogos. Para colocar em ação
seu elenco, o Ouro Preto já alugou campos diversas vezes. São os
andarilhos da várzea, obrigados a atuar em qualquer campo que
esteja disponível.
No profissional a troca de camisas entre jogadores é algo
natural, não? Pois no amador, além do uniforme ser algo
extremamente difícil de se conseguir, a manutenção das camisas
é de responsabilidade de cada um.
“No
nosso time, cada jogador tem que pagar R$ 5,00 para ajudar na
lavagem do uniforme”,
conta Jaime Rodrigues, jogador e dirigente do Ouro Preto.
Funções
Aliás, essa é outra característica bastante comum na várzea, o
acúmulo de funções. Presidentes são também técnicos, técnicos
são jogadores, e jogadores podem ser até mesmo presidentes. Algo
impensável para a suposta organização do futebol profissional.
Dedicação
total
Os
grandes times viajam em aviões, alguns em vôos fretados, ou então
em ônibus que esbanjam conforto. Bem, na várzea, cada um tem que
se virar para chegar ao local do jogo. No Ouro Preto, quem tem
carro ajuda o outro.
“Todo
domingo saio do Bairro Nacional, atravesso a cidade e pego um
jogador no Minas Shopping”, relata
Rodrigues.
O esforço não é em vão, pois esse privilegiado é um dos
melhores do time. A torcida também tem que ser levada de um lado
a outro, campo a campo, com transporte oferecido pelo clube.
Com tantas dificuldades, o que leva alguém a empenhar seu esforço
e investir o próprio dinheiro num time amador de futebol? A
resposta sai rápida da boca de Jaime:
“Compensa
pelo gosto que a gente tem de se encontrar com os amigos. Na várzea,
somos uma família”,
orgulha-se o jogador-cartola, que conclui com um lema que rege o
esporte bretão praticado na várzea: “Abandonar o barco,
nunca!”.