Árbitro é baleado no campo da Barragem Santa Lúcia
Sonho de criança vira
tragédia para Wilson do Carmo, que levou quatro tiros após
vitória do Reunidos sobre o Santa Lúcia
Os árbitros paralisaram suas atividades no mês passado, por
falta de segurança nos campos de várzea. O temor das ameaças
contra suas vidas daqueles, gerado pela sucessão de agressões
físicas, acabou se confirmando ontem à tarde, quando o árbitro
Wilson do Carmo (de 27 anos, residente na rua Santa Amélia,
no bairro São Marcos), foi friamente atingido por cinco
tiros, no campo da Barragem do Santa Lúcia, que ironicamente
fica ao lado do 22º Batalhão da Polícia Militar, no bairro
de mesmo nome.
O árbitro, atingido no abdômen por três balas, uma delas
ainda alojada, e uma outra que atingiu o antebraço, foi
levado em estado grave para o Pronto Socorro do Hospital João
XXIII. Wilson do Carmo tinha acabado de apitar a partida entre
o Santa Lúcia e Reunidos do Alto dos Pinheiros, pela Divisão
Especial do Campeonato Amador da cidade. O Santa Lúcia havia
perdido por 1 a 0 e, quando o trio de arbitragem caminhava
para o vestiário, foi surpreendido por um rapaz que sacou uma
arma e disparou a queima roupa.
O assistente Leandro Salvador, de 23 anos, disse que não deu
tempo nem de ver o rosto da pessoa que atirou. Ele lamenta que
mesmo trabalhando ao lado do 22º BPM, não tiveram nenhum
tipo de segurança. A assistência, por parte do policiamento
deste batalhão, só aconteceu depois que Wilson do Carmo foi
baleada. A polícia chegou a ver dois rapazes fugindo do
local, um deles moreno e usando camisa amarela, e um outro de
camisa branca.
Ainda segundo as informações de Leandro Salvador, o primeiro
tiro pegou no chão, o que deu a impressão de se tratar de bombinhas
, mas as outras quatro balas atingiram seu companheiro.
Assustado e admitindo ter medo, Leandro disse que, ao ver o
colega sangrando, sentiu uma sensação de constrangimento e
revolta . Leandro reclamou da falta de segurança nos campos e
disse que nunca tinha sido vítima de agressão, mas diante do
que presenciou na Barragem Santa Lúcia vai parar de trabalhar
como assistente, pois tem apenas 18 meses no Quadro de Árbitros
da FMF. Não adiante trabalhar deste jeito, sem segurança. A
nossa expectativa era de sempre haver segurança nos campo, e
não só o carro da polícia passar por eles, deixando o trio
às voltas com a insegurança. A FMF devia ter tomado providências,
além de todos os envolvidos no esporte , criticou o árbitro-assistente.
A paralisação dos árbitros no mês passado teve uma duração
de 30 dias, quando exigiram providências. Os árbitros
cobraram policiamento nos campos, o que foi prometido. Mas,
pelo ocorrido no da Barragem Santa Lúcia, a segurança ficou
mesmo só na promessa.
Na portaria do João XXIII, a esposa do árbitro Wilson do
Carmo, Flaviana Braga do Carmo (22 anos), esperava com
ansiedade informações do marido que estava sendo operado no
bloco cirúrgico do hospital. Flaviana contou que o casal tem
uma filha de dois anos, Lariomar, e que sempre viu a profissão
de Wilson como muito arriscada, que por ela o marido não
deverá continuar. Ele só tem um ano de profissão, mas
depois dessa situação acho que deve parar. Em outra ocasião,
ele precisou de escolta policial para sair de um campo .
Segundo Flaviana, apitar partidas de futebol era um sonho de
juventude de seu marido: Ele procurou a FMF e, sem apoio de
ninguém, conseguiu entrar para o Quadro de Árbitros. Era o
seu sonho fazer o curso para apitar e, agora, está com a vida
em risco , afirmou desolada.
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