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Fonte - José Hailton - Presidente do Clube Atlético Ponte Itaúna - Itaúna / MG - 18/07/2005

Atletas do Clube Atlético Ponte Itaúna correm atrás do sonho de se tornar um jogador profissional

Quarta-feira, 11h20m. O treino do Clube Atlético Ponte Itaúna que deveria ter terminado há pelo menos 20 minutos vai se arrastando sob o olhar atento do técnico Zé Carlos, ex-jogador profissional e campeão pelo Cruzeiro e Guarani. Os atletas juniores se esforçam e tentam garantir uma vaga na equipe principal que irá disputar a Taça BH de Futebol Júnior, segunda competição de juniores mais importante no país. O sol quente e forte do quase meio dia, faz com que o final do treino pareça distante.

Para o atleta mais novo da equipe, o zagueiro Wellington Aparecido Rodrigues, a preocupação é outra. Depois de uma pancada na panturrilha, ele deixou o campo sentindo fortes dores e agora acompanha o treino de fora do gramado. Wellington, natural de Pará de Minas, é o típico beque da roça. Não pela sua categoria, que é refinada, mas principalmente por ter vindo do futebol rural da cidade vizinha. Aos 16 anos, o jogador já é um veterano da bola e já passou por peneiras em clubes grandes, a última delas no Atlético Mineiro.

"Fiquei ansioso e o professor pensou que eu estava brincando", conta, justificando a dispensa do alvinegro. Assim como os demais jogadores Wellington chegou ao Ponte indicado por amigos. O preparador físico da equipe, Marcinho, foi quem indicou o atleta. O treino acaba e mais jogadores vão se aproximando da reportagem. O que parecia ser uma matéria simples vai assumindo contornos maiores e novas histórias do mundo do futebol vão aparecendo. Apesar da pouca idade, os atletas já são experientes, muitos já passaram por grandes clubes ou tentaram a sorte na seleção de atletas, popularmente conhecida como peneira.

Viagem

O meia Marquinhos tem experiência de sobra e dá entrevista como um jogador profissional. Natural do Paraná, ele rodou muito pelo país atrás do sonho da bola. União Araxá, Inter de Limeira, Rio Branco de Americana, Araponga, do Paraná foram alguns dos clubes que o jogador já vestiu a camisa. Marquinhos chegou a ter uma proposta para ir jogar no Japão, mas a cilada acabou rendendo apenas um passaporte.

"Estava jogando num clube cujo dono era japonês. Ele gostou do meu futebol e queria me levar para o Japão. Eu cheguei a deixar a escola, tirei passaporte, assinei um contrato, mas na hora H ele me deixou com as malas na mão e desapareceu", lamenta.

Sonho em etapas

As histórias dos jogadores são as mesmas, assim como o jeito irreverente e o português incorreto durante as entrevistas. Muitos, apostam todas as suas fichas no Ponte Itaúna e para alguns, o clube itaunense é a última chance de se firmar como jogador e ser descoberto por um grande clube.

Deivid, chamado pelos companheiros de Bonecão, por causa da cabeça avantajada, conta que começou a jogar bola aos seis anos e agora, aos 20, tem a chance de se destacar em uma competição nacional. "Jogo bola desde os seis anos e sempre quis ser jogador de futebol. Passei por vários clubes e agora tenho a chance de disputar a Taça BH e atrair a atenção de algum clube maior", reforça o jogador que aos 20 anos disputa o último ano como júnior.

Jogar em um time do interior e de menor expressão é, para todos, é uma experiência ímpar. Zezinho, 19 anos, acredita que a cobrança será maior. O lateral jogou no Cruzeiro de Belo Horizonte e, durante o tempo em que ficou na Toca, a rotina era de treinos e muito sacrifício. Depois de três anos, o atleta foi dispensado. "Disputei a última taça BH pelo União Brumadinho, mas depois da competição o time se desfez. Fiquei decepcionado e já havia decidido largar o mundo da bola e até arrumei um emprego. Mas um amigo me indicou para o Ponte, larguei tudo e vim para Itaúna", explica o jogador de Contagem.

Ponte Itaúna recebe verba

Criado há 20 anos, só agora o Clube Atlético Ponte Itaúna saiu do amadorismo para se profissionalizar. Se ainda faltam verbas e a estrutura é pequena, sobra entusiasmo e força de vontade dos dirigentes e dos patrocinadores que acreditaram no futebol da garotada do Ponte Itaúna.

Apoiados pela Universidade de Itaúna, que cedeu o centro esportivo de treinamento para a equipe, além de patrocinar os uniformes e outros gastos, o Ponte Itaúna se profissionalizou graças ao empenho de três empresários.

Garcia, sogro do lateral do Barcelona e da Seleção Brasileira Belleti, Geraldinho, dono da Sapataria Amazonas e o advogado José Haílton dividem os gastos com o time. Em média, cada um, investe R$ 2 mil por mês, sendo que Garcia tem duas cotas, garantindo 50% do time. Segundo o presidente do Ponte, José Haílton, a idéia de profissionalizar a equipe surgiu em uma conversa com o técnico José Carlos. "O 'Zelão' me apresentou os outros empresários e decidimos investir no Ponte. Faço isso porque gosto de futebol e quero ver o nome do Ponte e de Itaúna divulgado. Não trabalho visando o lucro", ressalta.

O presidente é considerado pelos atletas mais que um cartola. Segundo eles, José Haílton é o grande incentivador e amigo do grupo. "Eu sou um 'presidente'. Procuro dar assistência aos atletas, estar sempre presente aos jogos, na concentração, enfim, em todos os locais.
Também substituo um pouco a figura do pai, já que a maioria dos atletas é de fora da cidade. É por isso que eles me consideram tanto", justifica.

Além do apoio da Universidade e dos empresários, recentemente a equipe recebeu da prefeitura R$ 20 mil para a manutenção das atividades esportivas e participação na Taça BH de Juniores. A competição será disputada em todo o Estado e contará com equipes importantes do país como Atlético, Cruzeiro, Bahia, São Paulo, entre outros.

Rotina e companheirismo

A rotina dos atletas é puxada. Treinos de manhã e à tarde, preparação física pelo menos duas vezes por semana e alguns jogadores ainda estudam a noite. No final de semana acontecem sempre muitos jogos. Tanto sacrifício, segundo eles, vale a pena. Isto porque o Ponte conseguiu se classificar para a segunda fase do Campeonato Mineiro e sonha chegar entre os melhores do país na taça BH. Atento aos movimentos e ao comportamento dos seus jogadores, o experiente técnico José Carlos diz que eles estão preparados para os desafios.

O time está dentro do esperado. Classificamos para o Campeonato Mineiro e isso é importante para dar confiança. Além da parte física e técnica trabalhamos também a parte psicológica dos atletas. Temos que dar esse suporte para que a equipe possa render", afirma.

A rotina só é quebrada dentro da concentração. Desde o início do ano, a Casa Nossa, um antigo centro de recuperação de menores, se transformou no endereço da maioria dos atletas. Entre muito pagode e partidas de videogame os atletas se divertem. "Somos um grupo muito fechado. Criamos uma amizade, não queremos ser mais do que ninguém e aqui somos uma grande família. O time é trabalhador e se tivéssemos treinando há mais tempo, poderíamos estar bem melhor" avalia o meia Renato.

 Tantos rapazes vivendo junto e todos em uma idade em que a testosterona está a mil faz com que as histórias do grupo sejam uma boa diversão. A máxima que a vida de jogador se resume a futebol, mulher e balada não é uma verdade absoluta. Eles até ensaiam algumas confissões, mas no final são todos fiéis a suas namoradas. Apenas Felipe assume. "Itaúna tem muita Maria-chuteira. É só falar que joga futebol que elas vêm querendo conversar".

O jogador, filho do ex-craque Miranda, campeão Brasileiro pelo Guarani, é a alegria da concentração. Os jogadores são unânimes em apontá-lo como o mais divertido. "Tem nada disso não. O nosso time é muito unido e é difícil ter brigas. O que eu faço é só divertir a galera para distrair um pouco," desconversa.

A inspiração para as partidas vem do pagode e das músicas evangélicas, ouvidas pelos atletas, além da injeção de ânimo do presidente do Ponte, José Hailton. "Acreditamos no trabalho e o presidente é o nosso maior incentivador. Ele é um presidente presente e que nos incentiva muito", resume o grupo. 

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