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Drogas infiltradas na várzea ameaça o futebol amador de Belo Horizonte / MG

Na última sexta-feira, o árbitro Wilson do Carmo recebeu alta do Hospital João XXIII depois de uma semana entre a vida e a morte devido aos quatro tiros sofridos no campo da Barragem Santa Lúcia, domingo passado, após o jogo entre as equipes do Principal e do Reunidos, do Alto dos Pinheiros. Os tiros foram disparados por um suposto torcedor da equipe local, mas a escalada da violência no futebol amador, segundo alguns dirigentes e autoridades estaria diretamente ligado a um adversário mortal: as drogas.

A penetração das drogas na comunidade tem gerado todo tipo de violência, que tem seu reflexo nos campos de futebol amador, onde os traficantes encontraram um ambiente propício para distribuir suas trouxinhas de maconhas, pedras de crack e papelotes de cocaína. Em algumas comunidades, o tráfico estabelece um convívio pacífico com os amantes do futebol, mantendo-se mais afastado pela ação dos dirigentes. Mas, na maioria das vezes, as barreiras não são respeitadas e relação fica perigosa.

Com as drogas surgem as armas. Assim, uma cena comum nos campos passou a ser pessoas desfilando com suas armadas. A mistura da paixão clubística com as drogas e as bebidas passou a ser o estopim da violência, que ainda ganhou um forte aliado: a falta de segurança pelo distanciamento dos policiais das praças de esportes, que, curiosamente, também reclamam de segurança para eles próprios realizarem seus trabalhos.

Na semana passada, a PM pediu à Federação Mineira de Futebol uma relação dos campos que ofereçam segurança de infra-estrutura, para avaliar o destacamento de policiais para os jogos. Neste final de semana, todos os campeonatos da FMF foram suspensos, sob alegação de falta de segurança.

Intimidação

As ameaças verbais e aquelas confusões em campo que ajudaram a construir o folclore do futebol de várzea, há muito tempo virou coisa de criança. A onda agora é intimidar exibindo forte armamento. O árbitro não pode errar contra o time da casa. Caso isto aconteça, a intimidação é certa. Já o time adversário tem que assimilar a situação desfavorável, mas se não consegue parte também para a violência contra os árbitros.

No meio do fogo cruzado, os árbitros viram alvos fáceis. Mas a situação chegou a um ponto insustentável e, por isso, clubes, Federação Mineira e árbitros cobram um mínimo de segurança nos campos. Eles sabem que sem o patrulhamento presente e constante, a pancadaria e o tiroteio são quase inevitável.

Impedimento

Em todas regiões da capital constata-se que algum dirigente já viveu situações de violência em campo. Antes do árbitro Wilson do Carmo ser baleado, um caso quase passou despercebido pelos praticantes do futebol amador. No campo do São Luís, um dirigente desafiou o tráfico que estava tomando conta da região e, assim, no dia 16 de setembro do ano passado, uma pessoa drogada disparou seis vezes contra o senhor JP. Como a agressão ocorreu depois dos jogos, à noite, não se chegou a falar muito do assunto.

O rápido atendimento de JP no Pronto Socorro do Hospital João XXIII, segundo conta o próprio dirigente, salvou a sua vida. Apenas uma bala o atingiu, mas de forma quase fatal. Sua recuperação foi lenta e ele só retornou ao campo há dois meses, atuando na formação de um núcleo de Dente-de-Leite. Cerca de 300 meninos tomam conta do espaço, para impedir que drogas invadam novamente o local.

Segundo ele, os times não têm este negócio com drogas, mas a comunidade não ajuda o clube . Seu time sempre contou com a ajuda de uma família, que se assustou com a violência e, por isso, não fazem mais parte da base do clube com medo da violência. Sua conclusão: Se a polícia se fizesse presente nos campos, não iria ter os problemas das drogas. Os clubes e os dirigentes não têm responsabilidade com este envolvimento de pessoas do tráfico no futebol de várzea .