Maior
torneio de Futebol Amador do
país promove liga entre índios
e faz reality show commusas
Há
quem diga que o amazonense não
é tão ligado em futebol
quanto os vizinhos do Pará, a
julgar pelas baixas médias de
público dos times grandes
locais. Mas o fenômeno de
atenção do torneio amador
conhecido como Peladão
derruba essa interpretação.
Com cerca de 30 mil atletas
envolvidos, a disputa acaba de
completar 40 anos como a maior
do gênero no país e
principal expressão boleira
da única sede da Copa de 2014
no Norte brasileiro.
Entre
as atrações do Peladão (Campeonato
de Peladas do Amazonas)
estão duas categorias que
contemplam a comunidade indígena,
além da novidade deste ano em
relação à batalha das
rainhas dos times. A
popularidade desta disputa
paralela é tão grande que
fez as musas estrelarem um
reality show local, na TV A
Crítica.
No
primeiro programa do gênero
no Estado, o "Peladão
a Bordo" confinou as
12 finalistas em uma embarcação
no Rio Amazonas, vigiando-as
com 15 câmeras por 24 horas
por dia. Depois de eliminatórias
diversas, a campeã foi
Juliana Soares, representante
do ASA Futebol Clube.
Segundo
a organização, não se trata
apenas de um concurso de
beleza. As musas precisam
mostrar conhecimento sobre
temas da atualidade e devem
estar presentes em datas
marcantes, caso contrário sua
equipe é eliminada (88 times foram desqualificados pela ausência da
rainha na festa de abertura do
Peladão 2012).
Por
fim, a vitória na disputa
entre as rainhas pode
"resgatar" um time já
eliminado do torneio para uma
espécie de repescagem já
perto das finais.
"Ela
poder trazer o time ao torneio
paralelo. E não vence só
pela beleza, e sim mais pela
inteligência. A gente sorteia
temas, acontecimentos da
atualidade, e elas precisam
falar sobre esses
assuntos", diz o radialista Arnaldo Santos Andrade, que está à frente da
administração do Peladão há
15 anos.
Criado
em 1972 pelo jornalista
Umberto Calderaro Filho, o
Peladão evoluiu junto com a
cidade de Manaus. De um
torneio de bairro, com desafio
entre times de rua, hoje
atende uma população de 2
milhões de habitantes.
Atualmente a disputa conta com
sete categorias: principal,
interior, Peladinho (12 a 14 anos), máster,
feminino, indígena masculino
e indígena feminino.
O
radialista Arnaldo Santos
Andrade diz que a disputa indígena
tem como principal finalidade
a inclusão social desta
comunidade, em trabalho
acompanhado por acadêmicos de
antropologia de universidades
locais. Os jogadores desta
categoria só conseguem
efetuar a inscrição mediante
apresentação do Rani (Registro Administrativo de Nascimento de
Indígenas). Na edição 2012, o torneio masculino contou com seis times,
enquanto que a disputa
feminina teve quatro equipes.
"O
trabalho é feito em cima
daqueles índios que
abandonaram as suas áreas de
vida e vieram morar em Manaus.
São cerca de 30 mil, segundo
as estatísticas da Funai
(Fundação Nacional do Índio).
A gente que ver como eles estão
vivendo, as dificuldades que
eles têm. Queremos dar uma
oportunidade. Mas eles têm
deveres e obrigações com o
regulamento", relata o administrador do
Peladão. "Queremos construir cidadania", acrescenta.
Final
do Peladão em 2009 colocou 43
mil pessoas no estádio
Em
2009 o Peladão deu uma
impressionante demonstração
de força popular ao levar
mais de 43 mil pessoas à
final no estádio Vivaldão.
Mas, com o estádio em obras
para a Copa de 2014, o torneio
precisou se adaptar, sem a
possibilidade do desfecho com
as decisões de todas as
categorias em um único dia.
Neste
mês de janeiro a disputa
principal vive seus momentos
decisivos, com os confrontos
das finais. A decisão
acontecerá em 2 de fevereiro
em um estádio de capacidade
bem menor em relação ao
Vivaldão. Por aconselhamento
da polícia local, as demais
categorias tiveram suas
conclusões descentralizadas e
já conheceram seus vencedores
em desfechos antecipados.
Este
ano a disputa contou com mais
de mil equipes (1006, precisamente),
sendo que 626 somente na categoria principal. Com quatro décadas de história,
o Peladão está consagrado na
identidade do futebol
amazonense e contribuiu para a
campanha de atrair uma sede de
2014.
"Disseram
que Manaus não gostava de
futebol. Mas a Fifa sabe o que
é o Peladão, estava na
campanha para sede da Copa. O
torneio tem uma imagem muito
grande. Estiveram aqui para
gravar reportagens a BBC de
Londres, a RAI da Itália, o
Canal 5 da França, a National
Geographic, a Discovery
Channel. Todos trabalhos em
cima do Peladão", relata o radialista
Arnaldo Santos Andrade.
Por
outro lado, atualmente o
futebol profissional do
Amazonas não conta com nenhum
representante nas três
primeiras divisões do
Brasileiro. Domesticamente,
clubes tradicionais como Fast,
Rio Negro, Nacional e São
Raimundo não conseguem mover
as massas como as finais do
Peladão. Os clássicos mais
recentes não chegaram a
atrair nem cinco mil pessoas.
A
organização do Peladão coíbe
a participação de jogadores
profissionais na categoria
principal, mas atletas que já
militaram em grandes clubes,
hoje aposentados, atuam no
campeonato. O volante Lima,
ex-São Paulo e Roma, foi um
deles.
Alguns
jogos do torneio são
transmitidos por rádios
locais, e a final já chegou a
ser exibida pela televisão.
Além
do impacto esportivo do duelo
de rainhas no torneio, outra
medida alternativa é a
possibilidade de o jogador
anular um cartão amarelo e
evitar a suspensão cedendo 50
bolas à organização. O
material é doado a crianças
de Manaus e região.
"Os
números são muitos grandes,
800 times só na cidade de
Manaus. Não é a bola só, não
é o jogo em si. É preciso
mergulhar nesse universo para
entender melhor o que é o
Peladão",
conclui o responsável pelo
torneio sobre seu gigantismo e
impacto na cultura futebolística
local.
Torneio mexicano é o
maior amador do mundo
O
Peladão fechou a edição 2011
com 29.977
atletas inscritos e 2.718
jogos disputados. Apesar de
seu gigantismo, o torneio do
Amazonas ainda fica atrás da
Copa Telmex, disputa
reconhecida pelo Guinness
Book
(Livro dos Recordes) como a
maior do planeta entre
amadores.
Em 2010,
o torneio mexicano teve 11
meses de duração, com 201.287
jogadores inscritos e 11.777
times.
No Brasil, no último ano, a
Copa Kaiser estabeleceu o
recorde de maior torcida de
futebol amador do país. Com
21.030 pessoas presentes no
Pacaembu, a organização da
competição recebeu um
certificado da RankBrasil,empresa especializada em
oficializar recordes
nacionais. O público da final
do torneio paulista, porém,
foi bem menor do que o do
Peladão de 2009, que reuniu
mais de 43 mil fãs no Vivaldão,
em Manaus (os
amazonenses batalham pela
comprovação do feito).