Gestão
abusiva nos campos de várzea
de Belo Horizonte
Com
pouco apoio do poder público,
espaços para o lazer
esportivo sofrem com o
abandono; locais viraram boca
de fumo
Palcos
para a revelação de craques
do futebol mineiro, os campos
de várzea de Belo Horizonte
clamam por socorro. Entregues
em sua maioria à administração
de mandatários de clubes
amadores, os espaços que
deveriam ser locais de lazer e
promoção esportiva estão
abandonados e se tornaram
reduto de usuário de drogas e
até morada de desabrigados.
No campo do Tupinambás, no
bairro Horto, região Leste da
capital, Jorge Luís
Fernandes, 54, vive há três
anos no banheiro de um bar
abandonado. O colchão divide
o minúsculo espaço com o
vaso sanitário. As pichações
e o mato alto também deixam o
campo ainda mais degradado.
Quando chove, é impossível
jogar bola. O funcionário público
Márcio Antero, 55, vizinho do
Tupinambás e peladeiro nos
fins de semana, teme hoje pela
queda de um pequeno barranco
entre o campo e a sua casa.
Na mesma região, no campo da
praça Brasilina, no bairro
Sagrada Família, usuários de
drogas costumam frequentar o
espaço à noite. Bem ao lado,
um contraste: enquanto uma
escolinha de futebol
particular está cheia de
alunos, o campo de terra é
pouco aproveitado.
Abuso
No bairro Rio Branco, região
de Venda Nova, moradores
denunciam a prática autoritária
do responsável pelo campo do
Manchester, o presidente do
clube de futebol amador,
Deraldo Costa. "Se não
pagar, ele não deixa
jogar", disse um morador
que não quis se identificar.
A Prefeitura de Belo Horizonte
reconhece o problema.
"Essas pessoas utilizam
os campos há muitos anos,
através de contratos de
comodato assinados em governos
anteriores. É um espaço público,
mas eles utilizam de maneira
ilegal explorando
financeiramente o bar, as
escolinhas", destacou o
gerente de equipamentos
esportivos da Secretaria
Municipal Adjunta de Esportes,
Talismar Silva, que prometeu
apurar a situação no campo
do Rio Branco.
Prefeitura
de BH promete investir
A
Secretaria Municipal Adjunta
de Esportes (Smaes)
informou que a prefeitura já
está levantando as condições
jurídicas dos espaços
esportivos e estudando
diferentes modelos de gestão
para cada local.
Conforme a secretaria, a meta
será reformar e reestruturar
40 campos de futebol
espalhados pela capital.
Segundo o gerente de
equipamentos esportivos da
Smaes, Talismar Silva, a
prefeitura está analisando os
locais para apresentar um
plano de obras, que deverá
ser executado a partir deste
ano, se estendendo até 2012.
"Vamos
priorizar alguns campos, que
terão toda situação
legalizada",
afirmou.
No caso de clubes
amadores, a intenção é
revisar os contratos de
comodato e avaliar o trabalho
de dirigentes a cada três ou
cinco anos. A escolha dos
campos e praças levará em
consideração os programas
esportivos desenvolvidos e o número
de pessoas contempladas.
Para acabar com possíveis
abusos administrativos nos
campos de várzea, a
prefeitura já começou a
implantar conselhos gestores,
formados por clubes e associações
de bairro, além da própria
secretaria e as regionais da
administração.
Mesmo com taxa de aluguel,
lama toma conta do campo do Manchester
No caso de clubes
amadores, a intenção é
revisar os contratos de
comodato e avaliar o trabalho
de dirigentes a cada três ou
cinco anos. A escolha dos
campos e praças levará em
consideração os programas
esportivos desenvolvidos e o número
de pessoas contempladas.
Para acabar com possíveis
abusos administrativos nos
campos de várzea, a
prefeitura já começou a
implantar conselhos gestores,
formados por clubes e associações
de bairro, além da própria
secretaria e as regionais da
administração.
Numa
conversa gravada, por
telefone, em que o repórter
simulou estar interessado em
alugar o campo, o dirigente do
Manchester confirma a cobrança
do aluguel. Segundo ele, as
taxas são para manutenção e
despesas das equipes. A
reportagem esteve no campo e
comprovou uma instalação
irregular de energia elétrica.
A Cemig informou que não
sabia do "gato" e
que vai averiguar a denúncia.
Entrevista
"Não
é aluguel. É uma ajuda para
manter o campo"
Deraldo
Costa - Presidente
do Manchester
Eu
estou querendo alugar o campo
para jogar, como eu faço? Lá
pelas 19h, eu estou lá, você
pode ir lá?
Eu
já queria passar o valor para
a turma. Quanto é o aluguel? A
gente cobra uma média de R$
240. É mais pela iluminação,
que vem muito cara.
Esse
valor é mensal? Dá para
jogar quatro vezes no mês,
então? Isso.
O valor é mais para custear a
iluminação, o vestiário,
que suja todo, a água que
gasta, essas coisas todas. É
mais uma taxa de manutenção.
O
campo é municipal, não é? O
campo não é da prefeitura.
Quem fez o campo todo,
praticamente, fui eu, que
corri atrás. Tem muito
dinheiro meu ali. Tem gente
que liga, fala que o campo é
da prefeitura. Mas isso é
muito complicado, uma história
muito longa. Eu te explico,
mas pessoalmente.
Certo.
Mas o senhor trabalha para a
prefeitura? Não,
eu sou o gestor, o presidente
do clube Manchester. Eu gasto
todo o mês com o meu time. A
prefeitura não ajuda; o
governo estadual não ajuda.
Eu gasto uma média de R$
2.000 por mês com o clube.
As
"peladas" de turma
ajudam a custear as despesas
então? Ajudam
sim. Eu estou precisando
comprar dois caminhões de
areia para jogar na parte de
baixo, e a prefeitura não
ajuda em nada. Eu pego esse
dinheirinho para pagar a conta
de luz, que tem que pagar e
vem muito alta, uma média de
R$ 600, R$ 700 por mês.