Clube
mais tradicional de BH
Pitangui comemora 77 anos de
história
Clube
mais tradicional de Belo
Horizonte conta com uma
extensa sala de troféus e
esbanja um maravilhoso gramado
sintético, único na capital
mineira
Campo, que em 2003
ainda não era gramado, já
sediou grandes partidas do terrão
belo-horizontino
Começo
da década de 30. Belo
Horizonte era uma cidade com
pouco mais de 200 mil
habitantes, dando os primeiros
passos como capital. Em franca
expansão, abria espaço para
o concreto armado e,
consequentemente, o
crescimento desordenado.
Vieram os primeiros prédios
na Avenida Afonso Pena e na
Rua dos Caetés, como o Edifício
Chagas Dória, em 1934, a
Feira de Amostras e
prefeitura, em 35, além dos
Correios e Telégrafos, em 36,
e muitos outros, obrigando a
prefeitura a criar a
regulamentação do uso do
concreto armado, no Decreto nº
165, publicado em 1933.
Era
uma cidade sem atrativos.
Neste período foi construído
também o Cine Brasil, na
Avenida Afonso Pena.
Na Lagoinha, já existia a
principal Pedreira Prado
Lopes, de onde os empreiteiros
buscavam as pedras para as
construções, tiradas com os
braços truculentos dos
trabalhadores, sem maquinário.
Na hora do almoço,
aproveitando o espaço, a bola
corria solta. A pedreira está
lá ainda, com as pedras
encobertas pelo tempo e o
verde.
Foi
desativada em 1962, mas o
sonho dos meninos Abraão
Jorge e Lafaiete dos Santos,
este pai de Gerson dos Santos,
ex-jogador do Botafogo e técnico
do Cruzeiro. Eles decidiram
criar um time de futebol e
imediatamente conseguiram a
liberação do terreno de
12.600 metros, transformado em
documento oficial pelo cartório
Jero Oliva.
As páginas estão amarelas,
nos documentos guardados por
Geraldino Marques, que anos
depois estava à frente das
decisões, ao lado de
Esmeraldo Botelho (foi
presidente depois da criação
da Federação Mineira de
Futebol). Aos 96 anos, único
ainda vivo, Geraldino conta
com detalhes como tudo começou:
“Foi
algo fantástico para aquela
época. Os meninos, alguns
trabalhadores da pedreira,
criaram o Pitangui que passou
a ser um ponto de encontro aos
domingos para toda esta região
da cidade. Eram os pobres que
tinham seu local de lazer.
Aqui chegavam caravanas de
muitos locais da cidade para
ver o futebol dos meninos e
depois senhores correndo atrás
da bola”.
Geraldino
lembra que graças ao apoio de
Rui da Costa Val e depois do
vereador João de Paulo Pires
foi possível conseguir
oficialmente o terreno:
“O
Amintas de Barros, que era o
prefeito, não queria, dizendo
que seria construído aqui um
túnel ligando a Rua Itabira,
um barranco, com a Sapucaí.
Mas pressionamos, com o apoio
da imprensa, especialmente do
Januário Carneiro, e
conseguimos oficialmente o
terreno”.
O Pitangui ganhou corpo.
Tornou-se o mais tradicional
clube do Futebol
Amador de BH.
Era a referência. Muitos
clubes profissionais enviavam
seus dirigentes para ver os
jogos e suas revelações.
Seus espetáculos eram vistos
por multidões, por vezes,
superiores aos dos jogos do
futebol profissional. O Barro
Preto, Estádio JK, o do Atlético,
em Lourdes, ou a Alameda,
campo do América (na
época não existia ainda o
Independência, inaugurado em
1950),
não recebiam tantos
torcedores.
Bom
para os jogadores amadores,
que eram vistos como ídolos
em seus times, como Galena,
bem próximo, com sede no Alto
Colégio Batista, Concórdia,
Ferroviário, Pompéia,
Cachoeirinha, Parque
Riachuelo, Terrestre, Bangu,
Inconfidência, Melo Viana e
outros. Estes eram os que mais
conheciam a força do time,
porque eram de bairros próximos.
Por décadas, o Pitangui, graças
aos seus abnegados, como o
também ex-presidente, o
radialista Dirceu Pereira de
Araújo, foi superando os
desafios sem ajuda oficial nem
patrocínios, mas sempre com
equipes fortes. Afinal, quem não
queria vestir sua tradicional
camisa vermelha e branca? Era
o passaporte para chegar a um
grande clube do futebol
profissional ou até do
exterior. Bom jogador do
Pitangui naturalmente poderia
jogar num clube do interior.
Mas o desejo maior foi a
permanência. Poucos partiram
para vôos mais altos e se
deram muito bem. Hoje, sua
galeria é composta por mais
de 300 troféus. O último é
o de vice-campeão juvenil,
conquista de novembro, ao
perder a final do Campeonato
Juvenil da Cidade para o Santa
Catarina por 2 a 0.
Para provar que nada é capaz
de impedir a continuidade de
sua história, enquanto muitos
clubes não conseguem
sobreviver por uma década, o
Pitangui dá mais um avanço
ao ter hoje gramado sintético
em seu campo. É o único
clube de Futebol
Amador
de Minas Gerais com tal privilégio.
“Dá
inveja, mas ao mesmo tempo
orgulha a gente, que está há
muitos anos no Futebol
Amador”,
afirma Alex Veiga, presidente
do Inconfidência. Ele faz
questão de dizer que não é
rival, mas parceiro do
Pitangui.
Só
foi possível ter uma
estrutura que muitos clubes,
mesmo entre os profissionais,
ainda não têm, graças à
parceria que o presidente
Carlos Antônio dos Santos fez
com a Recanto Sport Center,
que explora as dependências,
que têm campo de futebol
oficial e um bar. No campo, há
quatro marcações, também
para o futebol soçaite, o que
faz o local ser um dos mais
procurados da cidade para quem
gosta de bater uma pelada.
O
único funcionário do clube
é Carlos Roberto Pimenta, o Fumê,
de 57 anos, que cuida do
material. Ele conhece toda a
história, a partir de 1962,
quando chegou ao clube para
ser jogador. E dizem que dos
bons:
“Sinto
orgulho pelo que o Pitangui
representa para a cidade.
Todos os craques que passaram
por aqui e muitas histórias
de pessoas que se realizaram.
Nós, pobres, gostamos de
alegria e foi o que vivemos
aqui”.
Para Fumê, Izain
foi o maior jogador da história
do clube, mas lembra um fato
que o emociona:
“O
Totonho
jogava pelo Pompeia. Veio aqui
no domingo, jogou contra a
gente e na segunda-feira
estava em Santos, para assinar
contrato. Deu show. Pouco
depois, jogava ao lado do Negão
(Pelé). Quem precisava de
mais? É o Futebol Amador”.
Outro
lembrado pelos torcedores é
Mazinho, que também jogava
suas peladas no Pitangui e
depois no Santos de Pelé.
“Mas
a gente tem de ser justo também
com o Tinteiro.
Era craque. Não ganhou as
manchetes. Só do Futebol
Amador, graças ao espaço que
era dado pelo Diário
da Tarde.
Mas não deve nada a ninguém.
Nem mesmo para este Neymar,
que vocês ficam todo dia
dizendo que é o máximo”.
Atualmente,
com grama
sintética,
campo é motivo de inveja de
muitos outros clubes da
capital
Linha
do Tempo
1936:
Em 27 de maio, Lafaiete dos
Santos e Abraão Jorge
fundaram o Pitangui. Já em
1944, passaram a direção
para Esmeraldo Botelho e
Geraldino Marques
1966:
O Cruzeiro goleou o Renascença
por 11 a 0, pelo Campeonato
Mineiro e Dalmar fez nove
gols, um recorde para o
futebol profissional. Mas um
feito de Euller, atacante do
Pitangui, também teve
repercussão nacional,
especialmente em Minas.
1967:
No jogo contra o Santos, do
Alto Vera Cruz, Euller fez 11
gols na goleada do Pitangui
por 16 a 0. No outro dia, os
jornais registraram o fato com
destaque: “Euller
quebra o recorde de Dalmar”.
Era tão bom que foi convidado
para jogar no Cruzeiro.
1967:
O gol do Atlético no Festival
de 1967 foi marcado por uma
atleticana, mãe de Carlinhos,
do Buraco Quente. Ela estava
ao lado da trave e,
incontinente, ao ver que a
bola ia para fora, tocou de
canela e fez. Só o árbitro não
viu a irregularidade ou fez se
bobo.
1967:
A equipe de aspirantes do Atlético
enfrentou o Pitangui, na prova
de honra do festival
comemorativo dos 31 anos do
clube. Empate: 1
a 1.
1971:
Foram muitos os jogadores que
fizeram história no Pitangui
e depois no futebol
profissional. O atacante Lola,
campeão brasileiro pelo Atlético
em 1971, o atacante Fernando,
pelo Bangu, do Rio e que também
jogou na Europa, e o volante
Altair, que atuou nos Estados
Unidos.
2013:
Hoje às 9h, a equipe infantil
dá sequência à bela história
do Pitangui enfrentando o
Universo, no campo do Racing,
pelas semifinais do Campeonato
da Capital.