Riachinho,
de Contagem, que treina cerca de 400
crianças, corre o risco de perder o
campo
Na
última quarta-feira (12), oficiais de
Justiça, acompanhados da PM, tentaram
cumprir o mandado judicial de
reintegração de posse do terreno
onde funciona o campo do Riachinho,
mas as crianças que treinam no time
continuaram jogando e impediram que a
ação fosse cumprida.
Diante
de dezenas de crianças que jogavam
bola no campo, e também pela pressão
dos pais de alunos, vereadores e
defensores da escolinha, ficou
praticamente impossível cumprir o
mandado de reintegração de posse do
terreno onde funciona a escolinha de
futebol do Riachinho, que ampara quase
400 crianças, a maioria delas
carentes e que poderiam hoje, se não
fosse a integração ao esporte, estar
nas ruas. A possibilidade de tumulto e
o fato de envolver menores poderia ter
criado caos na operação, segundo o
Capitão Costa. A PM e os oficiais de
Justiça acharam melhor entrar em
contato com o juiz que expediu o
mandado.
"Há
quase cem crianças no local, das 400
que são treinadas aqui, e isso cria
um problema para a PM agir",
disse o comandante da operação, que
foi procurar o juiz da 1ª Vara da
Fazenda Pública Municipal, Marcus Vinícius
Mendes do Valle, que deu sentença
para cumprimento do mandado.
"Os
oficiais de Justiça e a PM, segundo
nos informaram, fizeram uma ocorrência
e, agora, vamos nos reunir com o juiz
que deu a sentença para que o
Conselho Tutelar seja acionado, uma
vez que temos de zelar pela
integridade das crianças que estão
no local. Tudo será filmado e feito
como manda a lei que os protege",
afirmou o capitão Costa.
Visita
Diversos
vereadores estiveram no local e sabem
da importância do Campo do Riachinho
e da Associação dos Pais e Amigos do
Riachinho (Aspar), que obtém
recursos para a manutenção do clube.
No último domingo (9), a prefeita Marília
Campos esteve no local e se disse
solidária. Para o presidente da Câmara
Municipal de Contagem e fundador do
Clube do Riachinho, Avair Salvador de
Carvalho, é lamentável que ainda não
tenha sido encontrada uma solução
para o impasse.
"Ainda
tenho esperança de que a situação
se resolva, quitando ou negociando
novamente com os credores os valores
que têm direito de receber pela
desapropriação do campo do Riachinho.
O que não podemos é interromper um
trabalho que tem como objetivo ajudar
essas crianças, tirá-las das drogas
e dos vícios, ajudando que vejam, no
esporte, uma ferramenta para irem bem
na escola e alcançarem o topo das
categorias do futebol, numa
oportunidade que talvez nunca pudessem
ter",
disse o vereador, que vem acompanhando
de perto, juntamente com diversos
outros vereadores, a questão.
“Não
podemos deixar que nos roubem o
sonho"
A
frase foi dita por Pedro Henrique
Lima, 11, campeão de vários
torneios. Ele também disse ser grato
pelo que o clube fez por ele até hoje
e triste por ver um trabalho tão
bonito correr o risco de acabar.
“Sempre
treinei aqui. Sou atacante e meu time,
o Riachinho, venceu campeonatos
importantes como o Mineiro, a Taça
BH, o Criança Esperança e a Copa São
Paulo, além do Mercosul. Será que
esse pessoal não entende que a gente
precisa continuar jogando e
acreditando que esta cidade acredita
no nosso talento?”,
disse o garoto. “Estou triste
porque a gente treina há um tempão e
querem tomar o campo da gente”, completou
Pedro.
Para
o segundo-secretário da Aspar, José
Antônio Virgílio, que tem três
filhos jogando no Clube do Riachinho,
a situação é “estarrecedora”. “Fico
pensando nos sonhos destruídos de
muitos desses meninos, alguns sem
entender o que está acontecendo”,
desabafa.
José
também é membro da Comissão Fé e
Esperança da Vila Pinho, que tem um
trabalho social voltado a amparar
jovens e adolescentes.
O
clube completa 40 anos em 2008 e tem
um trabalho social relevante na
cidade, cedendo espaço para as crianças,
evitando que fiquem nas ruas e dando
oportunidade para se tornarem
verdadeiros profissionais do futebol,
como o jogador Tiago, que saiu direto
do Riachinho para o Juvenil do Atlético
Mineiro e o Pablo, que hoje está no
Atlético Paranaense, além de outros
atletas que estão em outros grandes
clubes.
O
coordenador técnico do Clube do
Riachinho, João Batista Profiro, é
quem treina os garotos e coordena as
atividades dos técnicos. Para ele,
tudo parece um pesadelo.
“Nos
tiraram de um local que era nosso,
puseram uma escola lá, que hoje é
importante para a comunidade, e agora
dizem que este terreno não é nosso e
que terá de ser devolvido! E o
trabalho social que desenvolvemos? Sei
do drama de cada uma delas, muitas
retiradas das drogas e venho
acompanhando alguns desde 93, muitos
deles hoje jogadores profissionais”,
diz, inconformado, o coordenador.