Em
21 de janeiro de 1901, na cidade
de Barcelona, nasceu Ricardo Zamora,
considerado o
melhor goleiro da história do
futebol espanhol e um dos
melhores do mundo. Tanto é
assim que empresta seu nome ao
troféu ofertado anualmente
pela Real Federación Española
de Fútbol ao goleiro menos
vazado do Campeonato Espanhol.
Por ironia, Zamora começou
jogando no ataque, ainda no
infantil do Barcelona. Tinha
como companheiro Josep
Samitier, igualmente um grande
nome do futebol espanhol. Foi
efetivado no gol e, em
seguida, surgiu a oportunidade
de transferir-se ao Espanyol,
onde debutou na equipe
principal aos 16 anos. A
partir de então, um dos
dilemas da carreira
profissional de Zamora era
enfrentar o amigo Samitier, no
concorrido "derby"
barcelonês, entre Espanyol e
Barcelona.
Uma das maiores façanhas de
Zamora foi conseguir respeito
e fama nos quatro cantos do
mundo, numa época em que a
comunicação entre pontos
distantes era precária: o rádio
dava seus primeiros passos,
televisão e computador não
existiam, e internet era
apenas uma ficção (ou nem
isso).
Em países diferentes, recebia
homenagens diversas: na
Espanha, era conhecido como
"El Divino",
enquanto na Itália,
denominavam-no "Il
Miracoloso". Serviu de
parâmetro para outros grandes
goleiros, como o tcheco
Frantisek Planicka, o
"Zamora do Leste", e
o sueco Karl Svensson, o
"Zamora do Norte".
Durante as inúmeras
excursões do Espanyol pela
Europa e América do Sul,
Zamora era sempre o mais
assediado. Certa vez, em
Praga, não deixaram-no sequer
pisar o chão da estação de
trem: os torcedores
carregaram-no até o carro que
o transportaria até o hotel.
Em 1926, o Espanyol foi até
Montevidéu, onde enfrentou o
poderoso Peñarol. O atacante
uruguaio José Piendibene,
estrela da equipe aurinegra,
recebeu uma bola cara-a-cara
com Zamora. Fez que chutaria
no ângulo direito, e de fato
conseguiu enganar o goleiro,
arrematando no lado oposto.
Zamora ainda conseguiu saltar
para o outro lado, roçar a
bola, mas não impediu o gol.
Por ter suplantado o melhor
goleiro do mundo, Piendibene
ganhou um chalé de presente
dos dirigentes do Peñarol.
Na Itália, durante o Mundial
de 34, causou espanto por
conta de atuações memoráveis
frente ao Brasil e à Itália.
Um jornal espanhol chegou a
publicar que "só existem
dois porteiros (expressão
espanhola para goleiro) de
verdade: São Pedro no céu e
Zamora na terra".
Do Espanyol foi para o
Real Madrid, em 1929, em
transferência recorde de
150.000 pesetas (equivalente
hoje a cerca da 3 milhões de
dólares). Em 1936, devido à
Guerra Civil na Espanha,
transferiu-se ao Nice, da França,
atuando lá por mais dois
anos. Foi pentacampeão da
Copa do Rei (duas pelo Barça,
duas pelo Real e uma pelo
Espanyol) e bicampeão
espanhol pelo Real. Na seleção
espanhola, foram 46 brilhantes
aparições, que lhe renderam
um lugar entre os 5 melhores
goleiros da história em todas
as votações feitas pelas
publicações esportivas
mundiais no final do século.
Muitas estórias provêm do
imaginário popular. Reza a
lenda que, ao saber da decretação
da República Espanhola, o
presidente soviético Josef
Stalin questionou um
jornalista espanhol sobre o
novo comandante do país:
- "O chefe do governo
provisório é Alcalá Zamora
(político)", disse o
jornalista. "Ah, o
futebolista!", teria
exclamado Stalin.
Ricardo Zamora faleceu em 78,
sem abrir mão de duas de suas
paixões: uma dose de conhaque
e o consumo de três maços de
cigarros por dia.