Paulo
César Carpegiani - Meia
- Erexim (RS) - 17.02.49
O
Internacional de Porto
Alegre passou a década
de 1960 dedicado a
construir o seu estádio,
às margens do Rio Guaíba.
O velho campo dos
Eucaliptos parecia
pequeno e desconfortável
desde a inauguração do
Olímpico, em 1954. Era
preciso erguer um estádio
a qualquer custo, e o
custo foi o futebol. O
Grêmio conquistou sete
títulos estaduais
consecutivos e só foi
brecado no ano da
inauguração do
Beira-Rio, em 1969.
No ano seguinte,
fortalecido pelo fim do
jejum e pelo novíssimo
estádio, o Inter começava
a estruturar a Era-Beira
Rio. Conquistou o
bicampeonato estadual,
mas queria alçar vôos
maiores. Queria um time
do tamanho do seu estádio.
Queria dominar o país
do futebol. E um
personagem que surgiu na
conquista do
bicampeonato gaúcho
seria particularmente
decisivo para que o
Internacional fosse
aclamado como o maior
campeão brasileiro dos
anos 70: Paulo César
Carpegiani.
Carpegiani chegara ao
Internacional quatro
anos antes, em 1966.
Jogava então futebol de
salão no Meca, de
Erechim, e despertou o
interesse do dirigente
colorado Alexandre
Zachia, que o convidou
para um teste no
Internacional. O Grêmio
ficou sabendo da jovem
promessa que estava para
chegar aos Eucaliptos e
acenou com uma proposta
melhor. Seu Hermínio,
pai de Paulo César
Carpegiani, queria ouvir
a oferta gremista, mas não
teve chance. Seu filho
mostrou a personalidade
que o acompanharia nos
gramados e assinou antes
com o Inter, seu clube
preferido, para
ingressar no quadro de
juvenis.
Após cumprir todas as
etapas das divisões de
base, Paulo César
Carpegiani chegou ao
time profissional em
1970, com 21 anos. O
time colorado bicampeão
contava com jogadores
experientes, como Edson
Madureira, Jorge
Andrade, Valdomiro e
Claudiomiro. Mas o
garoto Carpegiani, então
chamado apenas de Paulo
César, entrou em alguns
jogos no lugar do
armador Dorinho e chamou
atenção para o seu
futebol fácil, de
toques refinados e
apurado senso tático.
Embora tenha participado
também de muitos jogos
da campanha do
tricampeonato, em 1971,
Paulo César Carpegiani
só se firmou como
titular em 1972, sendo
destaque do time
tetracampeão ao lado de
Don Elias Ricardo
Figueroa. No ano
seguinte, na conquista
do pentacampeonato
estadual, Carpegiani
passou a ter a companhia
de um garoto também
vindo dos juvenis e que
seria o seu companheiro
ideal no melhor
meio-de-campo que o
Brasil viu nos anos 70:
Paulo Roberto Falcão.
Em 1974, com a chegada
do técnico Rubens
Minelli, o Internacional
chegou ao hexacampeonato
gaúcho, mas o grande
feito do ano para Paulo
César Carpegiani foi
ter jogado pela primeira
vez na seleção
brasileira. Sua estréia
com a camisa então
tricampeã mundial foi
no dia 31 de março,
contra o México, no
Maracanã. Em jogo
preparatório ao Mundial
da Alemanha, o Brasil de
Zagalo empatou em 1x1,
gol de Jairzinho.
Curiosamente, o
meio-de-campo do Brasil
foi Carbone e Ademir da
Guia. Carpegiani formou
o ataque ao lado de
Mirandinha e dos
tricampeões Jairzinho e
Rivelino.
A posição ofensiva que
lhe foi reservada por
Zagalo acabou custando a
vaga no time titular, e
o Brasil estreou na Copa
do Mundo sem Carpegiani.
O empate em zero a zero
e a forte pressão
exercida pelo limitado
time da Iugoslávia
demonstravam que o time
precisava de alterações.
Nossa seleção estava
sendo novamente dominada
no segundo jogo, contra
a Escócia, quando
Zagalo decidiu sacar o
atacante Leivinha para
reforçar o
meio-de-campo. Assim, no
dia 18 de junho, no
Waldstadion de
Frankfurt, Paulo César
Carpegiani atuava pela
primeira vez em uma Copa
do Mundo.
Apesar do novo empate
sem gols, a seleção
brasileira diminuiu o número
de passes errados e
apresentou maior volume
de jogo com a entrada de
Paulo César. Sua escalação
como armador foi
decisiva na vitória por
3x0 contra Zaire que
valeu a vaga para as
oitavas-de-final.
Carpegiani seguiu como
titular, formando o
meio-de-campo com
Rivelino, e o bom
futebol da seleção
brasileira rendeu vitórias
contra Alemanha Oriental
e Argentina, pondo
frente a frente os
tricampeões e a Holanda
de Cruijff e Neskens. A
derrota por dois a zero
tirou o Brasil da final,
mas não impediu que
Carpegiani fosse
reconhecido como um dos
principais jogadores
daquele Mundial.
A consagração nacional
definitiva veio em 1975.
O mundo ainda estava
impressionado com o
futebol da Laranja Mecânica,
como ficou conhecida a
Holanda vice-campeão
mundial em 1974, e era
impossível não fazer
comparações entre o
time de Rinus Michels e
o Internacional de
Minelli. Primeiro, a
conquista do sétimo título
estadual consecutivo.
Carpegiani marcou o gol
da vitória colorada por
2x1 no Gre-Nal de
desempate da fase
classificatória, no dia
13 de julho, no Olímpico.
O clássico decisivo foi
no dia 10 de agosto, com
vitória do Inter por
1x0. Mas a grande
conquista de 1975 seria
mesmo o campeonato
brasileiro. Jogando ao
lado de Falcão, Manga,
Cláudio Duarte,
Figueroa, Vacaria,
Valdomiro e outros,
Carpegiani foi campeão
nacional pela primeira
vez após a épica decisão
contra o Cruzeiro.
O maior time da história
do Internacional foi
octacampeão gaúcho e
bicampeão brasileiro em
1976, marcado pelo
futebol exuberante de
Paulo Roberto Falcão,
pelo carisma de Manga e
pelos gols de Valdomiro,
Dario e Lula. Ainda
assim, tanto a imprensa
quanto a torcida eram unânimes
em apontar o nome de
Paulo César Carpegiani
como o grande
organizador do time,
como a peça indispensável
para fazer funcionar a máquina
que triturava seus
adversários de norte a
sul. Mas Carpegiani
tinha problemas físicos,
e a diretoria do
Internacional se
perguntava se não era
chegada a hora de
vende-lo. Para a revolta
da torcida, no dia 5 de
março de 1977, na maior
transação entre clubes
do futebol brasileiro,
Carpegiani foi vendido
ao Flamengo por Cr$
5.400,00. O homem que
marcara com seu ritmo o
melhor time do país, símbolo
inquestionável da Era
Beira-Rio e com um
futebol do tamanho do
novo estádio, deixava o
futebol gaúcho. Sem
Carpegiani, depois de
oito anos de vitórias,
o Internacional viu o Grêmio
voltar a ser campeão
estadual.
Melhor para o Flamengo,
que vinha de seguidos
insucessos e precisava
montar um grande time.
Um grupo de ilustres
rubro-negros formou a
FAF - Frente Ampla pelo
Flamengo e pôs-se atrás
de jogadores para jogar
ao lado de Zico e Júnior.
Foram contratados o
tricampeão Carlos
Alberto Torres e o
atacante apontado como
sucessor de Pelé, Cláudio
Adão. Mas faltava o
jogador definitivo,
capaz de transformar
bons jogadores em um
time, um jogador que
respondesse pelo ritmo
da armação, que tranqüilizasse
a defesa e chamasse os
laterais ao jogo, que
possibilitasse a
agressividade do ataque.
Faltava Paulo César
Carpegiani.
Carpegiani estreou no
Flamengo em 26 de março
de 1977, exatamente três
semanas depois de sua
contratação, no empate
em 1x1 com o Olaria, gol
de Zico, e marcou seu
primeiro gol com a
camisa rubro-negra na
goleada de 7x1 frente ao
Volta Redonda, em 26 de
maio. O Vasco, com um
time melhor entrosado,
venceu o primeiro turno,
mas o Flamengo iniciou o
segundo em ritmo
avassalador, e
Carpegiani marcou gols
em três jogos
consecutivos, contra
Bonsucesso, Portuguesa e
Bangu. Porém, quando já
se sentia plenamente
integrado ao novo clube,
Carpegiani voltou a ter
problemas físicos e
ficou de fora do
campeonato. O Flamengo
sentiu a ausência de
seu armador e não
conseguiu vencer o Vasco
na decisão do segundo
turno. Após o empate em
0x0, o time de Roberto
Dinamite levou o turno e
o campeonato na decisão
por pênaltis.
Mesmo com a perda do título
estadual, todos no
Flamengo sabiam que
Carpegiani era o homem
certo para mesclar a
experiência de Zico, Júnior,
Toninho e Rondinelli,
com a juventude de Adílio,
Leandro e Tita. E foi
assim que, em 1978, o
Flamengo voltou a ser
campeão carioca. Paulo
César Carpegiani, que
fora fundamental na
formação do melhor
time do Brasil nos 70,
seria decisivo na formação
do melhor time dos anos
80. Dois anos depois de
sua chegada ao Flamengo,
ele foi convocado para a
disputa da Copa América.
Seu último jogo pelo
Brasil foi no dia 31 de
outubro de 1979, no
empate em 2x2 contra o
Paraguai, no Maracanã.
Ao todo, jogou 17 vezes
pela seleção
brasileira.
No Flamengo, Paulo César
Carpegiani marcou,
distribuiu o jogo, fez
gols decisivos - como na
final da Taça Guanabara
de 1979 (18 de março,
Flamengo 3x0 Botafogo)
-, provou que ainda era
um jogador de primeira
linha, mas, acima de
tudo, vestiu faixas de
campeão. Foram três
campeonatos estaduais,
quatro taças Guanabara,
dois troféus Ramon de
Carranza, um troféu
Palma de Mallorca e um
campeonato brasileiro.
Onze títulos em cinco
anos. Vestiu a camisa do
Flamengo em 223 jogos e
marcou 12 gols.
Seu último jogo oficial
foi pelo campeonato
carioca de 1981, no dia
31 de maio, no empate em
1x1 contra o Bangu. Mas
sua despedida não
poderia acontecer sem
uma festa compatível
com sua grandeza. Em 15
de setembro de 1981, no
Maracanã, Flamengo de
Zico e Boca Juniors de
Diego Armando Maradona
reuniram-se para a última
homenagem ao garoto que
saiu de Erechim para
vencer no futebol. Vitória
rubro-negra por 2x0,
gols de Zico. O grande
lance da noite foi a saída
de Carpegiani de campo,
com Zico à sua direita
e Maradona à sua
esquerda. Os maiores
jogadores de Brasil e
Argentina foram os
escudeiros dos últimos
passos de Paulo César
Carpegiani no campo de
futebol.
O final digno de um rei
não sossegou
Carpegiani. No mesmo ano
de 1981 ele assumiu o
comando técnico do time
do Flamengo, levando o
rubro-negro aos títulos
do terceiro turno do
estadual, do campeonato
carioca e das duas
maiores glórias
flamengas até hoje: a
Taça Libertadores da América
e o Mundial Interclubes.
Em 1982, Carpegiani
repetiu como técnico o
que já fizera por três
vezes como jogador:
campeão nacional de
futebol, e justamente
contra o Grêmio, grande
rival da época de
Internacional. No ano
seguinte, aceitou uma
milionária proposta de
um clube da Arábia e
deixou o Flamengo.
Voltou a ter destaque no
futebol paraguaio nos
anos 90, o que o levou a
comandar a seleção
daquele país na Copa da
França em 1998. Por
muito pouco o time de
Paulo César Carpegiani
não mudou toda a história
do Mundial. A França,
que seria a campeã,
bateu o Paraguai nas
oitavas-de-final apenas
na morte súbita, com um
gol chorado do defensor
Blanc.
De volta ao Brasil,
Paulo César Carpegiani
treinou o São Paulo, o
Flamengo, o Atlético
Paranaense e o Cruzeiro.
Seu maior desafio como
treinador é dar aos
seus times um pouco da
luz que espalhou pelos
campos, para matar a
saudade de seu futebol lúcido
e competitivo. No ano
2000, foi eleito um dos
craques da seleção gaúcha
de todos os tempos pela
Federação Gaúcha de
Futebol.
"Ninguém foi mais
importante para o
Internacional dos anos
70 do que Paulo César
Carpegiani"
(Ruy Carlos Ostermann,
jornalista gaúcho)
"Eu já vi jogador
correr 90 minutos, bater
90 minutos, enganar
durante 90 minutos. Mas
ser lúcido o tempo
todo, só Paulo César
Carpegiani"
(Rui Porto,
ex-comentarista da Rádio
Globo-RJ)
"Se Carpegiani é
meia ou atacante?
Carpegiani é
craque"
(João Saldanha,
jornalista e técnico da
seleção brasileiras
nas eliminatórias para
a Copa de 1970)
"Eu sempre torci
pelo Paulinho. Depois de
sua atuação contra a
Alemanha Oriental, posso
dizer que não estava
enganado. Ele conhece a
posição"
(Clodoaldo, campeão
mundial em 1970, sobre
Carpegiani na Copa de
74)
"Quando o vejo
dando combate à minha
frente, fico mais
confiante"
(Luís Pereira, zagueiro
do Brasil na Copa de 74,
sobre Carpegiani)
"Foi o melhor do
time e do jogo; é um
craque portentoso"
(Ferrucio Valcareggi, técnico
da Itália na Copa de
74, sobre a atuação de
Carpegiani contra a
Alemanha Oriental)
"Faltava alguém
que comandasse o jogo
ali atrás do Rivelino e
na frente do Marinho e
do Luís Pereira. Alguém
que se movimentasse e
empurrasse o time. Eu
tinha certeza que me
daria bem se o Zagalo me
colocasse ali"
(Paulo César
Carpegiani, após ganhar
a vaga de titular na
Copa de 74)
"Em 13 anos de
profissional, só perdi
um campeonato estadual,
em 77, pelo Flamengo. No
Inter, ganhei quase
todos os títulos que
disputei. Fui um jogador
realizado. Em toda a
minha carreira, joguei
apenas no Inter, na seleção
brasileira e no
Flamengo. O ideal no
futebol é ser
estritamente
profissional, com uma
pontinha de amadorismo.
É preciso ter amor à
camiseta para você
sentir as derrotas e
viver o clube"
(Paulo
César Carpegiani, em
depoimento ao livro
"Meu Coração é
Vermelho", do
jornalista Ruy Carlos
Ostermann, sobre o
Internacional de Porto
Alegre)
"Gosto uma
barbaridade de jogar
bola. Sofro demais com a
reserva. Talvez por isso
me sinta bem em qualquer
posição. Quer dizer, a
ponta esquerda é terrível,
não?"
(Carpegiani, um dos
maiores craques da história
de Inter e Flamengo)
“Carpegiani tem um
senso tático
perfeito”
(Lico, ex-jogador, campeão
mundial pelo Flamengo)