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BARBOSA

Moacir Barbosa - Goleiro - Campinas (SP) - 27.03.21

Moacir Barbosa, ou só Barbosa, nome pelo qual ficou conhecido no futebol pode ser considerado um dos jogadores mais injustiçados da história do esporte no país. A máxima de que um só erro pode apagar todos os acertos vitimou-o talvez mais do que ninguém.

Barbosa iniciou sua carreira em fins dos anos 30, no extinto Comercial da Capital, para em seguida transferir-se para o também extinto Ipiranga. Suas atuaçőes de destaque chamaram a atençăo do Vasco da Gama, que em 1945 o trouxe para Săo Januário para defender as suas cores.

Diz-se que todo grande time começa com um grande goleiro, e com o Vasco năo foi diferente. Com Barbosa sob suas traves, o clube deu início ŕ construçăo do maior time de sua história, aquele que ficou conhecido como Expresso da Vitória. Jogando neste time, Barbosa acabou se tornando o jogador que conquistou o maior número de títulos com a camisa do Vasco. Foram eles:  os campeonatos cariocas de 1945, 1947, 1949, 1950, 1952 e 1958; o tricampeonato municipal em 1945, 46 e 47, o título do Torneio Relâmpago em 1946 e do Torneio Início em 45, 48 e 58, além do mais importante de todos eles, o título Sul-Americano de 1948.

Neste último, a participaçăo de Barbosa foi decisiva. Na decisăo contra o River Plate, defendeu um pęnalti de Labruna, considerado o craque argentino dos anos 40 e, para alguns saudosistas, o maior jogador portenho de todos os tempos, maior até que Maradona. Barbosa, sempre modesto, creditou a defesa do pęnalti ao fato de já conhecer Labruna da Seleçăo Argentina.

Maior goleiro dos anos 40, e titular da seleçăo brasileira por um longo período, Barbosa tinha tudo para ser glorificado e eternizado unanimemente como um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro, năo fora um fatídico acidente na tarde do dia 16 de julho de 1950. Naquele dia, o Brasil decidia a Copa do Mundo, no Estádio do Maracană, contra o Uruguai, dependendo apenas do empate, que os gols de Friaça, para os anfitriőes, e Schiaffino, para o Uruguai, iam garantindo. Até que se sucedeu o momento mais trágico da história do futebol nacional;o craque uruguaio Gigghia recebeu lançamento e quando parecia que ia cruzar, chutou. A bola entrou entre a trave e Barbosa, que năo teve qualquer culpa no lance. O "Maracanazzo" tornou-se porém a via-crúcis de Barbosa, que nunca readqüiriu o prestígio que dispunha antes daquela imemorável tarde.

Năo obstante o fracasso em 50, Barbosa continuou defendendo com destaque o gol do Vasco, onde ficou até 1955, retornando posteriormente em 1958, para lá ficar até 1960. Sua carreira de 27 anos é uma das mais longas e vitoriosas da história do futebol brasileiro.

Por muito tempo, muitos brasileiros afirmavam que "năo se podia confiar em um goleiro negro". Na Copa de 94, nos Estados Unidos, o jogador tentou entrar na concentraçăo da seleçăo brasileira para apoiar os jogadores, mas foi barrado. Constrangido, declarou a repórteres: “No Brasil, a pena máxima por um crime é de 30 anos. Eu pago há 44 anos por um crime que năo cometi...”

No dia 7 de abril do ano 2000, quase 50 anos após o "Maracanazzo", Barbosa faleceu, aos 79 anos, em Praia Grande, litoral paulista, vitimado por um acidente vascular cerebral. Para ele, a justiça năo chegou nunca.

"Foi inesquecível porque os arrogantes argentinos chegaram com a Taça Águia de Perón como se já a tivessem conquistado por antecedęncia. Nesse dia, peguei até um pęnalti de Labruna no primeiro tempo. Eu o conhecia da seleçăo argentina e tinha quase certeza que ele ia bater no canto esquerdo. Fui com essa certeza e defendi."
(Barbosa, maior goleiro da história do Vasco e titular do Brasil na Copa de 1950)

"No Brasil, a pena máxima por um crime é de 30 anos. Eu pago há 44 anos por um crime que năo cometi..."
(Barbosa, maior goleiro da história do Vasco e titular do Brasil na Copa de 1950)

"A bem da verdade, há meio século o velho Barbosa está entre a vida e a morte, tentando sobreviver ao tiro fatal do uruguaio Gigghia, naquela fatídica final da Copa do Mundo de 50. A penetraçăo pela direita e o tiro reto, entre o primeiro pau e o goleiro, contrariando a lógica do cruzamento para a área, eram uma especialidade de Gigghia. E ninguém disse isso para Barbosa, que se perder este último jogo, enfim, ainda assim deixará sua memória tentando se livrar da culpa que nunca foi sua. "
(Alberto Helena Júnior, jornalista)

"Danilo perde para Julio Perez que entrega imediatamente a Migues. Este devolve a Julio Perez. Passa por Jair e atravessa o meio de campo. Lança a Ghiggia. Corre Ghiggia. Aproxima-se do gol do Brasil e atira... Ghiggia, segundo gol do Uruguai. Dois a um, ganha o Uruguai."
(Jorge Cury, narrador da Rádio Nacional, narrando o gol da vitória uruguaia na final da Copa de 50)

"Eu era o mais sofrido. Levaram-me para casa, mas, depois, prudentemente, fui hospedado num hotelzinho em Itacuruça. Fiquei escondido dois dias."
(Barbosa, goleiro da seleçăo na fatídica final da Copa de 1950, contra o Uruguai)

"Poucos tęm defendido aqueles rapazes, todos já com mais de 60 anos. Continuam passando, de geraçăo para geraçăo, uma história mentirosa da Copa de 50."
(Zizinho, um dos maiores craques da seleçăo na Copa de 50)

"O Barbosa fez tudo com correçăo. No gol do Schiaffino, ele fechou o ângulo e o Ghiggia cruzou aberto para a cabeçada. No segundo, ele entendeu que Ghiggia ia repetir o lance e lançar aberto para Schiaffino. Entăo ele se afastou e foi pro centro do gol. E o Ghiggia jogou entre a trave e ele."
(Zizinho, um dos maiores craques da seleçăo na Copa de 50)

"Deixei de acreditar em Deus no dia em que vi o Brasil perder perder a Copa do Mundo no Maracană."
(Carlos Heitor Cony, escritor)

"Tinha preparado um discurso bonito para a entrega do troféu. Diria que ele era destinado ao país que praticava o futebol mais virtuoso do planeta."
(Jules Rimet, presidente da FIFA na época da Copa de 1950, lamentando a derrota do Brasil)

"Nós ficamos em pedaços."
(Bigode, jogador da seleçăo  brasileira na Copa de 1950)

"Só tręs pessoas calaram o Maracană: o papa, Frank Sinatra e eu."
(Ghiggia, atacante uruguaio autor do segundo gol do Uruguai, o gol da vitória sobre o Brasil na final da Copa de 50)

"Barbosa era também, sem dúvida, o melhor goleiro de seu país, pernas com molas, homem sereno e seguro que transmitia confiança ŕ equipe, e continuou sendo o melhor até que se retirou das canchas, tempos depois, com mais de quarenta anos de idade."
(Eduardo Galeano, escritor argentino)

"A única copa que năo programou uma final teve a final mais emocionante de todas."
(Brian Glanville, jornalista inglęs, sobre a Copa de 1950, no Brasil)

"Eu me mijei. Năo me envergonho disso."
(Julio Perez, atacante uruguaio, explicando como se sentiu ao entrar no Maracană no dia da final da copa de 50 )

"Foi o imponderável que liquidou todas as nossa pretensőes."
(Flávio Costa, treinador brasileiro na Copa de 50, quando o Brasil perdeu no Maracană a final contra os uruguaios)

"Se todo o mundo que eu já vi que disse estar no Maracană naquele jogo com o Uruguai em 50, estivesse lá mesmo, o público teria sido de mais de 1 milhăo de pessoas."
(Jô Soares, humorista e escritor)

"Eu năo conseguia dormir ŕ noite. Eu sonhava que aquilo era um pesadelo e năo tinha acontecido."
(Zizinho, ex-craque da Seleçăo Brasileira, sobre a derrota na final da Copa de 50)

"Quando ela tiver que entrar, ela entra mesmo. O jeito é ir lá dentro e pegar a bola para continuar."
(Barbosa, goleiro da Seleçăo Brasileira na Copa de 50)

"Que ninguém se iluda: se  jogássemos mais 100 vezes com o Brasil, perderíamos 99."
(Obdulio Varela, capităo uruguaio na Copa de 50, no Brasil)