Moacir
Barbosa, ou só Barbosa, nome
pelo qual ficou conhecido no
futebol pode ser considerado
um dos jogadores mais
injustiçados da história do
esporte no país.
A máxima de que um só erro
pode apagar todos os acertos
vitimou-o talvez mais do que
ninguém.
Barbosa
iniciou sua carreira em fins
dos anos 30, no extinto
Comercial da Capital, para em
seguida transferir-se para o
também extinto Ipiranga. Suas
atuaçőes de destaque
chamaram a atençăo do
Vasco da Gama, que em 1945 o
trouxe para Săo Januário
para defender as suas cores.
Diz-se
que todo grande time começa
com um grande goleiro, e com o
Vasco năo foi diferente.
Com Barbosa sob suas traves, o
clube deu início ŕ
construçăo do maior time
de sua história, aquele que
ficou conhecido como Expresso
da Vitória. Jogando neste
time, Barbosa acabou se
tornando o jogador que
conquistou o maior número de
títulos com a camisa do
Vasco. Foram eles: os
campeonatos cariocas de 1945,
1947, 1949, 1950, 1952 e 1958;
o tricampeonato municipal em
1945, 46 e 47, o título do
Torneio Relâmpago em 1946 e
do Torneio Início em 45, 48 e
58, além do mais importante
de todos eles, o título
Sul-Americano de 1948.
Neste
último, a participaçăo
de Barbosa foi decisiva. Na
decisăo contra o River
Plate, defendeu um pęnalti
de Labruna, considerado o
craque argentino dos anos 40
e, para alguns saudosistas, o
maior jogador portenho de
todos os tempos, maior até
que Maradona. Barbosa, sempre
modesto, creditou a defesa do
pęnalti ao fato de já
conhecer Labruna da Seleçăo
Argentina.
Maior
goleiro dos anos 40, e titular
da seleçăo brasileira
por um longo período, Barbosa
tinha tudo para ser
glorificado e eternizado
unanimemente como um dos
maiores goleiros da história
do futebol brasileiro, năo
fora um fatídico acidente na
tarde do dia 16 de julho de
1950. Naquele dia, o Brasil
decidia a Copa do Mundo, no
Estádio do Maracană,
contra o Uruguai, dependendo
apenas do empate, que os gols
de Friaça, para os anfitriőes,
e Schiaffino, para o Uruguai,
iam garantindo. Até que se
sucedeu o momento mais trágico
da história do futebol
nacional;o craque uruguaio
Gigghia recebeu lançamento e
quando parecia que ia cruzar,
chutou. A bola entrou entre a
trave e Barbosa, que năo
teve qualquer culpa no lance.
O "Maracanazzo"
tornou-se porém a via-crúcis
de Barbosa, que nunca readqüiriu
o prestígio que dispunha
antes daquela imemorável
tarde.
Năo
obstante o fracasso em 50,
Barbosa continuou defendendo
com destaque o gol do Vasco,
onde ficou até 1955,
retornando posteriormente em
1958, para lá ficar até
1960. Sua carreira de 27 anos
é uma das mais longas e
vitoriosas da história do
futebol brasileiro.
Por
muito tempo, muitos
brasileiros afirmavam que
"năo se podia
confiar em um goleiro
negro". Na Copa de 94,
nos Estados Unidos, o jogador
tentou entrar na concentraçăo
da seleçăo brasileira
para apoiar os jogadores, mas
foi barrado. Constrangido,
declarou a repórteres: “No
Brasil, a pena máxima por um
crime é de 30 anos. Eu pago há
44 anos por um crime que năo
cometi...”
No
dia 7 de abril do ano 2000,
quase 50 anos após o
"Maracanazzo",
Barbosa faleceu, aos 79 anos,
em Praia Grande, litoral
paulista, vitimado por um
acidente vascular cerebral.
Para ele, a justiça năo
chegou nunca.
"Foi inesquecível porque
os arrogantes argentinos
chegaram com a Taça Águia de
Perón como se já a tivessem
conquistado por antecedęncia.
Nesse dia, peguei até um pęnalti
de Labruna no primeiro tempo.
Eu o conhecia da seleçăo
argentina e tinha quase
certeza que ele ia bater no
canto esquerdo. Fui com essa
certeza e defendi."
(Barbosa, maior goleiro da
história do Vasco e titular
do Brasil na Copa de 1950)
"No Brasil, a pena máxima
por um crime é de 30 anos. Eu
pago há 44 anos por um crime
que năo cometi..."
(Barbosa, maior goleiro da
história do Vasco e titular
do Brasil na Copa de 1950)
"A bem da verdade, há
meio século o velho Barbosa
está entre a vida e a morte,
tentando sobreviver ao tiro
fatal do uruguaio Gigghia,
naquela fatídica final da
Copa do Mundo de 50. A penetraçăo
pela direita e o tiro reto,
entre o primeiro pau e o
goleiro, contrariando a lógica
do cruzamento para a área,
eram uma especialidade de
Gigghia. E ninguém disse isso
para Barbosa, que se perder
este último jogo, enfim,
ainda assim deixará sua memória
tentando se livrar da culpa
que nunca foi sua. "
(Alberto Helena Júnior,
jornalista)
"Danilo perde para Julio
Perez que entrega
imediatamente a Migues. Este
devolve a Julio Perez. Passa
por Jair e atravessa o meio de
campo. Lança a Ghiggia. Corre
Ghiggia. Aproxima-se do gol do
Brasil e atira... Ghiggia,
segundo gol do Uruguai. Dois a
um, ganha o Uruguai."
(Jorge Cury, narrador da Rádio
Nacional, narrando o gol da
vitória uruguaia na final da
Copa de 50)
"Eu era o mais sofrido.
Levaram-me para casa, mas,
depois, prudentemente, fui
hospedado num hotelzinho em
Itacuruça. Fiquei escondido
dois dias."
(Barbosa, goleiro da seleçăo
na fatídica final da Copa de
1950, contra o Uruguai)
"Poucos tęm
defendido aqueles rapazes,
todos já com mais de 60 anos.
Continuam passando, de geraçăo
para geraçăo, uma história
mentirosa da Copa de 50."
(Zizinho, um dos maiores
craques da seleçăo na
Copa de 50)
"O Barbosa fez tudo com
correçăo. No gol do
Schiaffino, ele fechou o ângulo
e o Ghiggia cruzou aberto para
a cabeçada. No segundo, ele
entendeu que Ghiggia ia
repetir o lance e lançar
aberto para Schiaffino. Entăo
ele se afastou e foi pro
centro do gol. E o Ghiggia
jogou entre a trave e
ele."
(Zizinho, um dos maiores
craques da seleçăo na
Copa de 50)
"Deixei de acreditar em
Deus no dia em que vi o Brasil
perder perder a Copa do Mundo
no Maracană."
(Carlos Heitor Cony, escritor)
"Tinha preparado um
discurso bonito para a entrega
do troféu. Diria que ele era
destinado ao país que
praticava o futebol mais
virtuoso do planeta."
(Jules Rimet, presidente da
FIFA na época da Copa de
1950, lamentando a derrota do
Brasil)
"Nós ficamos em pedaços."
(Bigode, jogador da seleçăo
brasileira na Copa de 1950)
"Só tręs pessoas
calaram o Maracană: o
papa, Frank Sinatra e
eu."
(Ghiggia, atacante uruguaio
autor do segundo gol do
Uruguai, o gol da vitória
sobre o Brasil na final da
Copa de 50)
"Barbosa era também, sem
dúvida, o melhor goleiro de
seu país, pernas com molas,
homem sereno e seguro que
transmitia confiança ŕ
equipe, e continuou sendo o
melhor até que se retirou das
canchas, tempos depois, com
mais de quarenta anos de
idade."
(Eduardo Galeano, escritor
argentino)
"A única copa que năo
programou uma final teve a
final mais emocionante de
todas."
(Brian Glanville, jornalista
inglęs, sobre a Copa de
1950, no Brasil)
"Eu me mijei. Năo
me envergonho disso."
(Julio Perez, atacante
uruguaio, explicando como se
sentiu ao entrar no Maracană
no dia da final da copa de 50
)
"Foi o imponderável que
liquidou todas as nossa
pretensőes."
(Flávio Costa, treinador
brasileiro na Copa de 50,
quando o Brasil perdeu no
Maracană a final contra
os uruguaios)
"Se todo o mundo que eu já
vi que disse estar no Maracană
naquele jogo com o Uruguai em
50, estivesse lá mesmo, o público
teria sido de mais de 1 milhăo
de pessoas."
(Jô Soares, humorista e
escritor)
"Eu năo conseguia
dormir ŕ noite. Eu
sonhava que aquilo era um
pesadelo e năo tinha
acontecido."
(Zizinho, ex-craque da Seleçăo
Brasileira, sobre a derrota na
final da Copa de 50)
"Quando ela tiver que
entrar, ela entra mesmo. O
jeito é ir lá dentro e pegar
a bola para continuar."
(Barbosa, goleiro da Seleçăo
Brasileira na Copa de 50)
"Que ninguém se iluda:
se jogássemos mais 100
vezes com o Brasil, perderíamos
99."
(Obdulio Varela, capităo
uruguaio na Copa de 50, no
Brasil)