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TELÊ SANTANA

Telę Santana Silva - Ponta-Direita e Técnico - Itabirito (MG) - 26.07.1931 

Durante sua carreira de 29 anos como técnico de futebol, Telę Santana sempre esteve ŕ mercę do julgamento passional dos torcedores e da imprensa brasileira, que ora o endeusavam, ora o crucificavam, de acordo com os resultados obtidos em campo. Mas, nem as piores críticas eram capazes de mudar suas características. Com a sua famosa "teimosia", Telę parecia querer nos dizer: "Um dia vocęs verăo que é possível vencer jogando o futebol-arte". Quando, em 1996, foi forçado por uma isquemia cerebral a abandonar a boca do túnel, mais do que os títulos que conquistou como treinador, sua maior vitória havia sido o reconhecimento de todos os brasileiros, que já năo tinham dúvida em afirmar que o futebol brasileiro estava perdendo seu técnico mais genuíno e, por que năo dizer, o melhor de todos os tempos.

Ironicamente, a consagraçăo como técnico acabou relegando a um injusto segundo plano a importância de Telę como jogador. As novas geraçőes pouco sabem a respeito do Fio de Esperança, o ponta-direita que, por 12 anos, defendeu o Fluminense com técnica e, principalmente, dedicaçăo e aplicaçăo tática impressionantes e inovadoras para a época. Chegou a ser convocado para a Seleçăo Brasileira algumas vezes, embora nunca como titular.

Telę chegou ao Tricolor das Laranjeiras aos 19 anos, em 1950. Viera tentar a sorte no futebol do Rio de Janeiro, depois de se destacar em equipes amadoras de Itabirito, onde nasceu, e Săo Joăo del Rey, cidades do interior de Minas Gerais. A primeira tentativa, na verdade, ocorreu em 1949, no Vasco da Gama. Mas, Telę năo agradou e, no mesmo ano, foi aprovado no Fluminense, embora já no fim da temporada. Mas, no ano da Copa do Mundo, após passar também pelo Botafogo, o jovem mineiro ingressou definitivamente no seu time do coraçăo, ajudando o Flu a conquistar o tri-campeonato juvenil naquela temporada.

Em 1951, Telę foi lançado pelo técnico Zezé Moreira no time profissional do Fluminense, pelo qual atuou até 1961, sempre como titular. Além de títulos, ele conquistou amizades que duram até hoje, como as de Píndaro, Orlando Pingo de Ouro e Escurinho. Introduzindo um novo de estilo de jogo para a posiçăo - com muita movimentaçăo e marcando a saída de bola do adversário -, o ponta-direita Telę ajudou o Tricolor a conquistar o Campeonato Carioca daquele ano.

Na temporada seguinte, o Flu conquistou a Copa Rio, um torneio internacional considerado uma espécie de campeonato mundial de clubes, embora năo reconhecido oficialmente. Telę também conquistou, sempre pelo time das Laranjeiras, o Campeonato Carioca de 1959 (mais uma vez com Zezé Moreira como técnico) e dois Torneios Rio-Săo Paulo, em 1957 (quando a competiçăo passou a se chamar Roberto Gomes Pedrosa) e 1960. Depois do Fluminense, Telę passou por Guarani, Madureira e Vasco, encerrando a carreira em 1965.

Para năo se afastar completamente do futebol, passou a jogar pelo time de veteranos da Associaçăo Desportiva do Estado da Guanabara, quando começou a pensar na possibilidade de se tornar técnico. Em 1967, foi convidado para treinar o time infanto-juvenil do Fluminense, sagrando-se campeăo carioca da categoria naquele mesmo ano, chegando a dirigir interinamente o time principal. No ano seguinte, foi "promovido" a treinador da equipe juvenil e, mais uma vez, conquistou o título carioca. Os dois títulos o levaram a assumir de vez o comando dos profissionais do Tricolor. E o início da carreira năo poderia ter sido melhor, com a conquista do Campeonato Carioca de 1969.

Apesar da vitória, Telę deixou as Laranjeiras e aceitou o convite para treinar o Atlético Mineiro. No Galo, levantou as taças do Campeonato Mineiro de 1970 (quebrando uma série de cinco títulos do Cruzeiro) e da primeira ediçăo do Campeonato Brasileiro, em 1971. Cinco títulos em cinco anos como técnico.

Nessa época, Telę já mostrava suas principais características: valorizar jogadores recém saídos das divisőes de base e formar times ofensivos. De 1973 a 1976, passou por Săo Paulo, Atlético Mineiro novamente e Botafogo. Mas, Telę só voltou a conquistar um título em 1977, quando deu ao Gręmio o Campeonato Gaúcho, depois de oito anos na fila. Em 1979, trabalhou no Palmeiras, formando um bom time, porém sem conquistar nenhum campeonato.

Telę chegou ŕ Seleçăo Brasileira em 1980, com a missăo de classificar o time para a Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Nas Eliminatórias e nos amistosos preparatórios, o Brasil e o mundo se encantaram com a seleçăo canarinho. O final da história, porém, todos já conhecem: 3 a 2 para a Itália e a eliminaçăo precoce de uma das melhores equipes já formadas no país.

Em 1983, Telę deixou a seleçăo e partiu para a Arábia Saudita, onde treinou o Al Ahli até maio de 1985, sendo campeăo árabe, da Copa do Rei e da Taça do Golfo Pérsico. No mesmo período, a Seleçăo Brasileira teve tręs técnicos. Depois dos fracassos de Carlos Alberto Parreira, Edu Coimbra e Evaristo de Macedo, a CBF se rendeu e trouxe Telę Santana de volta ao comando da seleçăo.

Mas, na Copa do México, em 1986, o Brasil năo foi nem sombra do time de quatro anos antes e saiu nas quartas-de-final, depois de perder para a França nos tiros da marca do pęnalti. Telę também colecionou problemas com a imprensa e deixou a seleçăo com a imagem de técnico mal-humorado, teimoso e "pé-frio". Por mais de um ano, Telę ficou afastado do futebol - năo por falta de convite, é claro! -, mas em 1987, retornou ao Atlético Mineiro, conquistando o Campeonato Estadual no ano seguinte. Entre 1998 e 1999, treinou, ainda, Flamengo, Fluminense e Palmeiras, mas năo conseguiu nenhum título.

Em 1990, começou a Era Telę no Săo Paulo. Campeăo paulista e brasileiro, em 1991. Bi-campeăo paulista, Campeăo da Libertadores, do Mundial Interclubes e da Recopa Sul-Americana, em 1992. Bi da Libertadores, do Mundial e da Recopa, e campeăo da Supercopa da Libertadores, em 1993. Dez títulos em tręs anos. Telę ainda ficou no Săo Paulo até janeiro de 1996, quando sofreu uma isquemia cerebral. Durante o período de recuperaçăo, chegou a acertar com o Palmeiras no fim do ano, mas em abril de 1997, rescindiu o contrato sem sequer ter iniciado o trabalho. Ainda năo estava completamente recuperado.

Desde entăo, a vida de Telę Santana tem sido receber homenagens, talvez pela sua brilhante campanha ŕ frente do Săo Paulo. Quem sabe, por ter dirigido uma seleçăo que perdeu a Copa, mas ganhou a admiraçăo de todo o mundo? Ou, entăo, por ter sido o primeiro técnico campeăo brasileiro? Ou será porque ele conquistou os quatro principais campeonatos estaduais do Brasil: do Rio, de Săo Paulo, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul? Năo importa o motivo. Talvez, sejam apenas agradecimentos por ele, ganhando ou perdendo, ter levado sempre a campo equipes que jogavam o genuíno futebol brasileiro, o futebol-arte.

"Se o Zezé me chamasse para jogar no Belenenses, eu ia. Tudo o que sei devo a ele."
(Telę, sobre Zezé Moreira, seu primeiro técnico no profissional do Fluminense)

"Năo tive a honra de defendę-la. Tive chance. Fui convocado."
(Telę, sobre sua frustraçăo por nunca ter sido titular da Seleçăo Brasileira)

"Telę era meu irmăo branco. Sempre me orientava em tudo que eu fazia. Eu era muito jovem e entăo ele dizia: 'Faça assim, năo faça assado...' Graças a Deus, segui seus conselhos."
(Escurinho, companheiro de Telę no Fluminense da década de 50)

"O gol foi aplaudido de pé pela própria torcida e pelos jogadores do Fluminense. Nunca sofri tanto por fazer um gol."
(Telę, sobre o único gol que marcou contra o Fluminense, jogando pelo Madureira)

"Quando parei de jogar fiquei desesperado. O amor pela bola năo me permitia sair dos campos. Fiquei jogando pela Adeg, mas minha idéia era ser treinador."
(Telę, sobre sua transiçăo de jogador para técnico)

"Năo virem de costas, olhem a bola... ela é o instrumento de trabalho de vocęs e nunca deve ser perdida de vista."
(Telę, orientando seus jogadores num treino do Săo Paulo, em 1973)

"Bota ponta Telę!"
(Zé da Galera, personagem do humorista Jô Soares, na época da Copa do Mundo de 82)

"Quando a torcida começou a chamar o treinador de burro, eu achei altamente ofensivo - para os burros."
(Renato Gaúcho, ex-atacante da Seleçăo Brasileira, referindo-se a Telę Santana)

"Se tivesse que fazer tudo de novo, repetiria os mesmos métodos. Mas, é lógico que uma derrota como essa obriga que a gente reformule um pouco. Mas, mantenho-me fiel ao meu estilo e aos meus princípios. Defendo com intransigęncia o futebol-arte."
(Telę, após a derrota para a Itália, na Copa do Mundo de 82)

"Cansaram de me falar: com futebol limpo, sem defensivismo, năo se chega a lugar algum. Desde 1982 ouço esta história. Taí o Săo Paulo que provou que pode ser campeăo sem qualquer tipo de deslealdade. Espero que o exemplo sirva para o futebol brasileiro."
(Telę, sobre o Săo Paulo campeăo mundial interclubes em 1992)