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VAVÁ

Edvaldo Izídio Neto - Atacante - Recife (PE) - 12.11.1934

Nelson Rodrigues escreveu certa vez: "Olhem Vavá. Não tem medo de ninguém, medo de nada. Se for preciso, ele dará a cara para o inimigo chutar. É, mal comparando, um Tartarin desgrenhado, que pegasse, à unha, leões de verdade. É desse peito largo e inexpugnável que o escrete brasileiro sempre precisou". As frases do brilhante jornalista contam melhor sobre Vavá que qualquer descrição que se lhe faça.

Começou a carreira em sua cidade natal, Recife, jogando pela equipe amadora do Sport. Contando apenas 17 anos, chamou a atenção de um olheiro ligado ao Vasco, que o indicou ao clube carioca. Lá, iria substituir o seu conterrâneo Ademir Menezes. Chegou ao Vasco ainda meia-esquerda. Foi o técnico Flávio Costa que descobriu nele as características de atacante e o faro de artilheiro.

Em campo, era um verdadeiro guerreiro. Para Vavá, não havia bola perdida. Corria o campo todo e disputava todos os lances. Símbolo de raça, valentia e força, características que lhe valeram o apelido de "Peito de Aço". Seu estilo dentro de campo contrastava com seu temperamento de homem reservado e tranqüilo fora dele.

Ainda naquele primeiro ano, já foi convocado para a seleção olímpica que jogou em Helsinque. No campeonato estadual, o jovem talento marcou o gol que deu à equipe cruzmaltina o título carioca. Ganharia ainda os títulos de 56 e 58, ano em que também ficou com a Taça-Rio São Paulo. 1958, aliás, foi um ano mágico para o Brasil e para Vavá. Convocado pelo técnico Vicente Feola, o atacante pernambucano defenderia a seleção brasileira na Copa da Suécia daquele ano.

Ficou de fora da primeira partida, assim como Mané Garrincha e o garoto Pelé. Após o empate em 0 a 0 contra a Inglaterra, diz-se que Didi e Nílton Santos tiveram uma conversa reservada com Vicente Feola e Paulo Machado de Carvalho, supervisor da seleção. Na conversa, Didi e Nílton pediram alterações na equipe, sugerindo um ataque com Vavá, Zagallo, Pelé e Garrincha.

Meio a contragosto, o treinador acatou a sugestão e não se arrependeu. Com dois gols de Vavá, o Brasil passava fácil pela União Soviética e se classificava para a segunda fase do Mundial. Em um deles, o jogador chutou ao mesmo tempo a bola e a sola do zagueiro Voronin. Em seguida, ainda mancando, corre para comemorar o gol.

Na partida seguinte, Vavá, machucado, ficou de fora da equipe, mas o Brasil venceu o País de Gales por 1 a 0 (gol de Pelé). Vavá voltou e marcou na semifinal contra a França. Na final, contra a Suécia, foram dois gols seus na vitória por 5 a 2 que deu ao Brasil o primeiro título de sua história.

Prestigiado, Vavá foi contratado pelo Atlético de Madrid. Atuou no futebol espanhol por três anos, até retornar ao Brasil para defender o Palmeiras. Não repetiu a boa época de Vasco no Palmeiras, embora tenha conquistado o campeonato paulista em 1963.

Seu estilo inconfundível voltou na Copa de 1962, quando ele e Garrincha estiveram entre os artilheiros da competição. Marcou 4 vezes e foi um dos grandes responsáveis pelo bi da seleção. Ganhou o apelido de "Leão da Copa" e encantou o mundo com sua dedicação à camisa canarinho.

Foram ao todo nove gols em Copas do Mundo. Em sua passagem pela seleção, foram 15, nas 25 partidas que disputou. Contabilizou 21 vitórias e apenas uma derrota, justamente na última partida, contra a Argentina, em 1964.

Naquele ano, transferiu-se para o futebol mexicano. Com o América, conquistou um campeonato nacional. Do México foi para os Estados Unidos, onde atuou, já sem o brilho de outrora, no San Diego. Voltou ao Brasil em 1970, para encerrar a carreira jogando na Portuguesa de Desportos.

Voltou ao futebol e à seleção brasileira em 1982, desta vez do lado de fora dos gramados. Foi auxiliar de Telê Santana numa das mais brilhantes participações brasileiras numa Copa, que, no entanto, não terminou em título. Morreu no Rio de Janeiro, a 19 de janeiro de 2002, com 67 anos, vítima de insuficiência cardíaca. Quase 40 anos após a conquista do bi, o time do céu ganha um grande goleador.


"Era mais fácil jogar com Vavá. A gente gritava e ele atendia. Lembro o jogo contra a França. Zagallo cobrou um corner. Recolhi a bola na entrada da área. Estava com a batata quente nos pés, sem ter para quem passar. A defesa francesa estava fechada. "Vem por trás", gritei. Vavá fez a volta em torno de mim. Arrastou dois ou três marcadores nas suas costas. Prendi a bola o tempo que pude. Aí, fiz o passe no espaço vazio. Ele entrou e marcou"
(Didi, relatando como foi o gol de Vavá na partida contra a França, pela semifinal da Copa de 1958)

“Eles eram infernais. Ninguém os conteria. Se você marcasse o Pelé, Garrincha escapava e vice-versa. Se você marcasse os dois, o Vavá entraria e faria o gol. Eles eram endemoniados"
(Just Fontaine, maior artilheiro em uma única Copa do Mundo, a respeito do time brasileiro da Copa de 58)

"Vavá está entre os maiores atacantes que vi jogar em minha vida"
(Nílton Santos, sobre o companheiro da seleção brasileiras nas Copas de 1958 e 62)

"Quem chega junto é burro. Não existe essa necessidade de violência, esse machismo besta e essa modernidade tonta. Você tem é que se antecipar às jogadas"
(Vavá, atacante da seleção brasileira bicampeã do mundo em 1958 e 62, sobre o futebol moderno)

"Naquela manhã, em Gotemburgo, eu briguei com ele. Fui expulso do treino. Tratava-se de uma indisciplina grave. Qual não foi a minha surpresa quando, na hora da escalação, meu nome estava alistado. De cima de sua generosidade, Feola não guardou raiva"
(Vavá, contando de sua surpresa por ter sido escalado para jogar contra a Inglaterra, na Copa do Mundo de 1958)