Nelson
Rodrigues escreveu certa vez:
"Olhem Vavá. Não tem
medo de ninguém, medo de
nada. Se for preciso, ele dará
a cara para o inimigo chutar.
É, mal comparando, um
Tartarin desgrenhado, que
pegasse, à unha, leões de
verdade. É desse peito largo
e inexpugnável que o escrete
brasileiro sempre
precisou". As frases do
brilhante jornalista contam
melhor sobre Vavá que
qualquer descrição que se
lhe faça.
Começou a carreira em sua
cidade natal, Recife, jogando
pela equipe amadora do Sport.
Contando apenas 17 anos,
chamou a atenção de um
olheiro ligado ao Vasco, que o
indicou ao clube carioca. Lá,
iria substituir o seu conterrâneo
Ademir Menezes. Chegou ao
Vasco ainda meia-esquerda. Foi
o técnico Flávio Costa que
descobriu nele as características
de atacante e o faro de
artilheiro.
Em campo, era um verdadeiro
guerreiro. Para Vavá, não
havia bola perdida. Corria o
campo todo e disputava todos
os lances. Símbolo de raça,
valentia e força, características
que lhe valeram o apelido de
"Peito de Aço". Seu
estilo dentro de campo
contrastava com seu
temperamento de homem
reservado e tranqüilo fora
dele.
Ainda naquele primeiro ano, já
foi convocado para a seleção
olímpica que jogou em
Helsinque. No campeonato
estadual, o jovem talento
marcou o gol que deu à equipe
cruzmaltina o título carioca.
Ganharia ainda os títulos de
56 e 58, ano em que também
ficou com a Taça-Rio São
Paulo. 1958, aliás, foi um
ano mágico para o Brasil e
para Vavá. Convocado pelo técnico
Vicente Feola, o atacante
pernambucano defenderia a seleção
brasileira na Copa da Suécia
daquele ano.
Ficou de fora da primeira
partida, assim como Mané
Garrincha e o garoto Pelé. Após
o empate em 0 a 0 contra a
Inglaterra, diz-se que Didi e
Nílton Santos tiveram uma
conversa reservada com Vicente
Feola e Paulo Machado de
Carvalho, supervisor da seleção.
Na conversa, Didi e Nílton
pediram alterações na
equipe, sugerindo um ataque
com Vavá, Zagallo, Pelé e
Garrincha.
Meio a contragosto, o
treinador acatou a sugestão e
não se arrependeu. Com dois
gols de Vavá, o Brasil
passava fácil pela União
Soviética e se classificava
para a segunda fase do
Mundial. Em um deles, o
jogador chutou ao mesmo tempo
a bola e a sola do zagueiro
Voronin. Em seguida, ainda
mancando, corre para comemorar
o gol.
Na partida seguinte, Vavá,
machucado, ficou de fora da
equipe, mas o Brasil venceu o
País de Gales por 1 a 0 (gol
de Pelé). Vavá voltou e
marcou na semifinal contra a
França. Na final, contra a Suécia,
foram dois gols seus na vitória
por 5 a 2 que deu ao Brasil o
primeiro título de sua história.
Prestigiado, Vavá foi
contratado pelo Atlético de
Madrid. Atuou no futebol
espanhol por três anos, até
retornar ao Brasil para
defender o Palmeiras. Não
repetiu a boa época de Vasco
no Palmeiras, embora tenha
conquistado o campeonato
paulista em 1963.
Seu estilo inconfundível
voltou na Copa de 1962, quando
ele e Garrincha estiveram
entre os artilheiros da
competição. Marcou 4 vezes e
foi um dos grandes responsáveis
pelo bi da seleção. Ganhou o
apelido de "Leão da
Copa" e encantou o mundo
com sua dedicação à camisa
canarinho.
Foram ao todo nove gols em
Copas do Mundo. Em sua
passagem pela seleção, foram
15, nas 25 partidas que
disputou. Contabilizou 21 vitórias
e apenas uma derrota,
justamente na última partida,
contra a Argentina, em 1964.
Naquele ano, transferiu-se
para o futebol mexicano. Com o
América, conquistou um
campeonato nacional. Do México
foi para os Estados Unidos,
onde atuou, já sem o brilho
de outrora, no San Diego.
Voltou ao Brasil em 1970, para
encerrar a carreira jogando na
Portuguesa de Desportos.
Voltou ao futebol e à seleção
brasileira em 1982, desta vez
do lado de fora dos gramados.
Foi auxiliar de Telê Santana
numa das mais brilhantes
participações brasileiras
numa Copa, que, no entanto, não
terminou em título. Morreu no
Rio de Janeiro, a 19 de
janeiro de 2002, com 67 anos,
vítima de insuficiência cardíaca.
Quase 40 anos após a
conquista do bi, o time do céu
ganha um grande goleador.
"Era
mais fácil jogar com Vavá. A
gente gritava e ele atendia.
Lembro o jogo contra a França.
Zagallo cobrou um corner.
Recolhi a bola na entrada da
área. Estava com a batata
quente nos pés, sem ter para
quem passar. A defesa francesa
estava fechada. "Vem por
trás", gritei. Vavá fez
a volta em torno de mim.
Arrastou dois ou três
marcadores nas suas costas.
Prendi a bola o tempo que
pude. Aí, fiz o passe no espaço
vazio. Ele entrou e
marcou"
(Didi, relatando como foi o
gol de Vavá na partida contra
a França, pela semifinal da
Copa de 1958)
“Eles
eram infernais. Ninguém os
conteria. Se você marcasse o
Pelé, Garrincha escapava e
vice-versa. Se você marcasse
os dois, o Vavá entraria e
faria o gol. Eles eram
endemoniados"
(Just Fontaine, maior
artilheiro em uma única Copa
do Mundo, a respeito do time
brasileiro da Copa de 58)
"Vavá
está entre os maiores
atacantes que vi jogar em
minha vida"
(Nílton Santos, sobre o
companheiro da seleção
brasileiras nas Copas de 1958
e 62)
"Quem
chega junto é burro. Não
existe essa necessidade de
violência, esse machismo
besta e essa modernidade
tonta. Você tem é que se
antecipar às jogadas"
(Vavá,
atacante da seleção
brasileira bicampeã do mundo
em 1958 e 62, sobre o futebol
moderno)
"Naquela
manhã, em Gotemburgo, eu
briguei com ele. Fui expulso
do treino. Tratava-se de uma
indisciplina grave. Qual não
foi a minha surpresa quando,
na hora da escalação, meu
nome estava alistado. De cima
de sua generosidade, Feola não
guardou raiva"
(Vavá, contando de sua
surpresa por ter sido escalado
para jogar contra a
Inglaterra, na Copa do Mundo
de 1958)