Raí
Souza Vieira de Oliveira -
Meia - Ribeirão Preto (SP) -
15.05.65
Raí
de Souza Vieira de Oliveira,
ou simplesmente Raí, é um
dos poucos jogadores que
conseguiu conquistar a maioria
dos títulos que disputou na
carreira. Em sua extensa coleção
de troféus encontram-se uma
Copa do Mundo, um Mundial
Interclubes, duas
Libertadores, um Campeonato
Francês e um Brasileiro.
Ídolo tanto no São Paulo
como no Paris Saint Germain,
Raí entrou para a história
com sua habilidade, classe e
postura. Decidia partidas com
toques de mestre e gols
oriundos de cobrança de
faltas ou de jogadas
habilidosas. Gols que sempre
eram comemorados com um pulo e
um soco no ar.
Nascido em Ribeirão Preto a
15 de maio de 1965, Raí é o
caçula de 6 irmãos. Seguindo
os passos de seu irmão mais
velho, Sócrates, ídolo no
Corinthians, foi fazer teste
para ser jogador do Botafogo
de Ribeirão Preto por indicação
de amigos. Passou. No começo
não levava o futebol muito a
sério, faltava treinos e o
considerava apenas um hobby.
Mas, aos 18 anos decidiu virar
jogador profissional, logo após
casar-se com Cristina, 1 ano
mais nova, e ver nascer sua
primeira filha, Emanuela. A
essa altura, Raí já via o
futebol como uma fonte de
renda para sua família e
planejava chegar a um clube
grande e à seleção. Ainda
no Botafogo de Ribeirão
Preto, ganhou a primeira
chance na seleção
brasileira, conquistando o
pan-americano em 87. Em 88,
foi emprestado para a Ponte
Preta e no mesmo ano, por 500
mil dólares, recorde para
transações entre clubes
brasileiros até então, o São
Paulo comprou o passe do
jogador.
Raí teve dificuldades no São
Paulo. Era considerado muito
lento e teve difícil adaptação,
tanto no clube como na cidade
de São Paulo. Mas o técnico
Cilinho já confiava no
futebol de Raí. Trocou-o de
posição, passando do ataque
para o meio-campo. Com o tempo
foi ganhando a confiança dos
treinadores e da torcida e em
pouco mais de um ano no clube
já era o capitão do time. Em
1989 ganhou seu primeiro título
no São Paulo, o Paulista.
Participou da campanha do
Paulista de 1990, quando o
time foi rebaixado, mas
manteve-se líder da equipe.
Equipe que começou a encantar
o mundo um ano depois.
Começou com o Campeonato
Brasileiro de 1991, quando o São
Paulo ganhou o título em cima
do Bragantino. No Paulista do
mesmo ano, vingou a final do
Brasileiro do ano anterior e
foi campeão em cima do
Corinthians. Raí marcou os três
gols (um de cabeça, um de
falta, um através de uma
bomba da intermediária) no
primeiro jogo da final e foi
artilheiro do campeonato.
Estava numa excelente fase e
era reconhecido até pelos
adversários. O goleiro
Ronaldo, do Corinthians,
comentava espantado: "A
fase dele está tão boa que
ele ganha qualquer coisa que
estiver em jogo".
1992 é o ano do São Paulo.
Além do campeonato paulista,
conquistado sobre o Palmeiras,
o clube ganha sua primeira
Libertadores de forma
brilhante. O São Paulo de Raí
e do mestre Telê não só
vence os jogos, como dá espetáculo.
Depois, em Tóquio, o tricolor
conquista o mundo ao bater o
Barcelona no Mundial
Interclubes. Raí mais uma vez
marca presença, fazendo um
gol inesquecível de falta.
Em 1993, Raí levou o clube ao
bi da Libertadores e, na
primeira partida da final, que
o São Paulo ganhou do
Universidad Católica do Chile
por 5 a 2 no Morumbi, Raí fez
uma partida antológica. Tanto
sucesso começou a despertar o
interesse dos clubes europeus.
Recebeu propostas do Atlético
de Madri, do Barcelona e do
Paris Saint Germain.
Preferiu o último, por achar
que, em Paris, teria uma vida
mais tranqüila, devido aos
franceses serem menos fanáticos
que os espanhóis. Pesava também
o fato da ótima experiência
de vida e cultural que
certamente teria na França.
Seis anos depois de chegar ao
São Paulo e conquistar quase
tudo que disputou no clube, Raí
deixava os sãopaulinos no
segundo semestre de 1993,
antes da disputa do segundo título
Mundial Interclubes em Tóquio.
Sob o comando da rede de
televisão Canal Plus,
interessada em investir no
futebol francês, o PSG passa
a contratar grandes craques do
futebol mundial. Do Brasil, já
haviam levado Geraldão, Valdo
e Ricardo Gomes. Agora era a
vez de comprar o melhor
jogador da América do Sul.
Depois de dois anos de glórias
intermináveis, Raí viveria
agora anos difíceis, em que
sofreu bastante com a adaptação
à Europa e as críticas dos
torcedores, sejam eles
franceses (pelo PSG) ou
brasileiros (pela seleção).
Assim como no início no São
Paulo, Raí teve muitas
dificuldades na chegada na
França. O brasileiro chegou
em Paris causando um reboliço
sem precedentes em um país não
tão interessado por futebol
como seus vizinhos italianos e
espanhóis. No entanto, foi só
não apresentar, logo nos
primeiros jogos, o futebol que
o consagrou no São Paulo,
para a imprensa passar a
questionar a sua qualidade e
chamá-lo de lento.
A temporada 93-94 é digna de
esquecimento. Treinado pelo
português Artur Jorge, Raí
chegou a amargar o banco de
reservas por diversos jogos e,
de lá, assistiu à conquista
do PSG do campeonato francês.
O inferno se completa com a
Copa do Mundo. Do mesmo modo
que na França, sua equipe
também sairia campeã, mas Raí
seria mero coadjuvante do título.
Começou como titular e capitão,
tendo inclusive marcado um
gol, de pênalti, contra a Rússia.
No decorrer da competição,
no entanto, é sacado pelo técnico
Parreira, que, pressionado
pela torcida brasileira, põe
Mazinho em seu lugar. Raí só
jogou integralmente a primeira
partida. Nos dois jogos
seguintes, ainda na primeira
fase, foi substituído durante
a partida por Müller (contra
o Camarões), e Paulo Sérgio
(contra a Suécia).
A partir daí, é ele que
passa a ser o suplente de
Mazinho (Raí o substitui
durantes os jogos contra a
Holanda e Suécia), que entra
definitivamente em seu lugar.
A final, contra a Itália, Raí
assiste do banco.
Tudo começou a mudar para o
meia após a Copa dos Estados
Unidos. No PSG, chega o técnico
Luis Fernandez. Mais preparado
psicologicamente e
fisicamente, Raí vive uma
ressureição impressionante.
Na temporada 94-95, já é
reconhecido como grande
jogador e termina o campeonato
como artilheiro.
Atuações brilhantes e memoráveis
são cada vez mais freqüentes.
Raí vira peça-chave do Paris
Saint-Germain campeão da
Recopa em 96. E a ascensão
permanece nos anos seguintes.
Raí passa a ser ídolo de uma
nação. A França o admira de
várias maneiras. Seja como o
latin-lover que acaba virando
garoto-propaganda e modelo de
capa de revista, seja pela sua
inteligência e atitude
extra-campo, seja pela
qualidade e elegância de seu
futebol.
Em 98, sua ultima temporada na
Europa, já é o capitão e
grande ídolo do clube. Neste
ano, a equipe tricolor
conquista também a Copa da
Liga e a Copa da França.
Alguns o apontam como o melhor
jogador da história do clube,
mesmo que por lá já tenham
figurado craques como Susic,
Fernandez, Ginola e Weah. No
adeus oficial, em pleno estádio
de Parc des Princes, Raí é
ovacionado e chora
copiosamente.
Pressionado pela crítica
esportiva, que pedia mais
experiência à seleção que
disputaria a Copa da França
em 98, o técnico Zagallo
resolve convocar novamente Raí.
Mas o faz em apenas um jogo,
justamente a última partida
do Brasil antes da Copa. Num
Brasil e Argentina (1 a 0 para
a Argentina, gol de Cláudio
Lopes) em que toda a seleção
foi muito mal, Raí "paga
o pato" e ouve o coro
"Raí, pede pra
sair" da furiosa torcida
presente ao Maracanã. É sua
despedida melancólica da seleção
canarinho.
Dias depois da fatídica
derrota para os argentinos, Raí
volta a campo para provar que
poderia ter se juntado ao
grupo que foi à Copa. Cinco
anos depois de ter deixado o São
Paulo, Raí, como bom moço,
à casa retornou. E o fez em
grande estilo: chegou na última
partida da final do Campeonato
Paulista. O técnico Nelsinho
Baptista não sabia se deveria
ou não, portanto, colocá-lo
em campo. Reuniu os jogadores
do elenco e pediu-lhes a opinião.
"Foram unânimes. O Raí
tinha que jogar", diz
Nelsinho.
Raí jogou e marcou um gol de
cabeça na vitória de 3 a 1
em cima do Corinthians, que
deu o título ao Tricolor. O
último titulo paulista que o
clube havia conquistado fora
em 1992, antes de Raí ir pra
Europa. Ovacionado pelos
tricolores, Raí vê se
aproximar o repórter Roberto
Tomé, da Rede Globo, que dele
espera um desabafo, uma
resposta ao treinador Zagallo
por não tê-lo posto no grupo
que iria à Copa.
"Raí, o que você diria
ao Zagallo agora?",
pergunta Tomé. Ao que o meia
responde, com toda a sua
inteligência: "Nada. Não
preciso responder nada a ninguém.
As respostas são dadas ao
longo da carreira".
Zagallo perdera não só um
craque nos gramados, mas também
um enorme caráter e
importante líder para a Copa
de 98.
No campeonato Brasileiro do
mesmo ano, nas primeiras
rodadas, o zagueiro Gottardo,
do Cruzeiro, acertou o joelho
de Raí, rompendo seu tendão.
Ele teve que ficar parado por
oito meses. O São Paulo
sentiu a falta do ídolo e por
pouco não foi rebaixado para
a segunda divisão no mesmo
ano. Enquanto se recuperava,
Raí ganhou sua primeira neta.
Depois de ser pai aos 17 anos,
Raí agora era avô aos 33.
Depois da recuperação, o
"vovô" Raí voltava
à sua grande forma. Em 1999,
mesmo diante de tantos escândalos
no tapetão, conseguiu, com
toda sua experiência, ajudar
a classificar o São Paulo
para a segunda fase do
Campeonato Brasileiro, feito
que não ocorria desde 1993.
Foi eliminado pelo Corinthians
nas semifinais.
Experiente, seguro e em grande
forma física apesar da idade,
Raí comandou o São Paulo na
conquista de mais um
Campeonato Paulista, em 2000.
No mesmo ano perdeu a Copa do
Brasil, um dos poucos troféus
que disputou e não ganhou na
carreira, nos minutos finais
para o Cruzeiro. Após a
eliminação do São Paulo na
Copa dos Campeões em julho do
mesmo ano, Raí anunciou o fim
de sua vitoriosa carreira.
Conquistou, em 13 anos, 1 Copa
do Mundo, 1 Mundial
Interclubes, 2 Libertadores, 1
Brasileiro, 5 paulistas, 1
campeonato francês, 2 Copas
da França e uma Recopa européia,
dentre outros torneios como
Ramón de Carranza, Copa da
Liga, etc. Ídolo em Paris e
em São Paulo, tem seu jogo de
despedida marcado para julho
desse ano. Serão dois
amistosos São Paulo x Paris
Saint Germain: o primeiro no
Morumbi, em São Paulo, onde
jogará pelo tricolor; o
segundo em Paris, quando atuará
pelo clube local.
Mesmo abandonando a carreira,
Raí não quer desligar-se do
futebol: é colunista do
jornal O Estado de São Paulo.
Além disso, montou, junto com
seu amigo Leonardo, com quem
atuou no São Paulo e no Paris
Saint Germain, a Fundação
Gol de Letra, que cuida de
crianças carentes dando-lhes
educação e formando novos
atletas para o futuro. Raí,
um craque em campo e fora
dele.
"A fase dele está tão
boa que ele ganha qualquer
coisa que estiver em
jogo"
(Ronaldo, goleiro do
Corinthians que tomou 3 gols
de Raí na final do Campeonato
Paulista de 1991)
"Não há jogador
insubstituível e nem
treinador. Mas sempre que um
profissional do nível de Raí
sai, é certo que será difícil
encontrar outro para o lugar,
por causa das qualidades e do
homem em si. Eu nunca tive
problema com o Raí no São
Paulo. Foi um jogador que não
olhou apenas o seu lado, mas
defendia e ajudava os
companheiros. Ele sempre
respeitou as normas e deu
exemplos"
(Telê Santana, treinador
de Raí no São Paulo)
"O São Paulo é uma
equipe de mestres! Um time
iluminado!"
(Ignácio Prieto, técnico
da Universidad Católica, do
Chile, após a derrota de sua
equipe para o São Paulo por 5
a 1, na final da Libertadores
de 93)
"Depois de um tempo, fui
eu que virei o irmão do Raí"
(Sócrates, craque da seleção
brasileira na década de 80,
sobre o fato de, no início da
carreira, Raí ser chamado de
"o irmão de Sócrates"
e, depois, a situação ter se
invertido)
"Raí acabou com meu
time. Desequilibrou. Fez a
diferença"
(Wanderley Luxemburgo, técnico
do Corinthians, derrotado pelo
São Paulo na final do Paulistão
1998)
"Raí não ganhou títulos
como Ronaldão e Müller, não
desequilibrou como Careca ou
Pedro Rocha, não encantou
como Leônidas ou Gérson, mas
fez um pouco disso tudo. Por
isso, pode ser considerado o
craque são-paulino de todos
os tempos"
(Revista Placar, edição
1165, Junho de 2000 - 581
craques do Brasil)
"Raí e Sócrates juntos
dão quase um Pelé. E Raí é
líder"
(Telê Santana, treinador
de Raí no São Paulo)]