Um
dos maiores jogadores de todos
os tempos. Habilidade e visão
de jogo fora do comum, lançamentos
longos e gols espetaculares
eram algumas características
desse que foi o maior meia do
futebol brasileiro. Driblava
apenas quando necessário, mas
com extrema categoria e eficiência.
Negro, alto, de porte esguio,
não olhava para a bola,
mantendo sempre a elegância,
o que lhe valeu o apelido de
“Príncipe Etíope”.
Jogador de meio-campo, era um
meia original e moderno para o
seu tempo, marcando e atacando
com a mesma intensidade.
Por
pouco não se tornou o jogador
que foi. Passou grande parte
de sua adolescência jogando
peladas nas ruas de Campos, no
Rio de Janeiro, onde nasceu.
Numa dessas peladas, aos 14
anos, levou uma entrada forte
no joelho direito. A pancada
virou infecção, e a perna
correu risco de ser amputada.
O então garoto Didi passou
meses andando de cadeira de
rodas.
Sua
história como jogador
profissional começou aos 16
anos, no Americano de Campos,
em 1945. Teve passagens rápidas
pelo Lençoense, de São Paulo
(1945) e pelo Madureira
(1946). Se firmou como
profissional no Fluminense,
onde jogou e foi ídolo de
1946 a 1956. Pelo
tricolor, marcou 92 gols em
274. Foi eleito o melhor meia
da história do clube carioca.
Descontente com o tratamento
que o clube lhe dava, foi
negociado com o Botafogo, onde
jogou de 1956 a 1958. É
considerado unanimamente um
dos maiores jogadores do
alvinegro, ao lado de
Garrincha e Nílton Santos. No
total, foram 313 jogos e 113
gols pelo Botafogo.
Saiu
do Botafogo para jogar e
ganhar dinheiro no Real Madrid
de Puskas e Di Stéfano, onde
jogou de 1959 a 1961. A
passagem pelo exterior foi
conturbada. O jogador não se
adaptou e acusou os astros da
equipe de boicotarem o seu
futebol. Voltou da Espanha
para o Botafogo, onde jogou
entre 1961 e 1962. Teve ainda
uma breve passagem pelo São
Paulo em 1963. No ano
seguinte, encerrou a carreira
de jogador e iniciou a de
treinador no Sporting Cristal,
do Peru. Foi treinador da seleção
peruana na Copa de 1970, na
Turquia e na Arábia Saudita,
além de times como o River
Plate da Argentina, o
Fluminense e o Botafogo.
Didi
foi um dos jogadores mais
criativos de sua época. Criou
a famosa “folha-seca”, um
jeito venenoso de bater
faltas. A bola subia,
despretensiosa. Ao chegar
perto do gol, tomava outra
direção, caindo longe dos
braços dos goleiros,
lembrando o movimento de uma
folha caindo de uma árvore.
Alguns
fatos marcaram a vida desse
magnífico jogador. Fez o gol
inaugural do Estádio do
Maracanã, em 1950, no jogou
entre a seleção de novos do
Rio e de São Paulo, com vitória
dos paulistas por 2 a 1. Em
1957, depois de ganhar o
campeonato carioca pelo
Botafogo, atravessou a pé a
cidade do Rio de Janeiro,
cumprindo uma promessa. Ainda
em 1957, com uma
“folha-seca”, fez o gol da
classificação do Brasil nas
eliminatórias para a Copa do
Mundo de 1958. Na final da
Copa, mostrou liderança e
comando ao buscar a bola nas
redes brasileiras quando do
primeiro gol sueco, levando-a
até o meio-campo e iniciando
ali a virada canarinho.
Foi
4 vezes campeão carioca: em
1951 pelo Fluminense e em
1957, 1961/62 pelo Botafogo.
Disputou 3 Copas do Mundo, em
1954, 1958 e 1962. Foi o pilar
da conquista da Copa do Mundo
de 1958. No mesmo time que
tinha Pelé e Garrincha, foi
considerado o maior jogador da
Copa. Foi ainda Bi-Campeão
Mundial pela Seleção, em
1962. Jogou 74 partidas pela
Seleção, marcando 21 gols.
Está na seleção de todos os
tempos de Fluminense e
Botafogo.
No
início de 2000, foi
homenageado com uma placa no
Maracanã (por ter feito o gol
inaugural), na cerimônia de
inauguração da primeira
etapa da reforma do estádio.
Ainda neste ano, no dia 24 de
janeiro, ao lado de George
Best, Van Basten e Zico,
entrou para o International
Football Hall of Champions, o
Hall da Fama da FIFA, onde já
estão jogadores como Pelé,
Beckenbauer e Cruyff. Com seu
jeito peculiar de bater na
bola, lançamentos perfeitos e
dribles desconcertantes, foi
inesquecível. Seus títulos e
glórias fizeram de Didi o
maior meia do futebol
brasileiro.
“Eu sempre tive muito
carinho por ela. Porque se não
a tratarmos com carinho, ela não
obedece. Quando ela vinha, eu
a dominava, ela obedecia. Às
vezes ela ia por ali, e eu
dizia: ‘Vem cá,
filhinha’, e a trazia. Eu
pegava de calo, de joanete, e
ela estava ali, obediente. Eu
a tratava com tanto carinho
como trato minha mulher. Tinha
por ela um carinho tremendo.
Porque ela é fogo. Se você a
maltratar, quebra a perna. É
por isso que eu digo:
‘Rapazes, vamos, respeitem.
Esta é uma menina que tem que
ser tratada com muito
amor...’ Conforme o
lugarzinho em que a tocarmos,
ela toma um destino”.
(Valdir Pereira, o Didi, sobre
o trato com a bola)
“Quando eu jogava futebol,
se pudesse, tinha sempre que pôr
uma bolinha embaixo da cama.
Quando eu acordava, tocava
nela, e sentia, tinha
sensibilidade, dava o toque
inicial nela, dizendo: ‘ela
está aí’”.
(Valdir Pereira, o Didi, sobre
a bola)
“Eu não precisava correr.
Quem precisava correr era a
bola. Eu dava um passe de 40
metros, para que que eu vou
correr quase 35 metros para
poder dar um passe de 5, se eu
posso dar um passe de 40”.
(Valdir Pereira, o Didi, sobre
a sua facilidade em fazer lançamentos)
“Eu tive uma satisfação íntima
quando fiz o primeiro gol do
Maracanã, em 1950. Eu passei
duas noites sem dormir e
sempre procurava passar perto
do Maracanã. Pensava:
‘Puxa, eu inaugurei esse negócio,
isso aí vai ter uma placa’.
Só o dia que destruírem esse
estádio que vão esquecer do
Didi, que fez o primeiro
gol”.
(Valdir Pereira, o Didi, sobre
ter feito o primeiro gol do
Maracanã)
“Eu gostaria que a máquina
do tempo recuasse um pouquinho
e desse a oportunidade para
vocês que não me viram e não
tiveram a felicidade de ver um
Nílton Santos, um Garrincha,
um Pelé, um Didi, um
Zizinho... Queria que a máquina
do tempo recuasse um pouquinho
e fizesse um jogo entre 1958 e
1970... e seria o espetáculo
da terra. Meio tempo Pelé no
time de 58, e meio tempo Pelé
no time de 70. Seria uma coisa
fantástica”.
(Valdir Pereira, o Didi, sobre
os grandes jogadores de sua época)
“Não se podia desejar mais
de um homem, ou por outra: não
se podia desejar mais de um
brasileiro. Ninguém que
jogasse com mais gana, mais
garra, e, sobretudo, com mais
seriedade. Nem sempre marcava
gols. Mas estava, fatalmente,
por trás dos tentos alheios.
Era ele quem amaciava o
caminho, quem desmontava a
defesa inimiga com seus lançamentos
em profundidade. Com uma
simples ginga de corpo,
liquidava o marcador. E nas
horas em que os companheiros
pareciam aflitos, ele, com sua
calma lúcida, o seu
clarividente métier, prendia
a bola e tratava de evitar um
caos possível”.
(Nelson Rodrigues, jornalista,
escritor e dramaturgo, após a
vitória do Brasil contra a Suécia
na Final da Copa do Mundo de
1958)
“Com suas gingas
maravilhosas, ele, em pleno
jogo, dava a sensação de que
lhe pendia do peito não a
camisa normal, mas um manto de
cetim azul, com barra de
arminho”.
(Nelson Rodrigues, jornalista,
escritor e dramaturgo, após a
vitória do Brasil contra a Suécia
na Final da Copa do Mundo de
1958)
“Com sua voz bonita,
parecida com a do locutor Luiz
Jatobá e levemente pachola,
ele caprichava na escolha das
palavras. Não chamava a bola
de bola, mas de “menina”.
Orgulhava-se de nunca ter
pisado nela com as travas da
chuteira – era como se
jogasse de polainas. Quando
entrava em campo, observava
como este ou aquele adversário
suspirava de admiração e o
namorava com os olhos. Didi
decidia: “Esse é meu fã.
É para cima dele que eu
vou”. Reinava no gramado com
seu porte alto, ereto, os
olhos à altura da linha do
horizonte. Nunca punha a cabeça
na bola – a cabeça fora
feita para pensar, não para
dar marradas. E, embora fosse
um mestre do drible, só
driblava em último recurso.
Seu forte eram os passes de
quarenta metros, de curva, que
pareciam ir em direção à
cabeça do adversário e se
desviavam, caindo de colher
para o companheiro”.
(Ruy Castro, jornalista e
escritor)
“Didi dá vida à bola. Faz
ela falar.”
(Companheiros de Didi na Copa
do Mundo de 1958)
"Didi, do chute oblíquo
e dissimulado como o olhar de
Capitu." (Armando
Nogueira, jornalista e
escritor)
"Se eu e Nílton estivéssemos
no Mundial da Inglaterra, não
haveria aquele fiasco. Aquela
gente ia ver quem tinha
gasolina no tanque."
(Didi, ex-meia da Seleção
Brasileira, sobre Nílton
Santos e a Copa de 66)
"O estilo era cadenciado,
lento. Bola de pé em pé para
não gastar energia. Afinal,
se somadas, nossas idades
passariam de mil anos!"
(Didi, sobre o estilo de
jogo brasileiro na Copa do
Chile, em 62)
"Foi uma honra jogar com
eles. Eram todos
craques."
(Gérson, ex-craque da
Seleção Brasileira,
prestando sua homenagem a
Didi, Nílton Santos,
Garrincha e outros, com quem
atuou no Botafogo)
"Herdei do Mestre Ziza o
bastão de organizador de
jogadas do futebol
brasileiro"
(Didi, o maior meia da
história do futebol
brasileiro)