Um
dos maiores armadores de jogo
que o futebol brasileiro já
conheceu. É certamente o
melhor lançador da história
do Brasil. Tinha uma precisão
fora do comum e era capaz de
dar passes milimetricamente
perfeitos de qualquer distância,
seja de bola parada ou em
movimento. Podia facilmente
colocar a bola no pé de um
companheiro a 40 metros de
distância. Além do lançamento
perfeito, possuía um grande
senso tático e estratégico
do jogo.
Era
um verdadeiro técnico dentro
de campo, orientando seus
companheiros e exigindo o máximo
empenho de cada um. Chutava
bem de fora da área e suas
faltas eram sempre um perigo
para o goleiro adversário.
Seus
gritos e a orientação
constante lhe valeram o
apelido de
"Papagaio", porque não
parava de falar. Tinha um
grande senso de equilíbrio e
quase nunca era derrubado.
Costumava usar o calção bem
abaixo da linha da cintura
para facilitar seus
movimentos. Nunca se intimidou
em dizer a verdade e criticava
os jogadores que estavam
atuando mal, sem medir as
conseqüências de suas
declarações. Era muito
calculista e tinha uma incrível
capacidade de descobrir o
melhor momento para fazer um
lançamento e encontrar um
companheiro livre. Respeitado
por seus amigos, não admitia
levar desaforo para casa e não
foram raras as vezes em que
planejou entrar mais duro em
um adversário para descontar
alguma jogada anterior.
Não
suportava ser derrotado sequer
em treinos, razão pela qual
sempre se dedicava ao máximo.
Líder autêntico, não tinha
medo de brigar com Pelé, de
criticar os treinadores e de
discutir com seus colegas
dentro de campo. Tudo para
buscar a vitória para seu
time. Era corajoso, emotivo,
autoritário, sincero,
determinado e de moral
elevado.
Começou
sua carreira no Flamengo ainda
como juvenil aos 17 anos. Aos
18, estreou na equipe
principal e foi convocado para
disputar os jogos
Pan-Americanos de 59 em
Chicago pela Seleção
Brasileira. Marcou seu
primeiro gol com a camisa
canarinho na partida Brasil
4-0 Cuba, naquele mesmo ano.
Em 60, disputou as Olimpíadas
de Roma defendendo o Brasil.
Aos 21 anos, foi obrigado a
fazer sua primeira operação
no menisco e por conta disso não
pôde participar da Copa de
62. Foi campeão carioca pelo
Flamengo em 63 e no mesmo ano
foi negociado com o Botafogo,
por várias divergências com
o técnico Flávio Costa. No
Bota, formou um time memorável
que tinha Garrincha, Nílton
Santos, Didi e Quarentinha.
Foi bicampeão carioca em 67 e
68 e do Rio-São Paulo em 66.
Formou depois outra grande
equipe no alvinegro, desta vez
com Jairzinho, Roberto Miranda
e Paulo César Caju.
Em
69, foi vendido para o São
Paulo. A calvície já começava
a aparecer no meia de 29 anos
e muitos achavam que já
estava muito velho para o
futebol. Provou que a idade não
pesa para o craque e foi
convocado para a Seleção
Brasileira que iria à Copa de
70. Jogou quatro partidas na
Copa, tendo marcado um gol
(justamente na final, contra a
Itália) e foi eleito para a
Seleção dos melhores
jogadores do Mundial de 70. Na
Copa, foi um dos líderes da mágica
Seleção Brasileira e ganhou
o apelido de "Canhotinha
de Ouro". Confessava ser
um mau marcador, mas sua noção
de estrategista fez com que
decidisse inverter seu
posicionamento com Clodoaldo,
na partida contra o Uruguai.
Sentindo
que estava bem marcado, trocou
de posição com Clodoaldo,
passando a jogar de volante e
liberando o jogador do Santos
para atacar. O resultado foi o
gol de Clodoaldo, que empatou
a partida, posteriormente
vencida pelo Brasil por 3-1.
Depois do tricampeonato
mundial, voltou ao São Paulo
e foi bicampeão paulista em
70 e 71, quebrando um jejum
que já durava treze anos no
tricolor.
Aos
31 anos, em 72, foi vendido ao
Fluminense e atuou dois anos
pelo tricolor antes de
encerrar a carreira em seu
time do coração. Consagrado
pela carreira vitoriosa, foi o
líder do time que foi campeão
estadual em 73, fechando sua
passagem no futebol com chave
de ouro em 74. O balanço em
15 anos de carreira não
poderia ser mais positivo: 4
campeonatos cariocas (1 pelo
Fla, 2 pelo Bota e 1 pelo
Flu), 1 Copa do Mundo (em 70),
1 Torneio Rio-São Paulo (66,
pelo Bota) e 2 campeonatos
paulistas (70 e 71).
Apesar
de reconhecer alguns de seus
defeitos (não chutar de pé
direito, cabecear extremamente
mal e marcar pouco), suas
virtudes acabaram por superá-los
e fazer dele um dos maiores
jogadores do futebol
brasileiro. A prova disso é a
sua inclusão em nada menos do
que três Seleções de todos
os tempos de alguns dos
principais times do nosso país
(Botafogo, São Paulo e
Fluminense).
Jogou
93 vezes pelo São Paulo e
marcou 12 gols. Pelo time do
coração, o Flu, foram 55
jogos e 5 gols. Jogando na
Seleção Brasileira, foram 23
gols em 83 partidas oficiais.
Em jogos não oficiais, foram
mais 15 jogos e mais 5 gols.
Apesar de não ser um grande
goleador, duas partidas
ficaram marcadas em sua memória:
em 59, o Brasil venceu o México
por 6-2 no Pan-Americano e Gérson
marcou 3 gols. No ano
seguinte, a Seleção enfiou
5-0 em Formosa, com outros 3
gols do Canhotinha.
Ao
longo de sua carreira, quebrou
a perna de três jogadores.
Com Vaguinho, do Corinthians,
ele jura que o lance foi
acidental. Os outros dois ele
admite que fez de propósito.
O primeiro foi com o jovem
Mauro, em um treino do
Flamengo. Mauro ainda era
juvenil e havia entrado muito
duro em Gérson em um lance
anterior. Na primeira
oportunidade, o
"Papagaio" acertou
em cheio o voluntarioso
jogador. Com De La Torre, do
Peru, a coisa foi mais
planejada ainda. Gérson diz
que combinou com Pelé que
iria quebrar a perna do adversário,
que já havia batido em meio
time do Brasil e lhe desferido
uma cotovelada. Pelé, então,
lançou a bola na medida para
uma dividida entre os dois e Gérson
aproveitou para solar o
peruano, quebrando-lhe a
perna.
Fumante
inveterado, não dispensava um
cigarrinho nos intervalos dos
jogos. O massagista Nocaute
Jack, da Seleção Brasileira,
sabia do costume e já deixava
o fósforo e o maço de
cigarros preparados para o
Canhota. Depois de encerrar a
carreira, ficou famoso por
fazer um comercial de uma
marca de cigarro, no qual lia
o seguinte texto: "Você
também gosta de levar
vantagem em tudo,
certo?", aproveitando seu
famoso bordão. A frase acabou
ficando conhecida por
"Lei de Gérson" e
interpretada em um sentido
pejorativo, em que o
brasileiro só pensava em
passar a perna nos outros.
Depois, deixou de fumar e se
tornou um dos mais respeitados
comentarista esportivos
brasileiros, posição em que
atua até os dias de hoje.
"Cansei de fazer gols com
seus lançamentos."
(Terto, ex-ponta-direita do São
Paulo, sobre os grandes lançamentos
de Gérson)
"Já não tinha mais a
mesma motivação. Para
trabalhar, é preciso ânimo."
(Gérson, ex-craque da Seleção
Brasileira, explicando porque
encerrou a carreira no Flu aos
33 anos)
"Foi uma honra jogar com
eles. Era todos craques."
(Gérson, ex-craque da Seleção
Brasileira, prestando sua
homenagem a Didi, Nílton
Santos, Garrincha e outros,
com quem atuou no Botafogo)
"Gérson era tão
fenomenal que depois de sua saída
o Botafogo ficou 21 anos sem
ser campeão."
(Jorge Aurélio Domingues,
ex-diretor do Botafogo)
"Quando ele parou,
sumiram os grandes lançadores
do futebol. Foi meu
herdeiro."
(Didi, ex-craque do Botafogo e
da Seleção Brasileira, sobre
Gérson)
"Ele parecia um técnico
dentro do gramado."
(João Máximo, jornalista e
escritor, sobre Gérson)
"Não entrei no futebol
para brincar."
(Gérson, ex-craque da Seleção
Brasileira e colecionador de vários
títulos)
"Ele era um jogador que
queria vencer sempre, não
aceitava a derrota assim fácil."
(Orlando Pingo de Ouro,
ex-atacante do Fluminense e da
Seleção Brasileira, sobre Gérson)
"Ele era excepcional para
descobrir um companheiro livre
onde estivesse."
(Nelsinho Rosa, técnico de
futebol, sobre a capacidade de
lançar de Gérson)
"Percebo que acertei ao
me dedicar à bola tanto
tempo. Acho que fiz o
suficiente para ser colocado
entre os melhores."
(Gérson, ex-craque da Seleção
Brasileira, sobre sua
carreira)
"O vampiro de Dusseldorf,
que era especialista em
sangue, se provasse o sangue
de Gérson, havia de piscar o
olho: - 'Sangue do puro, do
legítimo, do escocês'."
(Nélson Rodrigues, escritor,
jornalista e dramaturgo,
rebatendo as críticas de que
Gérson não tinha
"sangue e coragem")
"Muita gente critica o
jeito que eu uso o calção,
bem caído. Concordo que não
é muito estético, mas posso
garantir que me facilita os
movimentos."
(Gérson, ex-craque da Seleção
Brasileira)
"Ser líder é não
querer perder nunca, dentro ou
fora de campo e tratar a todos
- cozinheiro ou dirigente -
com a mesma dignidade. Então,
sou líder aqui, em casa e na
rua."
(Gérson, ex-craque da Seleção
Brasileira)