Sócrates
Brasileiro S. S. Vieira de
Oliveira - Meia - Belém (PA)
- 19.02.54
Sócrates
Brasileiro Sampaio de Souza
Vieira de Oliveira. O nome é
grande e diferente, como foi o
seu futebol. O paraense Sócrates
foi, sem dúvida, um dos mais
cerebrais jogadores
brasileiros de todos os
tempos. Tanto dentro de campo,
organizando todas as jogadas
como um autêntico comandante,
quanto fora, criando
movimentos inesquecíveis como
a Democracia Corinthiana.
Em plena ditadura, o jogador
ajudou a implantar no
Corinthians um sistema democrático.
Do reserva ao diretor de
futebol, todos tinham direito
a um voto e as decisões eram
tomadas de acordo com a
maioria. Dessa forma
conseguiram, por exemplo, o
fim da concentração.
Não se pode confundir, no
entanto, o Sócrates
politizado, líder e
inteligente com o Sócrates
atleta. Se era um exemplo de
cidadão, nunca fora, no
entanto, exemplo de
desportista. Na verdade, como
bem frisou a Revista Placar na
edição de 100 anos do
Futebol no Brasil, Sócrates
tinha tudo para dar errado.
Fumava, bebia, não suportava
concentração, tinha pé
pequeno (41) em relação à
altura (1,91m) e ainda fazia
Medicina ao mesmo tempo em que
jogava bola.
Só que, ao contrário de
muita gente, Sócrates não
precisava fazer nenhum esforço:
ele era craque naturalmente.
Por mais que não quisesse ou
não fizesse questão, o
futebol parecia lhe pegar
pelos braços e chamar para
si. "Na verdade, eu
joguei futebol por acidente.
Meu negócio era
Medicina", afirmou em
entrevista recente.
Pois se era doutor que ele
queria virar, acabou virando
duas vezes. O apelido
"Doutor", que ganhou
da imprensa e dos colegas, era
parte por causa do diploma
universitário, parte pela
qualidade de seu futebol. Sócrates
impunha respeito. Sua figura
enorme e esguia cadenciava o
meio de campo. Jogava fácil,
tocava de primeira com perfeição,
além de fazer milimétricos
lançamentos.
Era extremamente sóbrio e
frio. Tão frio que esta
característica lhe levou a
receber críticas de torcida e
imprensa. Segundo eles, Sócrates
"não tinha paixão".
Muito magro, compensava o físico
frágil com muita técnica.
Sua marca registrada era o
toque de calcanhar, que
desconcertava os adversários
devido à sua incrível precisão.
"Era um mestre do
calcanhar, e se dava ao luxo
de cobrar pênaltis com
ele", afirmou o
jornalista Eduardo Galeano.
E se não fosse bastante seu
senso armador, também tinha
uma grande facilidade para
marcar gols. Tanto assim que
está entre os 35 maiores
artilheiros da história do
nosso futebol. Para comemorar
seus tentos, outra marca
registrada. Corria para a
torcida, com o punho direito
cerrado erguido, enquanto o
braço esquerdo se escondia
atrás do corpo. Foram, ao
todo, 318 gols marcados, a
maioria deles pelo Corinthians
(166), onde jogou, de 78 a 84,
302 partidas.
Sócrates começou a
carreira em sua terra natal,
Ribeirão Preto, jogando pelo
Botafogo local. Aos 16 anos,
conjugava os estudos para o
vestibular com os treinos para
as partidas. Em 76, aos 22
anos, sagrou-se artilheiro do
Paulistão, com 15 gols. Seu
futebol vistoso recebeu inúmeras
propostas dos grandes clubes
da capital paulista, mas Sócrates
não queria sair antes de
completar 24 anos, quando se
formaria na Faculdade de
Medicina. Logo que isso
aconteceu, no entanto, deixou
a cidade onde passou a maior
parte da vida e onde vive até
hoje.
Conta-se que São Paulo e
Corinthians tinham interesse
no jogador. Para contratá-lo,
o falecido presidente
corithiano Vicente Matheus
arquitetara meticulosamente um
plano. Mandou seu irmão
marcar um almoço com o
presidente do São Paulo, Antônio
Nunes Galvão, e fingir estar
interessado no volante
tricolor Chicão. Galvão
entusiasmou-se. Afinal,
poderia utilizar o dinheiro da
venda de Chicão para adquirir
o passe de Sócrates junto ao
Botafogo.
Enquanto almoçavam, no
entanto, Vicente Matheus já
estava em Ribeirão Preto e,
dentro de instantes, já
anunciaria oficialmente a
contratação da revelação
da equipe interiorana. Sócrates,
agora, era do Corinthians.
Logo na apresentação, causou
polêmica ao afirmar que, na
verdade, era santista desde
criança. Algum tempo depois,
no entanto, cairia nas graças
da Fiel. Lá, conquistou os
campeonatos paulistas de 1979,
82 e 83. Tem lugar garantido
em qualquer seleção
corinthiana do século, eis
que não é apenas um dos
maiores meio-campistas que já
passaram pelo alvi-negro: é
um dos maiores jogadores que já
vestiram a camisa corinthiana.
Depois do Corinthians, teve
uma rápida passagem pela
Fiorentina, da Itália, nos
anos de 84 e 85. Voltou ao
Brasil, onde defendeu o
Flamengo nos anos de 86 e 87,
sagrando-se campeão carioca
no primeiro deles.
Pela seleção, foram 63 aparições,
com 41 vitórias, 17 empates e
5 derrotas. Brilhou
principalmente na Copa da
Espanha, em 1982, quando
formou, ao lado de Cerezo, Sócrates
e Zico, o "quadrado mágico"
de Telê Santana. Sócrates
tornou-se capitão de um
Brasil que finalmente voltava
a apresentar um futebol digno
das três estrelas que
ostentava no peito.
Na seleção, marcou 25 gols,
figurando entre os principais
artilheiros da história. Um
dos mais bonitos foi
justamente o primeiro gol do
Brasil na Copa de 82. A equipe
de Telê Santana perdia para a
URSS por 1 a 0. Sócrates
recebeu a bola pelo meio,
driblou dois adversários e
mandou um balaço no ângulo
do goleiro Dasaev.
A estréia do craque com
a amarelinha foi pouco depois
da estréia no Corinthians, em
17 de maio de 79, num 6 a 0
contra o Paraguai. Despediu-se
melancolicamente da seleção
no dia 21 de junho de 1986, após
a partida contra a França, válida
pela Copa do Mundo. Após o
empate em 1 a 1, o Brasil
acabou eliminado nos pênaltis.
Em seis anos jogando pelo
Corinthians, o meia havia
cobrado 36 pênaltis e perdido
apenas um. Mas o destino quis
que logo ele fosse o responsável
pelo primeiro pênalti
perdido.
A esta altura, Sócrates já não
era tão brilhante quanto
antes. Já passava dos 30 anos
e nunca se cuidara do jeito
que deveria. Contratado pelo
Santos em 1988, fez algumas
boas atuações, mas já era a
hora de parar. Em 1999, Teve
também uma experiência
mal-sucedida como técnico do
Cabo Frio (hoje Cabofriense),
do Rio de Janeiro.
Atualmente, continua como
militante de esquerda e está
filiado ao PT. Às vezes viaja
ao Japão para dar cursos de
futebol para crianças e
adolescentes. Trabalha com
medicina esportiva em sua clínica
em Ribeirão Preto, além de
participar do projeto social
Gol de Letra, juntamente com
seu irmão Raí e o meia
Leonardo.
"Sócrates tinha corpo de
garça, altas perna magérrimas
e pés pequenos que se
cansavam fácil. Mas era um
mestre do calcanhar, e se dava
ao luxo de cobrar pênaltis
com ele"
(Eduardo
Galeano, no livro Futebol ao
Sol e Sombra)
"A Europa ficou com os
primeiros lugares, mas a
melhor seleção era o Brasil
de Zico, Falcão e Sócrates"
(Eduardo Galeano, no livro
Futebol ao Sol e Sombra)
"Aquela armação de meio
campo foi perfeita."
(Zico, sobre o quadrado mágico
Falcão, Cerezo, Sócrates e
Zico)
"Ele foi muito mais
genial que eu."
(Raí, ex-jogador do São
Paulo, PSG e Seleção
Brasileira, sobre seu irmão,
Sócrates)
"Sócrates jamais se
esforçou para ser um craque.
Ele simplesmente era"
(Revista Placar, edição
dos 581 craques do Brasil)
"Se cada jogador tiver
que cuidar da própria resistência,
será mais responsável"
(Sócrates, pedindo o fim
da concentração)
"Nunca fui modelo de
atleta e sempre admiti isso.
Se eu tivesse a resistência
do Raí, por exemplo, seria
muito mais fácil jogar"
(Sócrates, craque que
bebia e fumava, em entrevista
à Revista Istoé)
"Na verdade, eu joguei
futebol por acidente. Meu negócio
era Medicina"
(Sócrates, em entrevista
à Revista Istoé)
"Tão grande quanto o seu
nome era o seu futebol"
(Marcelo Duarte,
jornalista brasileiro, sobre Sócrates
Brasileiro Sampaio de Souza
Vieira de Oliveira)
"Era o capitão natural
do Brasil, tanto por sua
intelectualidade, quanto por
sua compreensão de jogo,
senso de estratégia e técnica"
(Eugène Saccomano,
jornalista francês, sobre Sócrates)
"Ele joga melhor de
costas do que de frente"
(Pelé, em alusão às
bonitas jogadas de calcanhar
de Sócrates)
"A Democracia Corinthiana
foi o que mais me marcou no
Corinthians. Vivemos um período
rico na história do futebol e
até da política
brasileira"
(Sócrates, um dos líderes
da Democracia Corinthiana)
"O Sócrates é invendável
e imprestável"
(Vicente Matheus,
ex-presidente do Corinthians,
garantindo que não iria nem
vender nem emprestar o
jogador)