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CANTONA

Eric Cantona – Atacante – Marselha, França – 24.05.1966

"L'Enfant Terrible". "The Genious". "The Bad boy". "Eric, the King". Apelidos contraditórios como a própria vida e carreira do atacante francês Eric Cantona. Ao mesmo tempo em que colecionava milhões de fãs, magoava os mesmos e aumentava as críticas de seus detratores por atitudes indisciplinadas dentro de campo. Ao longo de sua curta carreira, o francês ficou famoso tanto pelos seus gols e grandes atuações, quanto pelas brigas e expulsões em campo. 

Agressões e ofensas foram fatos comuns na carreira deste temperamental marselhês. Fora dos gramados, sempre foi uma pessoa determinada e curiosamente tranqüila, apesar de ficar marcado por declarações fortes em todos os aspectos da vida esportiva e social. 

Mas nada pôde diminuir o brilho deste jogador diferenciado, um verdadeiro mito em Old Trafford. Sua importância no renascimento do Manchester United é tamanha que há poucos anos ele foi eleito o melhor jogador do clube em todos os tempos, superando verdadeiras lendas como Bobby Charlton e George Best. 

Louvado como um gênio na Inglaterra, onde tem um status de Deus no Old Trafford, Cantona é pouco valorizado em seu país de origem. Entre os franceses, é muito mais reconhecido como um jogador de péssima disciplina e futebol irregular. Na França, perambulou por vários times, e apenas em momentos ocasionais deixou seu talento aflorar. Na seleção francesa, acabou marcado pelo fracasso rotundo nas eliminatórias de 1993. 

Sua grande visão de jogo, suas arrancadas e dribles, e principalmente seus chutes espetaculares e gols conquistaram o coração dos torcedores do Manchester United. Não foi à toa que o coro de "Eric, the King" (Eric, o Rei) acabou sendo o mais urrado por toda a década de 90 no famoso estádio da cidade ao norte da Inglaterra. 

Nascido no dia 24 de maio de 1966, teve uma infância tranquila e sem grandes adversidades. Em 1981, quando contava 15 anos, a promessa foi atuar nas categorias de base do Auxerre, principal formador de craques da França e há décadas treinado pelo lendário Guy Roux.

No ano seguinte Cantona já integrava a seleção francesa juvenil. Sua estréia como jogador profissional ocorreu em 1983. Um ano depois, aos 18 anos, Cantona se alistou ao exército francês. Após dois anos de Auxerre, o jovem havia disputado treze partidas e marcado apenas dois gols. Cantona foi então emprestado ao Martigues, da segunda divisão francesa, com o objetivo de ganhar experiência como titular.

Em 1986 retornou ao Auxerre para assinar o seu primeiro contrato como jogador profissional. A esta altura, o futuro craque estava pronto para brilhar. Após uma boa temporada, Cantona foi constantemente convocado para a seleção sub-21 e no dia 12 de agosto de 1987 estreou com a camisa da seleção principal, numa partida oficial contra a Alemanha Ocidental. Cantona marcou o gol francês na derrota por 2 a 1. Em 1988 ele foi o principal responsável pela conquista francesa do Campeonato Europeu Sub-21.

Após sete temporadas no Auxerre, Cantona havia disputado 68 partidas e marcado 21 gols. Em junho de 1988 foi negociado com o Olympique de Marselha por US$ 3,5 milhões. A transferência para o Olympique foi vista como um sonho, pois o craque sempre se declarou torcedor do clube mais popular da França. Mas os problemas na carreira do jogador só estavam começando.

Em janeiro de 1989, durante um amistoso da França contra o Torpedo Moscow, da Rússia, Cantona ficou indignado por ter sido substituído pelo então treinador francês Henri Michel, e atirou a camisa francesa no chão, quando estava deixando o gramado. O ato lhe custou uma suspensão por tempo indeterminado do Olympique Marselha.

No ano seguinte, o francês voltou a entrar em confusões. Durante um treinamento, o atacante chutou uma bola em alguns fãs que estavam na arquibancada. Segundo declarou na época, os torcedores o estavam hostilizando. Sem clima no clube, foi emprestado ao Bordeaux, onde disputou poucas partidas. Em julho de 1989 foi novamente emprestado, desta vez ao Montpellier por US$ 400 mil.

Na temporada 1989-1990, Cantona ajudou o Montpellier a conquistar a Copa da França e voltou a ser convocado para a seleção francesa, que agora era comandada por Michel Platini. Mas faltava a polêmica em sua passagem pelo Montpellier. Durante um treinamento no clube, o rebelde pisou no rosto de um companheiro de equipe e acabou suspenso pela diretoria por dez dias.

Em 1990 estava de volta no Olympique, onde acabou se tornando um jogador importante para a equipe. Mas, em outubro do mesmo ano sofreu uma lesão nos ligamentos do joelho que lhe impossibilitou de atuar por três meses.

Sem chances de atuar como titular, Cantona pediu e foi negociado com o Nimes Olympique por US$ 2,5 milhões. Apontado como capitão da equipe, o jogador explosivo novamente voltou a entrar em conflitos. Após ser expulso de uma partida, Cantona chutou a bola no árbitro e mais uma vez foi a julgamento.

No comitê disciplinador, Cantona se dirigiu à cada membro do comitê e chamou um por um de "Idiota". Após seu ato de rebeldia, sua pena foi aumentada em mais dois meses e então Cantona decidiu abandonar os gramados. Seria a primeira vez que ameaçava fazer isto. 

Em dezembro, acertou a rescisão do seu contrato e declarou que estava pendurando as chuteiras. Porém Cantona não conseguiu ficar longe dos campos por muito tempo e logo seu "gênio indomável" seria visto nos campos de outro país, no ressurgente futebol inglês.

Após constantes sondagens de clubes daquele país, em 1991 a fera retornava aos gramados. O Sheffield Wednesday havia lhe oferecido um período de testes no clube, mas o jogador desistiu de assinar com o Sheffield devido a demora de os dirigentes do clube se decidirem pela sua contratação ou não.

Então, em 31 de janeiro de 1991, Cantona estava de contrato assinado com o Leeds United. Seu primeiro gol a camisa do novo clube aconteceu quase que um mês após sua chegada. No dia 29 de fevereiro, o craque marcou um gol contra o Luton Town.

Em abril, Cantona já era unânime na torcida do Leeds, que respondiam com gritos de "Ooh Aah Cantona" por onde ele estivesse. Consagrou-se herói do clube em 1992, na final da Liga Inglesa, quando marcou três gols contra o Liverpool e garantiu o título para a equipe de Elland Road.

No dia 27 de novembro de 1992 foi divulgada uma notícia bombástica: "Eric Cantona troca o Leeds pelo Manchester United por US$ 2,5 milhões". Seria algo como Zico deixar o Flamengo e ir para o Vasco da Gama, já que Leeds e Manchester United são arquirrivais há décadas.

Porém, apesar da forte repercussão na época especialmente entre os torcedores do Leeds, irritados com a diretoria, ninguém imaginaria quais seriam os desdobramentos da ida de Cantona para o Manchester. Coincidência ou não, também era a primeira temporada da profissionalizada "Premiership League", que se tornaria o mais milionário campeonato nacional do futebol mundial. 

Foi no time treinado por Alex Ferguson, que Cantona provou a sua capacidade peculiar de desequilibrar partidas. Marcou belos gols, serviu seus companheiros com belos passes, driblou - um show à parte. Debutou com a camisa dos Red Devils num amistoso contra o Benfica, em homenagem ao lendário craque português Eusébio. Seu primeiro gol foi contra o Chelsea, no dia 19 de dezembro, no empate em 1 a 1. 

A chegada de Cantona deu qualidade à equipe do Manchester, que conquistou o seu primeiro título inglês após longos 26 anos. Com a conquista, o jogador se tornou o primeiro jogador a conquistar o Campeonato Inglês atuando por diferentes clubes. No ano seguinte a fera voltou a brilhar na final da FA Cup entre Chelsea e o Manchester, marcando dois gols na vitória por 4 a 0 e foi votado pela Associação de Jogadores Profissionais como jogador do ano.

Apesar das conquistas, os problemas continuavam e se intensificaram em 1994. O brigão foi multado em US$ 2,5 mil por ter cuspido num torcedor do Leeds United durante um clássico entre entre os dois clubes. Também foi expulso de uma partida pela Liga dos Campeões contra o Galatasaray, alegando que o árbitro estava roubando o seu time. Após esta partida, o rebelde brigou com policiais turcos e foi suspenso pela UEFA por quatro jogos. 

Ainda foi expulso duas vezes em quatro dias na Inglaterra, contra o Swindon Town e o Arsenal. E mais: em julho, após a final da Copa do Mundo de 1994, Cantona estava algemado, se soltou e deu um soco no policial que prendeu. Para completar a temporada, foi suspenso por três partidas devido a uma expulsão numa partida amistosa contra o Glasgow Rangers em um torneio preparatório.

No ano seguinte, veio o maior de seus problemas. No dia 25 de janeiro, durante uma partida do Manchester contra o Crystal Palace, a fera foi expulsa após acertar uma "voadora" no torcedor Matthew Simmons. A repercusão do fato foi imediata. As críticas disparadas contra Cantona vinham de todos os lados, e muitos jornalistas, jogadores e comentarístas achavam que a punição mais justa seria a sua eliminação do futebol.

O assunto por várias semanas foi capa dos principais jornais e diários esportivos ingleses. O seu clube, o Manchester United, se moveu rápido, e divulgou que o jogador estava sendo recebendo a multa máxima determinada em seu contrato e também que ele não disputaria uma partida oficial até o final da temporada.

Cantona foi penalizado pela Federação Inglesa. Recebeu uma suspensão que o impedia de atuar uma partida oficial até o dia 30 de setembro, foi multado em US$ 12 mil. Em fevereiro teve sua pena suspensão dos gramados aumentada até o final da temporada, e foi novamente multado, desta vez por US$ 25 mil. A justiça inglesa também o puniu. O brigão foi setenciado a cumprir 2 semanas na prisão, mas acabou conseguindo que a sua pena fosse reduzida para 120 horas de serviço para a comunidade.

Apesar de tudo, o seu clube continuava acreditando em seu futebol, e em março de 1995 ofereceu uma renovação de contrato por mais três temporadas. Durante a suspensão Cantona atacou um reporter da ITN e acabou perdendo os seus direitos com a lei francesa. O seu retorno aos gramados estava marcado para o dia 1 de outubro contra o Liverpool. Marcou um gol de pênalti e fez a assistência para o seu companheiro marcar outro no empate por 2 a 2, contra o Liverpool. 

Em 1996 a fera voltava a brilhar nos gramados ingleses. A conquista do terceiro título em inglês nos últimos quatro anos era devido ao retorno do francês. Cantona voltou a dar qualidade no toque de bola do time inglês e em pouco tempo conquistou a braçadeira de capitão.

Uma vitória na última partida da temporada contra o Middlesbrough levara o título de volta para o Old Trafford e em menos de uma semana depois Cantona liderava o Manchester a conquista da Copa da Inglaterra contra o Liverpool. O gol da vitória só poderia ter sido dele, faltando 3 minutos para o final do segundo tempo. 

O jogador se consagrava como o primeiro estrangeiro a ser capitão de um clube que conquistava a Copa da Inglaterra. Nesta época, o elenco já estava renovado, sem veteranos como Steve Bruce e Mark Hughes, mas já contando com jovens talentos como David Beckham, Paul Scholes e Gary Neville. 

Eleito novamente como o jogador do ano em 1996, Eric Cantona se consagrava como o jogador que mais fez sucesso pelos Red Devils desde os mitos Best e Charlton. Esteve muitas vezes cotados para voltar a integrar a França, mas não foi mais convocado. Devido a inúmeros problemas com os treinadores, totalizou apenas 43 partidas com a camisa da sua nação e marcou 19 gols. 

Em junho de 1997, após a conquista do Campeonato Inglês, Cantona chocou o mundo anunciando que estava abandonando os gramados. Neste momento, ele era provavelmente o jogador de maior influência no futebol inglês e certamente o mais querido pelos torcedores do Manchester.

Muito se falou na época a respeito de sua saída prematura dos gramados. Dois motivos se mostraram fortes: uma forte divergência com a diretoria do Manchester United, acusada por Cantona de ter só se preocupado com marketing e questões financeiras, dando pouca importância aos jogadores. Segundo Cantona declarou muitos anos depois, na época o técnico Alex Ferguson concordou com sua posição, e apoiou a atitude do jogador. 

Eric Cantona disputou um total de 182 partidas pelos Red Devils marcando 80 gols. Hoje, ele atua como garoto-propaganda de uma multinacional de material esportivo, e também é jogador da seleção francesa de futebol de areia. 

"Só posso progredir se eu aprender com meus erros"
(Eric Cantona, maior jogador do Manchester United em todos os tempos)

"Eu amo jogar e perder, pois sei que depois eu irei vencer"
(Eric Cantona, maior jogador do Manchester United em todos os tempos)

"Não quero ser amado ou compreendido. Apenas ser eu mesmo"
(Eric Cantona, maior jogador do Manchester United em todos os tempos)