Edvaldo
Alves de Santa Rosa - Maceió
(AL) - 26.03.1934
Houve
tempos em que Zico ainda năo
era o apelido do pequeno
Arthur, menino franzino
morador de Quintino, subúrbio
carioca. Levando com os pés
pelas ruas estreitas a bola
que o tornaria famoso, Arthur
năo hesitava ao apontar
seu ídolo – Dida, quatro
letras, duas harmônicas sílabas,
um mito já no ocaso dos anos
50 e raiar dos 60.
Eram essas as letrinhas que
nomeavam o ídolo de seu pai,
José Antunes. Era esse o nome
do craque de seu time de botăo.
Era esse o homem que, anos
mais tarde, causaria
tremedeira e emoçăo no já
adolescente Arthur, pela
primeira vez em contato com
seu ídolo na Gávea.
E quem năo queria ser
Dida naquela época? O Rio de
Janeiro, que há tempos abraçara
o Flamengo, agora admirava
Edvaldo Alves de Santa Rosa,
nascido em Maceió no dia 26
de março de 1934 e adquirido
pelo rubro-negro junto ao CSA
vinte anos depois.
A contrataçăo do craque
foi bastante curiosa, posto
ter sido indicada pelos
integrantes do time de vôlei
do Flamengo. Numa excursăo
ao Nordeste, os jogadores de vôlei
da equipe carioca tiveram a
oportunidade de assistir a uma
partida entre as seleçőes
de Alagoas e Paraíba, em que
Dida foi o grande destaque,
marcando tręs gols.
Seguindo o conselho dos
atentos espectadores, a
diretoria do Flamengo foi
buscar o jovem craque.
A admiraçăo crescia a
cada vez que o mirrado
atacante estufava as redes
adversárias – e foram 244
vezes de todas as formas,
revelando um faro de gol
incomum que o afirmaria como
maior artilheiro da história
rubro-negra. Até que Arthur
se tornasse Zico e superasse o
ídolo.
Peça fundamental na carreira
de Dida foi o técnico
paraguaio Fleitas Solich. No
comando do Flamengo, foi ele
quem viu no atacante paraguaio
que figurava entre os
aspirantes o nome perfeito
para estrear contra o Vasco em
1954. A vitória por 2 a 1 era
apenas o intróito ŕ sua
brilhante carreira – o ápice
viria dois anos depois, em
1956, quando o Flamengo
disputou a final do Campeonato
Estadual de 55 contra o América.
O sucesso significaria a
conquista do tricampeonato
carioca. Ele veio – e com
requintes de crueldade. Dida
marcou os quatro tentos da
goleada de 4 a
1. Pelo
Flamengo ele conquistaria,
ainda, o Rio-Săo Paulo de
1961 e o Estadual de 63.
Dez anos depois de sua estréia,
Dida deixou a Gávea. Durante
um ano, fez da Portuguesa sua
casa, marcando 54 gols pela
equipe paulista. Nos anos
seguintes, atuou pelo Atlético
Junior de Barranquilla, da Colômbia,
assinalando outros 46 tentos.
Seu rendimento já năo
era mais o mesmo. Em 1967, aos
33 anos, após ter marcado 420
gols, Dida abandonou os campos
e retornou ao Rio de Janeiro,
onde, a partir dos anos 90,
passaria a descobrir talentos
para o Flamengo.
A passagem pela Seleçăo
Brasileira tornou-se conseqüęncia
natural para o atacante.
Titular nas Eliminatórias,
Dida deixou Pelé no banco de
reservas na primeira partida
da Copa de 1958, fato único
na carreira do Rei do Futebol.
Na partida seguinte, porém,
Dida foi substituído por Vavá.
Da terceira partida em diante,
Pelé eternizou-se como camisa
10 da Seleçăo.
Năo tardaram para que os
críticos atribuíssem a Dida
a pecha de amarelăo. Seus
companheiros de time
defenderam-no e chegaram a
afirmar que ele se contundiu
na estréia. Em 1999, Dida
deu, mais uma vez, sua opiniăo
sobre o caso: "Na época
năo existia Pelé, que
estava começando. Era Édson
Arantes. Digo com segurança,
eu era melhor. Fui injustiçado."
Foram, ao final, oito partidas
com a camisa canarinho, com
cinco gols marcados.
Em 17 de setembro de 2002, aos
68 anos, Dida faleceu no
Hospital Miguel Couto, a
poucos passos do clube que
amou, vitimado por insuficięncia
hepática e respiratória. Na
noite daquela terça-feira, a
alma rubro-negra, reduto de
Dida, adormeceu mutilada.
Faltava-lhe um pedaço.
"Jamais
pensei em bater recordes. Para
mim, o gol é tăo-somente
a principal motivaçăo de
um jogo e a própria alegria
dos torcedores. Nada,
absolutamente nada mais.
Confesso, entretanto, que o
gol tem sido a razăo
principal da minha vida como
atleta, motivo peo qual sempre
o procurei, sempre o busquei a
cada minuto de qualquer
partida de que tomei
parte"
(Dida, um dos maiores
jogadores da história do
Flamengo, em trecho de sua
biografia).