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KUBALA

Ladislao Kubala Steck – Atacante – Budapeste, Hungria – 10.06.1927

Se o húngaro Ladislao Kubala ganhou em 1999 uma pesquisa entre os torcedores do Barcelona para decidir quem seria o maior jogador do clube em 100 anos de história, deixando para trás nomes como Cruijff, Maradona, Romário e Ronaldo, foi porque ele, mais do que ninguém, soube com perfeiçăo encarnar a figura do ídolo. 

Carismático, inteligente, raçudo e habilidoso, o atacante portava a camisa do clube catalăo como se esta fora a sua segunda pele. Conquistava com a mesma facilidade a simpatia da torcida do seu clube e a das torcidas adversárias.

Sua personalidade forte e marcante foi sem dúvida forjada nos anos difíceis de sua juventude num tumultuado Leste Europeu, devido aos acontecimentos políticos das décadas de 30 e 40. 

Ainda criança, seu futebol já chamava a atençăo nas partidas que fazia pelo Ganz, clube da terceira divisăo húngara.  Aos 17 anos, realizou o sonho de jogar pelo Ferencvaros, clube em que também jogara seu pai. Tăo jovem, já se sagrou campeăo nacional e foi convocado para a seleçăo de seu país. 

Quis o destino que fossem apenas 3 jogos com a camisa húngara. A morte de seu pai fę-lo partir para a Tchecoslováquia, país de sua măe. Com 18 anos, recomeçava a carreira no Slovan Bratislava. Novos ares, novo país, até novo nome: Ladislao Kubala agora era Ladislav Kubala. O futebol, no entanto, era o mesmo. Kubala voltou a ser campeăo nacional e naquela mesma temporada já passaria a fazer parte da seleçăo tcheca.  

Assim como na seleçăo húngara, estreou contra a Áustria. Também ŕ semelhança do que ocorrera no selecionado anterior, năo foi longa a sua passagem pela seleçăo tcheca. Em apenas seis partidas, marcou seis tentos. 

Em 1947, tentou voltar´à Hungria para jogar no Ferencvaros, que mudara de nome para Vasas de Budapeste. Mas a permanęncia em sua terra natal se mostrava impossível. O Partido Comunista conquistara o poder no país europeu e a situaçăo política era cada dia mais difícil, cada dia mais severa. O rígido regime local o impedia mesmo de visitar sua mulher e filho recém-nascido na Tchecoslováquia. 

Kubala decide fugir. Reúne quatro companheiros de equipe embuídos na mesma intençăo e cruza a perigosa fronteira da Áustria escondido num caminhăo soviético. Em Viena, consegue um passaporte falso que o faz chegar ŕ Itália. 

Quando o jogador pensa estar livre dos problemas que o afligiam há pouco na Hungria, eis que eles voltam a perseguí-lo. A federaçăo húngara vai ŕ Fifa, acusa-o de traidor e delinqüente, pedindo sançăo. A entidade máxima do futebol acata o requerimento e suspende Kubala, frustrando a intençăo de Internazionale e Torino de contratá-lo. Sem saber, a FIFA salvava a vida do craque. Em 1949, um grave acidente aéreo mata todos os jogadores do Torino, dentre os quais poderia estar Ladislav Kubala, năo fosse a suspensăo que cumpria. 

Naquele mesmo ano, Kubala se juntou a outros húngaros, russos, tchecos, romenos, polacos e búlgaros na Hungria, uma espécie de “seleçăo de exilados” que se pôs a atuar em partidas de exibiçăo. Em uma delas, em 1950, a Hungria enfrentou o Barcelona, no estádio do Sarriá. Nada mais foi preciso para que os dirigentes do clube azul e grená se dessem conta de que precisariam fazer o que fosse necessário para contratá-lo. 

Porém, persistia a intransigęncia da FIFA. O Barcelona contratou Kubala em junho de 1950, mas, oficialmente, ele só pode vestir a camisa do clube em 29 abril de 1951, contra o Sevilla, quase um ano depois. 

Mas valeria a espera e Kubala tratou de provar. “Tudo que eu fizesse pelo Barcelona seria pouco diante do que fizeram por mim”, diria o craque décadas depois. Pouco certamente é a pior definiçăo para o que ele fez pelo clube catalăo. 

De logo, ajudou o Barça a vencer a primeira das seis Copas do Rei que ganharia na equipe. Em 1952, assombrou a Espanha. Conquistou o bi da Copa do Rei. Venceu também a Copa Latina. Além disso, foi campeăo e artilheiro espanhol, tendo batido um recorde histórico para o Barcelona: na partida contra o Sporting Gijón marcou nada menos do que 7 gols na vitória por 9 a 0.  

Em 1953, repetiu a dobradinha de Liga e Copa do Rei. Suas fantásticas atuaçőes valeram-lhe a naturalizaçăo espanhola e a convocaçăo para a terceira seleçăo de sua carreira. 

Pela “Fúria”, disputou 19 partidas, vencendo 9, empatando 6 e perdendo 4 vezes. Marcou, ao todo, 11 gols. Sua maior tristeza no selecionado espanhol foi nas eliminatórias para a Copa de 1954. A vaga era numa partida desempate, contra a Turquia. Antes do embate, a Federaçăo Espanhola recebeu um telegrama da FIFA proibindo a escalaçăo do astro húngaro. 

Sem Kubala, a Espanha só empatou e viu a decisăo ficar para o sorteio, em que um garoto italiano tirou o papelzinho escrito "Turquia". A Copa do Mundo năo conheceria o futebol de Laszlo.  

Se na seleçăo o sucesso năo foi o esperado, no Barcelona ele seguia inabalável. Seu prestígio era tanto que o estádio de Les Corts foi ficando pequeno para tantos torcedores que queriam vę-lo. Os făs pediram e a diretoria do Barça aceitou: seria construído um novo estádio, para mais de 100 mil pessoas. Nascia o Camp Nou, o maior estádio da Europa. 

Já no novo estádio, o Barça conquistou as Copas do Rei de 57, 59 e 63. Ficou também com os espanhóis de 59 e 60. Kubala já era lenda. Ídolo maior do futebol catalăo, virou música, filme e documentários. Pelo clube azul-grená foram 329 partidas e 249 gols.  

Em 1961, Kubala sofreria mais uma grande decepçăo, ao ver o seu Barça perder a final da Liga dos Campeőes para o Benfica por 3 a 2. Naquela noite, o ataque formado por ele, Kocsis, Evaristo de Macedo, Suarez e Czibor acertou a trave portuguesa por 4 vezes. 

Passou em seguida a atuar como treinador-jogador. Em 62, destituído do cargo de treinador, resolveu deixar o Barcelona para defender o Espanyol, onde voltaria a acumular as duas funçőes por duas temporadas. Contratado em seguida pelo Zurique, da Suíça, lá atuou até abandonar de vez os gramados, com 37 anos. 

Năo deixou, porém, o futebol. Treinou diversas equipes na Espanha, no Canadá e na Arábia Saudita, além de ter trabalhado como selecionador paraguaio. 

Em 1969, a Fúria o convocaria novamente, agora para o banco: Kubala voltava para treinar a seleçăo espanhola. Permaneceu no cargo pelo tempo recorde de 11 anos, nos quais conseguiu a classificaçăo para a Copa de 1978, na Argentina. No total, foram 68 jogos, com 31 vitórias, 21 empates e 16 derrotas.

Depois disso, ainda teve mais uma rápida passagem como treinador do Barcelona, novamente sem sucesso. O nome de Ladislao Kubala, no entanto, já estava escrito para sempre na história do clube catalăo, o que restou mais do que provado na pesquisa de 1999.

Tręs anos depois, vítima de complicaçőes pulmonares, faleceu aos 74 anos. Conforme por ele fora pedido em vida, foi enterrado no cemitério de Les Corts, bairro onde se encontra o estádio do Barcelona, para que nem depois da vida se distanciasse de sua paixăo. 

  “Lamentamos a perda de um grande desportista e um homem exemplar – uma boa pessoa, que é o máximo que se pode aspirar nesta vista”
(Florentino Pérez, presidente do Real Madrid) 

  “Perdemos o maior jogador na nossa história. Tive o prazer de conhecę-lo desde pequeno. Primeiro o admirei como amigo, depois como diretor e agora como presidente”
(Joan Gaspart, presidente do Barcelona)

  “Fomos muito mais do que amigos. Fomos irmăos”
(Alfredo Di Stéfano, um dos maiores jogadores da história do Real Madrid)

  “Hoje a torcida foi o 12º jogador”
(Ladislao Kubala, em 1970, quando treinava a seleçăo espanhola, após uma vitória por 2 a 0 contra a Alemanha, cunhando a frase que ficaria famosa)

  “Falar de Kubala é falar da história da entidade Barcelona. Ele contribuiu de forma imprescindível para que o Barça adquirisse grandeza”
(Joaquim Rifé, dirigente do Barcelona, sobre Ladislao Kubala)