Definir
Pelé é tarefa das mais árduas.
Melhor de todos os tempos, Rei
do Futebol, atleta do século,
Deus da bola. Săo vários
os adjetivos e frases que
podem tentar classificar o que
Edson Arantes do Nascimento
representou para o futebol
mundial.
Nascido em Tręs Coraçőes,
em Minas Gerais, logo migrou
para Bauru, no interior de Săo
Paulo, onde começou a brincar
com sua eterna companheira, a
bola, no clube Baquinho. Lá,
nem Pelé o garoto era. Seu
apelido era Gasolina! Até o
dia que Waldemar de Brito,
ex-jogador e olheiro, o levou
ainda muito jovem para o
Santos, naquela época um
clube apenas mediano no cenário
paulista e nacional. O Peixe
estava montando uma grande
equipe, com Pepe, Zito, Pagăo,
mas faltava o maestro. E ele
apareceu.
O
maior de todos, o que
comandava de qualquer parte do
campo as açőes, parecia
ter um ímă nos pés,
tamanha sua habilidade, ou uma
visăo de raio-x, tamanha
sua capacidade de
posicionamento. Ou asas, já
que subia espetacularmente nas
cabeçadas, mesmo sem ter
grande estatura. Ou uma
ferramenta de precisăo, já
que passava como ninguém. Pelé
conseguia, ao mesmo tempo, ser
meia clássico, atacante
matador, defensor eficiente e
- pasmem - goleiro! Nas vezes
em que teve que vestir a
camisa 1, năo sofreu
gols.
Foram 1281 gols em 21 anos de
carreira profissional. Aos 21
anos de idade, já tinha 500
gols marcados na carreira.
Estreou pelo Santos em 7 de
setembro de 1956, com apenas
15 anos, na goleada sobre o
Corinthians de Santo André
(7x1), onde deixou o dele. No
ano seguinte estreava pela
seleçăo, na derrota de
2x1 para a Argentina. Era
apenas o começo.
Em 1957, o garoto, já usando
a camisa 10 do Santos, o manto
branco que ele fez conhecido
mundialmente, foi artilheiro
do Campeonato Paulista. Seria
apenas a primeira de uma série.
O Rei seria artilheiro ainda
em todos os campeonatos até
1965, além de 1969 e 1973. Ou
seja, artilheiro onze vezes,
sendo nove em seqüęncia.
Em 1958, bateu recorde que
dificilmente será alcançado:
58 gols.
Títulos? O Santos, antes de
Pelé, tinha apenas tręs
campeonatos paulistas. Com
ele, ganhou outros onze.
Depois de Pelé, venceu apenas
dois. O Peixe ganhou ainda
cinco vezes a Taça Brasil, tręs
vezes o Rio-Săo Paulo…
mas os títulos mais
importantes foram as duas
Libertadores e os dois
Mundiais que ajudou o clube de
Vila Belmiro a vencer.
Cabe esse título um caso a
parte. Em 1962, o Santos
venceu uma verdadeira guerra
contra o Peńarol para
conquistar a América, e, no
Mundial contra o Benfica, Pelé
comandou a constelaçăo
santista na, talvez, maior
exibiçăo de um clube de
futebol na história. Duas vitórias
convincentes, que faziam o
mundo comprovar que o Santos
era, realmente, um time dos céus.
No ano seguinte, o Boca
Juniors, que jamais havia
perdido uma partida
internacional no estádio La
Bombonera, rendeu-se ao Rei e
seus asseclas, derrotados por
2x1 e vendo o manto sagrado de
Vila Belmiro conquistar a América
de uma vez por todas.
O Mundial de 63 pelo Santos
foi traumático para o Rei. Caçado
pela defesa do Milan, Pelé
jogou apenas um jogo e meio.
Sobrou para Almir
Pernambuquinho a
responsabilidade de carregar o
time ao título. Pelé podia
ser Deus, mas ŕs vezes
sofria como um mero mortal.
Além dos títulos locais, Pelé
carregou o seu nome e o do
Santos para o mundo todo.
Excursőes intermináveis
do time fizeram com que o nome
do Rei do futebol fosse mais
conhecido que muitos líderes
políticos e religiosos.
Conheceu papas, presidentes,
ministros. Interrompeu
guerras, como a de Biafra
(hoje Nigéria) que largou as
armas para ver o Santos jogar.
Fez os organizadores de um
amistoso na Colômbia trocarem
o juiz após este ter-lhe
expulsado. Acabaram dando cartăo
vermelho pro homem de preto!
Levou o nome do Brasil ao
exterior. Hoje ainda é referęncia
internacional.
O Rei seguiu pelo Santos até
1974, quando se despediu do
clube ajoelhando-se no meio do
campo, durante uma partida
contra a Ponte Preta. Para
quem pensou que ele iria
abandonar o futebol, a
surpresa: o Rei aceitou um
mega-contrato (naquela época,
claro) para defender o Cosmos
de Nova York e aumentar a
popularidade do futebol nos
Estados Unidos. O time ainda
tinha gente do quilate de
Carlos Alberto Torres e
Beckenbauer. Lá foi campeăo
em 1977, até encerrar a
carreira no mesmo ano. Era o
fim nos clubes.
Na Seleçăo a história
de Pelé é curiosa. Estreou
em 1957, e no ano seguinte
estava no time que disputou a
Copa de 1958. Os números das
camisas foram distribuídos de
forma aleatória, mas Pelé
era predestinado e ficou com a
10. O Rei viria estrear na
Copa contra a Uniăo Soviética.
Ele e um outro garoto, chamado
Garrincha. Os dois acabaram
com o jogo. 2x0 para o Brasil.
No jogo seguinte, contra o País
de Gales, Pelé começou a
mostrar sua genialidade, com
um gol sensacional. O resto
todo mundo já viu na TV
ŕs vésperas de toda Copa
do Mundo. Tręs gols
contra a França, mais dois na
final contra a Suécia, e a
consagraçăo como Rei do
Futebol.
Em 62, Pelé năo deu
sorte. Machucou-se no segundo
jogo, dando lugar a Amarildo.
Garrincha chamou a
responsabilidade para si e
levou o Brasil nas costas rumo
ao bi.
A vida continuava, mas em 66 a
sorte novamente năo
esteve ao lado do Rei. Caçado
em campo, foi vítima das
botinadas de húngaros e
portugueses, que fizeram o
Brasil voltar mais cedo para
casa. A partir dali, já
diziam que Pelé estava
acabado, que a Bola năo
tinha mais intimidade com o
Rei...
Em 1969, fez o milésimo
gol, contra o Vasco, no
Maracană, e dedicou
ŕs crianças vítimas das
enchentes que assolavam o país.
Faltava apenas a consagraçăo
final.
Nas eliminatórias para a Copa
de 70, Pelé estava comandando
o time dentro de campo,
enquanto Joăo Saldanha
gritava do lado de fora.
Classificaçăo
consolidada com 1x0 no
Paraguai diante de mais de 170
mil pessoas no Maraca.
1970.
México. Pelé fez tudo nos
seis jogos. Fez gols, passou,
marcou, gritou, subiu...
perdeu gols em jogadas
inacreditáveis, tentou o
quase impossível - um gol do
meio do campo (o chamado
"gol que Pelé năo
fez") - e acabou, ali,
mostrando ao mundo quem era o
Rei do Futebol. Năo tinha
Di Stefano, Puskas, Didi,
Garrincha... Pelé é o Rei
incontestável.
Jogou na seleçăo
até 1971 e, desiludido com o
próprio país, começou a
tomar maior conscięncia
política. Saía o Pelé,
entrava o Edson.
Depois que encerrou a carreira
de vez, Pelé tornou-se um
verdadeiro embaixador do
futebol brasileiro. Ganhou pręmios,
homenagens, fez comerciais,
virou ator em filmes no Brasil
e nos Estados Unidos, virou
personagem de quadrinhos - o
Pelezinho, de Maurício de
Sousa, montou empresa de
marketing esportivo, namorou
mulheres maravilhosas - ele
casou-se em 1966, com Rose
Cholby, teve tręs filhos,
mas separou-se na década de
70 - e ficou rico, muito rico.
Até
virar Ministro de Estado em
1994. Ele queria contribuir
também do campo. Daí nascia
a Lei Pelé, dada a
revolucionar a organizaçăo
do nosso futebol, mas ela foi
tăo retalhada no
Congresso Nacional, que Edson
Arantes do Nascimento preferiu
deixar o barco.
Casou-se com Assíria, teve
mais dois filhos, e leva uma
vida de pai de família e
empresário bem-sucedido.
Pelé está fazendo 60 anos.
Quase todos dedicados ŕ
bola, sua amada, eterna
companheira, musa perfeita dos
deuses do futebol. Deuses
estes que elegeram Pelé como
seu representante maior, como
divindade da bola na Terra.
Outro? Pode até surgir, mas
nunca alguém tratará a Bola
com tanto carinho como o Rei. Como
ele mesmo diz: "As
pessoas ficam perguntando
quando nascerá outro Pelé.
Parem de perguntar. Năo
vai nascer outro. Pelé foi só
um."
"Como se soletra
Pelé? D-E-U-S."
(The Sunday Times, jornal
londrino)
"Se
Pelé năo tivesse nascido
um homem, teria nascido uma
bola."
(Armando Nogueira, jornalista
brasileiro)
"Marcar
mil gols, como Pelé, năo
é tăo difícil. Marcar
um gol como Pelé é."
(Carlos Drummond de Andrade,
poeta brasileiro)
"Após
o quinto gol, eu queria era
aplaudi-lo."
(Sigge Parling, zagueiro sueco
encarregado de marcar Pelé
durante a final da Copa de 58)
"Eu
pensei: ‘ele é feito de
carne e osso, como eu.’ Eu
me enganei."
(Tarciso Burnigch, zagueiro
italiano que marcou Pelé na
final da Copa de 70)
"Cara,
como vocę é
popular!"
(Robert Redford, após
presenciar Pelé dando dezenas
de autógrafos em Nova York,
enquanto ninguém lhe pediu um
sequer)
"Muito
prazer, sou o presidente dos
Estados Unidos. Vocę năo
precisa se apresentar, porque
Pelé todo mundo sabe quem é"
(Ronald Reagan, presidente dos
Estados Unidos na décade de
80, ao receber Pelé na Casa
Branca)
"Se
eu pudesse me chamaria Edson
Arantes do Nascimento Bola.
Seria a única maneira de
agradecer o que ela fez por
mim."
(Edson Arantes do Nascimento,
o Pelé)
"As
pessoas ficam perguntando
quando nascerá outro Pelé.
Parem de perguntar. Năo
vai nascer outro. Pelé foi só
um."
(Edson Arantes do Nascimento,
o Pelé)
"Michelangelo
ia pintar bem hoje? Mozart ia
tocar bem? Pelé ia jogar bem?
Claro. As condiçőes săo
melhores."
(Edson Arantes do Nascimento,
o Pelé)
"Pelé
nunca morrerá."
(Edson Arantes do Nascimento,
o Pelé)
"Até
a bola do jogo pedia autógrafo
a Pelé."
(Armando Nogueira, jornalista
brasileiro)
"Lá
vai Pelé com a bola que Deus
lhe deu."
(Armando Nogueira, jornalista
brasileiro)
"Năo
me venham falar em Di Stefano,
em Puskas, em Sivori, em Suárez.
Eis a singela e casta verdade:
năo chegam aos pés de
Pelé. Quando muito, podem
engrazar-lhe os sapatos,
escovar-lhe o manto."
(Nélson Rodrigues, escritor,
jornalista e dramaturgo)
"Um
time que tem Pelé é tricampeăo
nato e hereditário."
(Nélson Rodrigues, escritor,
jornalista e dramaturgo)
"A
tabelinha de Pelé e Tostăo
confirma a existęncia de
Deus."
(Armando Nogueira, jornalista
e escritor)
"Năo
joguei a Copa de 74 porque
tomei conhecimento das
torturas cometidas pelo regime
militar."
(Edson Arantes do Nascimento,
o Pelé)
"O
maior jogador de futebol do
mundo foi Di Stefano. Eu me
recuso a classificar Pelé
como jogador. Ele está acima
de tudo."
(Ferenc Puskas, craque da
Hungria e do Real Madrid na década
de 50)
"Maradona
só será um novo Pelé quando
ele ganhar 3 Copas Mundiais e
marcar mais de mil gols."
(Cesar Luis Menotti, ex-técnico
da Seleçăo Argentina)
"Descrever
o que foi Pelé é humanamente
impossível. Foi a perfeiçăo.
Ele desequilibrou o
mundo."
(Gilmar dos Santos Neves,
goleiro do Santos e do Brasil
na copas de 58 e 62)
"Pelé
nunca será superado, porque
é impossível haver algo
melhor que a perfeiçăo.
Ele teve tudo: físico,
habilidade, controle de bola,
velocidade, poder, espírito,
inteligęncia, instinto,
sagacidade."
(Jornalista do Sunday Mirror
de Londres)
"Posso
ser um novo Di Stefano, mas năo
posso ser um novo Pelé. Ele
é o único que ultrapassa os
limites da lógica."
(Johann Cruijff, maior jogador
holandęs de todos os
tempos)
"Subimos
juntos, fora do tempo, para
cabecear uma bola. Eu era mais
alto e tinha mais impulsăo.
Quando desci ao chăo
olhei pra cima, perplexo. Pelé
ainda estava lá, no alto,
cabeceando a bola. Parecia que
podia ficar no ar o tempo que
quisesse"
(Fachetti, zagueiro italiano
na Copa do México, em 70)
"Năo
há nada mais alegre na vida
do que uma bola quicando na área.
Nem nada mais triste do que
uma bola vazia."
(Edson Arantes do Nascimento,
o Pelé)
"Pelé
chegou."
(Jornal Chileno, anunciando a
chegada da seleçăo
brasileira para a Copa de 62)