49ª Edição da Copa Itatiaia   

Belo Horizonte e Região Metropolitana

 O Maior Torneio de Futebol Amador do Brasil

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   Craques da Várzea contam histórias da Copa Itatiaia

   Considerada a “Copa do Mundo” da várzea, a competição define neste domingo os campeões das chaves BH e Metropolitana

Considerada a “Copa do Mundo” do Futebol Amador, a Copa Itatiaia guarda histórias preciosas do futebol de várzea em Minas. Neste domingo (10) a  competição define os campeões das chaves Belo Horizonte (Araribá x Inconfidência, no campo do Santa Cruz) e Metropolitana (Frigoarnaldo x Pedra Branca, no campo do Ibirité). Além de se tornar um dos maiores torneios do gênero no país, é também celeiro para revelação de jogadores e árbitros para os quadros da Federação Mineira. Alguns atletas até fizeram a reversão de profissional para amador para participar dela. Outros, após encerrarem a carreira, fizeram questão de disputar o torneio pelo menos uma vez.

Criada pelo fundador da Rádio Itatiaia Januário Carneiro no início da década de 60 para ocupar o período de recesso dos times profissionais - não havia as férias regulamentares naquela época -, a Copa Itatiaia foi conquistando espaço em Belo Horizonte, ganhou mídia e chegou a ter partidas transmitidas ao vivo pela TV. No passado, o torneio amador revelou jogadores para times profissionais. A escassez atual deve ser debitada à especulação imobiliária, que acabou com vários campos de várzea em Belo Horizonte, como os dos bairros Padre Eustáquio, São Gabriel, São Jorge e Nova Granada.

 O Pompéia foi o primeiro campeão da Copa Itatiaia (1961/1962) e teve também o primeiro artilheiro da competição. Foi o meia-ponta de lança Itamar.

“Fui eu e um jogador do Sulzer, uma equipe do Caetano Furquim. Era um torneio muito curto, com poucos times. Entrei na fase final e não me lembro quantos gols foram. Naquela oportunidade recebi a medalha do Oswaldo Faria (jornalista esportivo da Rádio Itatiaia já falecido)”, lembrou.

Itamar começou a carreira na várzea. Por ter se destacado, foi chamado para treinar nos grandes times de Belo Horizonte. “Fui para o juvenil do Atlético, depois para o Cruzeiro, onde me profissionalizei. Ainda joguei no Usipa (Ipatinga)”, lembrou. Ao contrário do Pompéia, onde jogava como meia-ponta-de-lança, ele atuou na ponta-esquerda como profissional.

Para Itamar, a Copa Itatiaia é o glamour do futebol amador não somente da Capital e Região Metropolitana como também do Estado.”É a Copa do Mundo do Futebol Amador”, comentou o ex-ponta-esquerda. Ele lamenta que a competição tenha se tornado semiprofissional. “Têm times hoje pagando R$ 200, R$ 300, e até mais”, enfatizou. “Anteriormente, o objetivo era revelar jogadores para o profissional. Hoje, virou uma disputa de ganância”, disse.

Itamar recorda dois lances pitorescos quando jogava no Pompéia. No primeiro, no campo do Ferroviário, houve uma cobrança de escanteio, o atacante baixou, pegou a areia e aguardou o momento da cobrança. Quando a bola chegou na área, ele jogou a areia, mas não acertou o goleiro.

“No segundo, fui bater o escanteio e comentei com um torcedor que mandaria a bola entre a meia-lua e a grande área, onde estava o João Couto, que cabeceava bem. E não deu outra. Ele cabeceou e marcou. O Nelson Cabeção foi e deu nele uma cabeçada no nariz e o sangue desceu”, recordou.

No Pompéia, Itamar jogou com João Couto, Renato, Marcola, Dino, Wilson, entre outros. Na várzea, conquistou muitos amigos. Proprietário de uma churrascaria no Bairro Esplanada, Itamar recebe fregueses conhecidos como o pessoal do 14 Bis, o compositor e cantor Vânder Lee, além do ex-jogador Éder Aleixo, entre outros.

Jogando tudo o que sabe aos 53 anos

O volante Batata continua em atividade aos 53 anos. Nesta Copa Itatiaia ele está disputando neste domingo (10) o título da chave Belo Horizonte pelo Araribá, da Pedreira Prado Lopes.

Batata fez o caminho inverso. Profissional, ele passou à várzea aos 31 anos. Para o jogador, a Copa Itatiaia é um campeonato difícil porque não permite erros. Já na primeira fase - eliminatória -, classifica apenas uma equipe em cada grupo. “A primeira missão é não tomar gol. Se levar, acaba partindo para o desespero".

 "Mas só quem jogou ou joga sabe o quanto é bom o Futebol Amador”, disse, empolgado, uma vez que foi duas vezes campeão pelo Santo André e outras duas pelo Minas, de Betim.

Batata está credenciado a fazer essa afirmação, pois chegou a jogar em vários times profissionais do futebol brasileiro. Ele começou nas categorias de base do Atlético, onde foi bicampeão da Copa São Paulo, e também se profissionalizou.

O volante foi vice-campeão brasileiro em 1977 com o Galo. “Eu entrei no primeiro jogo contra o Remo e fiz o primeiro gol na vitória de 4 a 1”, relembrou.

Batata não queria assumir mais compromissos, mas não resistiu ao apelo do presidente do Araribá, Jarbas José da Silva, o Jaú, para defender o time da Pedreira Prado Lopes em mais uma Copa Itatiaia. “Não queria jogar, mas ele me chamou e não poderia deixar de atendê-lo, porque é uma pessoa muito legal”, disse o jogador, que há 15 anos está na equipe, disputando torneios masters amadores. “Só não disputei o juvenil e infantil. Para isso teria que ser gato”, brincou o veterano atleta, que ainda não pensa em se aposentar no futebol.

 Além do Atlético, Batata jogou pelo Olaria (RJ), Americano de Campos (RJ), Volta Redonda (RJ), Villa Nova, Democrata/SL, Sport/PE e Anápolis (GO).

 Quinzinho, o "dono da várzea"

 Foram tantas as participações neste tradicional torneio amador, que o ex-lateral-direito Quinzinho perdeu a conta. Ele não se lembra sequer de todos os times em que atuou na várzea da capital. Para ele, jogar a Copa Itatiaia é o sonho de todo jogador que atua no futebol amador. “Geralmente é aquele jogador que não chegou ao profissional”, observou.

Quinzinho, hoje com 50 anos, foi bicampeão pelo Santo André, campeão pelo Pompéia e vice pelo Mineirinho. “É uma Copa curta, porém, uma coisa entusiasmante. Além disso, consegui fazer muitas amizades”, afirmou. “Mas pode causar frustração também, pois às vezes o jogador fica esperando uma oportunidade para ser chamado para um time grande”, acrescentou.

Um fato ocorrido na decisão da Chave Belo Horizonte em 1982 contra o Palmeiras, no campo do Cruzeiro, no Barro Preto, está guardado na memória de Quinzinho. “O Pelezinho (do Pompeia), nunca havia sido expulso, mas naquele jogo acabou indo para o chuveiro mais cedo. Daquele momento e até no vestiário ele chorou copiosamente. E nós prometemos a ele a conquista da Copa”, recordou o ex-lateral. “Fomos campeões com um gol de Lica, chutando de longe”, emendou. Atualmente ele é instrutor de futebol no Ciame/Flamengo, no Alto Vera Cruz, e na Aspra da PM.

Já a baixa estatura impediu que o armador Zequinha se tornasse um profissional do Cruzeiro, no início da década de 90, quando ainda atuava pelo time de juniores da equipe celeste. Porém, o Futebol Amador não somente de Belo Horizonte, mas da Região Metropolitana, teve o privilégio de ver o seu futebol exuberante nos gramados e campos de terra, sem perder a sua qualidade técnica.

Zequinha foi um colecionador de títulos, principalmente da Copa Itatiaia. Foram cinco de chaves e quatro como campeão geral, sendo dois pelo Santo André (BH), um pelo Minas (Betim) e um pelo Frigoarnaldo (Contagem). Foi ainda, por quatro anos consecutivos, artilheiro do torneio. “No quinto ano não fui o artilheiro, mas fui eleito o craque da Copa”, recordou orgulhoso o ex-armador.

De todos os campeonatos amadores que participou, e não foram poucos, Zequinha considera a Copa Itatiaia o mais organizado. “A organização é perfeita. Desconheço outro igual e fui feliz em ter participado dela”, declarou o ex-jogador. Zequinha jogou também em Carmópolis de Minas, Inhaúma e Ouro Preto. O ex-atleta tem acompanhado a Copa Itatiaia no campo do Grêmio Mineiro.

Um fato engraçado que marcou a sua passagem pelo futebol amador foi numa das finais da Copa Itatiaia em que o Santo André conquistou o título. “Os torcedores começaram a pedir parte do meu material e acabei ficando apenas de cueca.” Quando atuava pelo Santo André, ele ganhou uma casa de Paulinho, então presidente do clube. É onde mora até hoje.

Por causa de cirurgias nos dois joelhos, Zequinha pendurou as chuteiras aos 36 anos. Hoje ele está com 46 e lamenta não poder bater uma bola ou fazer caminhada devido aos problemas no joelho.

Zequinha começou jogando no dente-de-leite do Cruzeiro em 1977, depois foi para o Santa Tereza, dando uma parada em 1978. Retornou novamente ao time de Santa Tereza dois anos depois, sendo convocado pelo técnico Pedrilho para a Seleção Mineira Juvenil em 1982.

Quando tinha 27 anos, o armador foi convidado por Nelinho, então técnico do Atlético, para treinar na Vila Olímpica, mas não aceitou. E seguiu atuando nos campo de várzea.