Craques da Várzea contam histórias
da Copa Itatiaia
Considerada a “Copa
do Mundo”
da várzea, a competição
define neste domingo os campeões
das chaves BH e Metropolitana
Considerada
a “Copa do Mundo”
do Futebol Amador, a Copa
Itatiaia guarda histórias
preciosas do futebol de várzea
em Minas. Neste domingo (10)
a competição define os
campeões das chaves Belo
Horizonte (Araribá x Inconfidência,
no campo do Santa Cruz) e
Metropolitana (Frigoarnaldo x
Pedra Branca, no campo do
Ibirité). Além de se tornar
um dos maiores torneios do gênero
no país, é também celeiro
para revelação de jogadores
e árbitros para os quadros da
Federação Mineira. Alguns
atletas até fizeram a reversão
de profissional para amador
para participar dela. Outros,
após encerrarem a carreira,
fizeram questão de disputar o
torneio pelo menos uma vez.
Criada
pelo fundador da Rádio
Itatiaia Januário Carneiro no
início da década de 60 para
ocupar o período de recesso
dos times profissionais - não
havia as férias
regulamentares naquela época
-, a Copa Itatiaia foi
conquistando espaço em Belo
Horizonte, ganhou mídia e
chegou a ter partidas
transmitidas ao vivo pela TV.
No passado, o torneio amador
revelou jogadores para times
profissionais. A escassez
atual deve ser debitada à
especulação imobiliária,
que acabou com vários campos
de várzea em Belo Horizonte,
como os dos bairros Padre Eustáquio,
São Gabriel, São Jorge e
Nova Granada.
O
Pompéia foi o primeiro campeão
da Copa Itatiaia (1961/1962)
e teve também o primeiro
artilheiro da competição.
Foi o meia-ponta de lança
Itamar.
“Fui
eu e um jogador do Sulzer, uma
equipe do Caetano Furquim. Era
um torneio muito curto, com
poucos times. Entrei na fase
final e não me lembro quantos
gols foram. Naquela
oportunidade recebi a medalha
do Oswaldo Faria (jornalista
esportivo da Rádio Itatiaia já
falecido)”,
lembrou.
Itamar
começou a carreira na várzea.
Por ter se destacado, foi
chamado para treinar nos
grandes times de Belo
Horizonte. “Fui para o
juvenil do Atlético, depois
para o Cruzeiro, onde me
profissionalizei. Ainda joguei
no Usipa (Ipatinga)”,
lembrou. Ao contrário do Pompéia,
onde jogava como
meia-ponta-de-lança, ele
atuou na ponta-esquerda como
profissional.
Para
Itamar, a Copa Itatiaia é o
glamour do futebol amador não
somente da Capital e Região
Metropolitana como também do
Estado.Ӄ a Copa doMundo
do Futebol Amador”,
comentou o ex-ponta-esquerda.
Ele lamenta que a competição
tenha se tornado
semiprofissional. “Têm
times hojepagando R$
200, R$ 300, e até mais”,
enfatizou. “Anteriormente,
o objetivo era revelar
jogadores para o profissional.
Hoje, virou uma disputa de ganância”,
disse.
Itamar
recorda dois lances pitorescos
quando jogava no Pompéia. No
primeiro, no campo do Ferroviário,
houve uma cobrança de
escanteio, o atacante baixou,
pegou a areia e aguardou o
momento da cobrança. Quando a
bola chegou na área, ele
jogou a areia, mas não
acertou o goleiro.
“No
segundo, fui bater o escanteio
e comentei com um torcedor que
mandaria a bola entre a
meia-lua e a grande área,
onde estava o João Couto, que
cabeceava bem. E não deu
outra. Ele cabeceou e marcou.
O Nelson Cabeção foi e deu
nele uma cabeçada no nariz e
o sangue desceu”,
recordou.
No
Pompéia, Itamar jogou com João
Couto, Renato, Marcola, Dino,
Wilson, entre outros. Na várzea,
conquistou muitos amigos.
Proprietário de uma
churrascaria no Bairro
Esplanada, Itamar recebe
fregueses conhecidos como o
pessoal do 14 Bis, o
compositor e cantor Vânder
Lee, além do ex-jogador Éder
Aleixo, entre outros.
Jogando
tudo o que sabe aos 53 anos
O
volante Batata continua em
atividade aos 53 anos. Nesta
Copa Itatiaia ele está
disputando neste domingo (10)
o título da chave Belo
Horizonte pelo Araribá, da
Pedreira Prado Lopes.
Batata
fez o caminho inverso.
Profissional, ele passou à várzea
aos 31 anos. Para o jogador, a
Copa Itatiaia é um campeonato
difícil porque não permite
erros. Já na primeira fase -
eliminatória -, classifica
apenas uma equipe em cada
grupo. “A primeira missão
é não tomar gol. Se levar,
acaba partindo para o
desespero".
"Mas
só quem jogou ou joga sabe o
quanto é bom o Futebol Amador”, disse, empolgado,
uma vez que foi duas vezes
campeão pelo Santo André e
outras duas pelo Minas, de
Betim.
Batata
está credenciado a fazer essa
afirmação, pois chegou a
jogar em vários times
profissionais do futebol
brasileiro. Ele começou nas
categorias de base do Atlético,
onde foi bicampeão da Copa São
Paulo, e também se
profissionalizou.
O
volante foi vice-campeão
brasileiro em 1977 com o Galo.
“Eu entrei no primeiro jogo
contra o Remo e fiz o primeiro
gol na vitória de 4 a 1”,
relembrou.
Batata
não queria assumir mais
compromissos, mas não
resistiu ao apelo do
presidente do Araribá, Jarbas
José da Silva, o Jaú, para
defender o time da Pedreira
Prado Lopes em mais uma Copa
Itatiaia. “Não queria
jogar, mas ele me chamou e não
poderia deixar de atendê-lo,
porque é uma pessoa muito
legal”, disse o jogador, que
há 15 anos está na equipe,
disputando torneios masters
amadores. “Só não disputei
o juvenil e infantil. Para
isso teria que ser gato”,
brincou o veterano atleta, que
ainda não pensa em se
aposentar no futebol.
Além
do Atlético, Batata jogou
pelo Olaria (RJ), Americano de
Campos (RJ), Volta Redonda
(RJ), Villa Nova,
Democrata/SL, Sport/PE e Anápolis
(GO).
Quinzinho,
o "dono da várzea"
Foram
tantas as participações
neste tradicional torneio
amador, que o
ex-lateral-direito Quinzinho
perdeu a conta. Ele não se
lembra sequer de todos os
times em que atuou na várzea
da capital. Para ele, jogar a
Copa Itatiaia é o sonho de
todo jogador que atua no
futebol amador. “Geralmente
é aquele jogador que não
chegou ao profissional”,
observou.
Quinzinho,
hoje com 50 anos, foi bicampeão
pelo Santo André, campeão
pelo Pompéia e vice pelo
Mineirinho. “É uma Copa
curta, porém, uma coisa
entusiasmante. Além disso,
consegui fazer muitas
amizades”, afirmou. “Mas
pode causar frustração também,
pois às vezes o jogador fica
esperando uma oportunidade
para ser chamado para um time
grande”, acrescentou.
Um
fato ocorrido na decisão da
Chave Belo Horizonte em 1982
contra o Palmeiras, no campo
do Cruzeiro, no Barro Preto,
está guardado na memória de
Quinzinho. “O Pelezinho (do
Pompeia), nunca havia sido
expulso, mas naquele jogo
acabou indo para o chuveiro
mais cedo. Daquele momento e
até no vestiário ele chorou
copiosamente. E nós
prometemos a ele a conquista
da Copa”, recordou o
ex-lateral. “Fomos campeões
com um gol de Lica, chutando
de longe”, emendou.
Atualmente ele é instrutor de
futebol no Ciame/Flamengo, no
Alto Vera Cruz, e na Aspra da
PM.
Já
a baixa estatura impediu que o
armador Zequinha se tornasse
um profissional do Cruzeiro,
no início da década de 90,
quando ainda atuava pelo time
de juniores da equipe celeste.
Porém, o Futebol Amador não
somente de Belo Horizonte, mas
da Região Metropolitana, teve
o privilégio de ver o seu
futebol exuberante nos
gramados e campos de terra,
sem perder a sua qualidade técnica.
Zequinha
foi um colecionador de títulos,
principalmente da Copa
Itatiaia. Foram cinco de
chaves e quatro como campeão
geral, sendo dois pelo Santo
André (BH), um pelo Minas
(Betim) e um pelo Frigoarnaldo
(Contagem). Foi ainda, por
quatro anos consecutivos,
artilheiro do torneio. “No
quinto ano não fui o
artilheiro, mas fui eleito o
craque da Copa”, recordou
orgulhoso o ex-armador.
De
todos os campeonatos amadores
que participou, e não foram
poucos, Zequinha considera a
Copa Itatiaia o mais
organizado. “A organização
é perfeita. Desconheço outro
igual e fui feliz em ter
participado dela”, declarou
o ex-jogador. Zequinha jogou
também em Carmópolis de
Minas, Inhaúma e Ouro Preto.
O ex-atleta tem acompanhado a
Copa Itatiaia no campo do Grêmio
Mineiro.
Um
fato engraçado que marcou a
sua passagem pelo futebol
amador foi numa das finais da
Copa Itatiaia em que o Santo
André conquistou o título.
“Os torcedores começaram a
pedir parte do meu material e
acabei ficando apenas de
cueca.” Quando atuava pelo
Santo André, ele ganhou uma
casa de Paulinho, então
presidente do clube. É onde
mora até hoje.
Por
causa de cirurgias nos dois
joelhos, Zequinha pendurou as
chuteiras aos 36 anos. Hoje
ele está com 46 e lamenta não
poder bater uma bola ou fazer
caminhada devido aos problemas
no joelho.
Zequinha
começou jogando no
dente-de-leite do Cruzeiro em
1977, depois foi para o Santa
Tereza, dando uma parada em
1978. Retornou novamente ao
time de Santa Tereza dois anos
depois, sendo convocado pelo técnico
Pedrilho para a Seleção
Mineira Juvenil em 1982.
Quando
tinha 27 anos, o armador foi
convidado por Nelinho, então
técnico do Atlético, para
treinar na Vila Olímpica, mas
não aceitou. E seguiu atuando
nos campo de várzea.