Como
jogador, técnico e dirigente,
tornou-se pioneiro. Além de
abrir as portas para os negros
no América, criou o gesto de
saudação à torcida
Belfort
Duarte foi o responsável também
pela camisa vermelha do América
Imagine
a cena. Seu time do coração
está jogando, e o zagueiro
dessa equipe comete um pênalti.
O árbitro não vê, e a
partida segue. Mas o próprio
jogador vai lá e avisa ao
juiz que ele errou. Pois é.
Quase impossível de se
imaginar nos tempos de hoje.
Mas no início do século
20 havia um atleta capaz
desse gesto nobre: o
maranhense João
Evangelista Belfort Duarte.
Não
foi à toa que o ex-jogador
acabou homenageado tendo o
nome emprestado a um prêmio
que celebra a disciplina.
Belfort Duarte, na verdade,
acabou pioneiro em várias
frentes. Mais importante do
que fazia com a bola nos pés
eram seus gestos e
iniciativas. Sem ele, talvez a
indisciplina tivesse tomado
conta dos campos mais cedo do
que se possa imaginar.
Fora
dos gramados, Belfort fez
muito mais pelo esporte que
aprendeu a amar desde criança.
Nascido em 27 de novembro de
1883, mudou-se logo com a família
para São Paulo. Lá, seu
primeiro feito foi participar
da fundação do Mackenzie
College, primeiro clube
formado verdadeiramente por
brasileiros no futebol
paulista.
O
pioneirismo não parou por aí.
Além de ter traduzido as
regras do futebol do inglês
para o português, ao mudar-se
em 1906 para o Rio de
Janeiro, Belfort Duarte foi
jogar no América F.C. E lá,
tornou-se, com a bola nos pés, um
símbolo, líder com
uma conduta irrepreensível
- uma espécie de Elliot Ness
(policial americano que
prendeu o mafioso Al
Capone) do futebol. Culto,
muito Inteligente e sobretudo
educadíssimo, foi quem
criou a inovação de a
equipe saudar a torcida logo
após a entrada em campo.
Depois,
marcou sua importância na
história do clube ao sugerir
a cor vermelha - o time jogava
de preto. O novo uniforme
estreou em 1908, em jogo
contra o Botafogo. Campeão em
1913, o capitão da equipe
pendurou as chuteiras em 1915,
após uma partida contra o
Flamengo, e, já como técnico
do América, sagrou-se campeão
em 1916. Depois tornou-se dirigente,
e, além de organizar a vinda
da primeira equipe estrangeira
ao país, abriu as portas
do clube, até então elitista
e racista, para o
primeiro jogador negro.
Como jogador, técnico e
dirigente, Belfort Duarte era
rígido com a disciplina
e pregava respeito total
aos adversários e árbitros.
Com isso, tornou-se
respeitado. Mas, curiosamente, morreu vítima
da violência. Quando se
tratava de uma gripe
espanhola, epidemia que
atacou o Brasil, numa fazenda
do interior fluminense, foi
estranhamente assassinado em
27 de novembro de 1918,
justamente no dia em que
completava 35 anos de idade.
Mas deixou na história do
futebol a marca de um lorde, a
ponto de inspirar um prêmio
para a disciplina.