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Fonte: www.otempo.com.br Thiago Nogueira

30 mil jogadores de Futebol Amador em Minas tem seguro de vida e acidentes

Amadores, mas amparados

Desde março deste ano, atletas amadores do Estado têm direito a seguro em caso de lesão grave na várzea; iniciativa da federação mineira é pioneira no país

Haviam-se passado apenas 25 minutos de jogo. No placar, 0 a 0. De chuteira de trava alta no campo de terra do Cachoeirinha, o goleiro Saulinho (foto), do Poliester, tropeça na bola, dobra o joelho direito de mau jeito e rompe o menisco e o ligamento cruzado anterior. Sem um especialista à disposição para o gol, foi preciso improvisar um jogador de linha. Seu time acabou batido por 4 a 1. Mais frustrante do que uma derrota no futebol amador é a agonia de ficar afastado daquilo que ama por tempo indeterminado. Já se passaram um ano e cinco meses, e ainda não há uma previsão de retorno.

“Tem sido uma luta. Não pude voltar a trabalhar, meu joelho ficou muito inchado. Não tenho plano de saúde, fiquei um mês afastado. Tive que esperar uma cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É ruim demais ficar do lado de fora e ver seus amigos jogarem”, conta Saulinho, 32 anos e pelo menos 15 no futebol de várzea.

A operação, ao menos, já aconteceu. Foi em maio deste ano, 14 meses depois de se machucar. Monitor de escola pública, ele precisou se ausentar de novo do serviço e aguarda sair o benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Há dois meses sem salário, ele agora intensifica os trabalhos de fisioterapia para voltar logo.

O caso de Saulinho é muito mais comum do que se imagina. Em campos irregulares, de mais areia do que grama, o risco de se machucar é alto no Futebol Amador. Para tentar minimizar os problemas de lesão, a Federação Mineira de Futebol (FMF), em uma iniciativa pioneira no país, contratou, em março deste ano, seguro de vida e de acidentes para os cerca de 30 mil atletas não profissionais disputantes dos campeonatos amadores da capital e das ligas municipais. Os benefícios vão de R$ 2.000 a R$ 20 mil, no caso de invalidez permanente ou morte.

“A federação apenas cumpre seu papel social ao disponibilizar tal recurso a eles”, ressalta Sérgio Romanelli, do setor de Futebol Amador da FMF.

De molho 

Assim como Saulinho, Ivan Wallace Soares, o volante “Gargamel”, do Araribá, também rompeu o ligamento do joelho em um jogo de várzea no começo de 2016. Embora sua cirurgia tenha sido liberada e realizada pelo SUS em outubro do ano passado, ele ainda não se recuperou totalmente.

“Até tenho vontade de voltar, mas não estou sentido firmeza. Parece que meu joelho desloca”, conta ele, que segue em busca de um especialista na rede pública para uma reavaliação de seu quadro.


ENTENDA

Quem tem direito?
O seguro é destinado a atletas amadores, do sexo masculino ou feminino, vinculados a uma equipe amadora, desde que estejam em ligas filiadas à Federação Mineira de Futebol (FMF) e em campeonatos organizados por ela. Competições, como a Copa Itatiaia e o Torneio Corujão, não entram no benefício porque a FMF não os organiza – apenas dá apoio.

Como registrar a lesão?
Para o jogador lesionado ter direito ao seguro, o lance deve ocorrer dentro do campo de jogo, e o árbitro precisa relatar o acontecido na súmula da partida. Lesões leves, do tipo torção ou estiramento, não são passíveis de indenização. O jogador machucado precisa entrar em contato com a FMF para registrar o sinistro junto à seguradora.

Quais são os valores do benefício?
O reembolso de despesas médicas e odontológicas é de R$ 2.000. Em caso de invalidez temporária, o benefício pode chegar a R$ 20 mil. Esse também é o teto para o caso de invalidez permanente ou morte de um jogador em campo. A seguradora contratada pela federação é a Chubb do Brasil Cia. de Seguros. Os custos para a entidade são de aproximadamente R$ 3.000 por mês.

Algum jogador já foi beneficiado?
Ainda não. Mas, na semana passada, a FMF recebeu a consulta de um garoto do time sub-15 do Vespasiano, que quebrou o fêmur em um jogo de base e queria saber se teria direito à indenização. Ele levou radiografia e atestado médico para provar o ocorrido. O árbitro do jogo, no entanto, não relatou o que aconteceu na súmula e precisará retificar o documento, que será juntado ao processo para ser encaminhado à seguradora. O garoto tinha plano de saúde e, embora não trabalhasse, pode ter direito, pelo menos, ao reembolso de despesas médicas.


NÚMEROS

30 mil jogadores de Futebol Amador estão registrados em todo o Estado

123 ligas são filiadas à Federação Mineira de Futebol

8 competições são organizadas por ano pela FMF na região metropolitana

 

Sugestão

Para que um jogador, em caso de lesão, tenha o direito ao prêmio do seguro, é importante que as ligas municipais estejam em dia com sua documentação na Federação Mineira de Futebol (FMF). A contratação do seguro pela FMF foi uma sugestão de Leandro Costa, presidente da liga municipal de Nova Lima.

“O seguro do atleta amador trará mais organização e segurança aos campeonatos, pois sabemos que a maioria dos clubes, às vezes, não tem condições de amparar os atletas em casos de lesões, e o seguro fará com que todas as ligas e seus clubes mantenham-se organizados e lincados ao sistema de gerenciamento de competições da FMF”, ressaltou Costa.

 

Padrão Fifa

Se um jogador se machuca atuando por uma seleção nacional em competições da Fifa, a entidade paga os vencimentos do atleta após 28 dias longe dos gramados. O programa de proteção aos clubes permite o pagamento de salários de até 143 mil (R$ 524 mil) por semana. Neste ano, a Fifa pagou os vencimentos do lateral Seamus Coleman, do Everton-ING, que quebrou a perna em jogo da Irlanda contra o País de Gales, nas Eliminatórias para a Copa. A lesão de Fernando Prass na preparação para os Jogos do Rio, em 2016, também rendeu indenização de pouco mais de R$ 520 mil ao Palmeiras. Até o fim de 2018, a Fifa pretende estender o benefício para equipes femininas.


PROFISSIONAL

Seguro feito oito meses antes resguardou vítimas da Chape

Do amador para o profissional, as coisas mudam muito. Mesmo assim, a contratação de seguro de vida e acidentes no trabalho é algo bem recente no futebol brasileiro. Até março do ano passado, não existiam no país empresas interessadas em oferecer seguros de vida específico para jogadores que cobrissem os altos salários em casos de infelicidades ou fatalidades no trabalho.

Mas a CBF, em parceria com o Itaú Seguros, anunciou que todos os atletas profissionais do país com contratos ativos no sistema da confederação passaram a ter direito a coberturas de seguro de vida e de auxílio-funeral custeados pela entidade, beneficiando, especialmente, jogadores de divisões inferiores e fora da elite nacional.

A apólice de seguro fornece cobertura por morte, invalidez permanente total ou parcial por acidente e invalidez funcional permanente ou total por doença a todos os atletas que estejam registrados no Boletim Informativo Diário (BID) da CBF. As coberturas são calculadas conforme o salário do atleta, multiplicando o valor em 12 vezes. O benefício foi estendido a treinadores em abril deste ano.

Por mera sorte, a contratação do seguro pela CBF aconteceu justamente no ano do trágico acidente da Chapecoense, em novembro do ano passado. Os familiares dos jogadores mortos receberam indenização pelas perdas – com exceção do técnico Caio Júnior, já que, até então, o seguro não cobria a função de técnico futebol (na época, não se exigia o registro de contrato de trabalho de treinadores na CBF).

Legislação. 

O pagamento de seguro de vida é uma obrigação dos clubes, conforme determina o artigo 45 da Lei Pelé. A confederação brasileira, no entanto, entendeu que poderia assumir o custo. Os clubes fazem seguro porque são obrigado a isso, mas não é o que abrange toda a cobertura. Além disso, quando os jogadores se machucam, é de praxe manter o salário do atleta no período de recuperação.